• Carregando...
Torre de controle autoriza pouso no Aeroporto Afonso Pena: incidentes com pássaros, balões e laser ameaçam segurança dos voos | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Torre de controle autoriza pouso no Aeroporto Afonso Pena: incidentes com pássaros, balões e laser ameaçam segurança dos voos| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Estatísticas

Com baixo índice de acidentes aéreos, Brasil é exemplo de segurança

Apesar do crescimento nos registros de incidentes, a atual situação de segurança de voo no Brasil é boa, defendem os especialistas. Segundo os padrões internacionais, o ideal é que os países tenham um índice igual ou menor que 0,3 para cada 1 milhão de decolagens, um coeficiente que indica uma aviação ultrassegura.

"No Brasil, estamos entre os mais seguros, com índice de 0,5 acidentes por milhão de decolagens. Em geral, temos índices melhores que os demais países da América Latina, lideramos na América do Sul e não ficamos muito atrás de EUA e Europa, os destaques deste ranking", comenta o professor da PUCRS Éder Henriqson.

A coordenadora do curso de Ciências Aeronáuticas da Unopar, Vivien Corazza da Costa, comenta que, no Brasil, as companhias são bem estruturadas e há um esforço, principalmente na última década, para estruturar pesquisas e setores da aviação que pensem na segurança de voo.

"Hoje, seguimos um padrão internacional no sistema de gerenciamento de riscos e a Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] vem cobrando a excelência nesse sentido, trazendo uma legislação incisiva, promovendo várias regulamentações e controlando os riscos." (RB)

Alto risco

Segundo os especialistas, os momentos de aproximação para pouso e preparação para decolagem são os mais críticos para a ocorrência de incidentes com aves, lasers e balões. "Nesses momentos, o piloto opera o avião com uma velocidade menor e está mais perto do chão. Em grandes alturas, a velocidade é bem maior, mas é muito difícil que um balão ou uma ave estejam transitando naquele espaço", explica o pesquisador da área de segurança de voo Éder Henriqson.

Pode não parecer, mas um pássaro, um balão de ar quente ou aquela "brincadeira" de mirar instrumentos com raio laser ameaçam a segurança de uma aeronave. Segundo dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), o número de choques de aviões com animais, por exemplo, quase quadruplicou entre 2007 e 2011. Passou de 404 casos para 1.458 no ano passado. Os incidentes envolvem principalmente aves, mas também reptéis e mamíferos, e ocorrem tanto no ar quanto em solo, nos procedimentos de pouso e decolagem.

Para Éder Henriqson, professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e pesquisador da área de segurança de voo, esses casos são um risco à estabilidade dos voos e, especialmente nas colisões com pássaros, à segurança dos pilotos. "O avião voa a cerca de 20 quilômetros por minuto. Uma ave que pesa cerca de um quilo gera um impacto de toneladas na aeronave no choque", explica. Dependendo da força do impacto, a ave pode arrebentar o vidro da cabine e ferir os pilotos.

Segundo ele, o número de casos que evoluem para acidentes mais sérios é pequeno, mas, sem o controle adequado, podem causar dano mais graves. "É perigoso porque uma ocorrência como essa pode gerar uma situação adversa, como uma falha ou um ‘fogo de motor’. Também é preciso pensar que isso tem um custo para as empresas, principalmente para a reposição de peças danificadas nas colisões. Um estudo nos EUA mostrou que as empresas gastam cerca de 10 milhões de dólares todos os anos com isso", conta.

Há ainda o risco de explosão do motor e de seus componentes quando as aves são sugadas pela turbina do avião. "Com o motor parado, é preciso um pouso forçado e isso geralmente ocorre em uma área pouco apropriada para se evitar uma tragédia", diz a coordenadora do curso de Ciências Aeronáuticas da Universidade Norte do Paraná (Unopar), Vivien da Costa.

Luz inconveniente

Além dos incidentes com animais, a preocupação do setor aéreo com lasers e balões perto dos aeroportos é cada vez maior. No primeiro caso, por exemplo, o número de registros no país saltou de 332 no ano passado para 1.134 até 20 de agosto deste ano. Os lasers são prejudiciais porque causam desconforto aos olhos do piloto e, dependendo do ângulo de incidência, causam um ofuscamento da luz na cabine, dificultando a visualização dos equipamentos durante o voo. "No pouso noturno, isso é ainda mais grave porque essa intensidade de luz muito forte faz com que a precisão visual diminua e a noção de profundidade fique prejudicada", afirma Vivien.

Já os balões de ar quente representam um perigo tanto quanto as aves. Henriqson diz que esse é um problema típico do Brasil. "Apesar de ser crime, é comum ver balões enormes e com sistemas de propulsão muito pesados. À noite, é comum se perderem na escuridão e o piloto só conseguir visualizá-los quando estão muito próximos da aeronave", diz.

Soluções para evitar acidentes exigem ação integrada

Para o professor do curso de Ciências Aeronáuticas da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Rogério Bonatto, o esforço para a redução do número de incidentes passa por uma associação do trabalho dos órgãos de regulação da aviação com o de prefeituras e governos estaduais. Segundo Éder Henriqson, especialista em segurança aérea, o governo acerta ao estipular medidas de contenção dos problemas, como leis que proíbem focos de atividades que podem atrair pássaros no entorno de aeroportos, caso de lixões, matadouros, curtumes e fazendas de produção agrícola ou pecuária.

"No Rio de Janeiro, por exemplo, havia o lixão Jar­dim Gramacho, que ficava bem próximo do aeroporto [Tom Jobim, o Galeão]. Como as aves, principalmente urubus, eram atraídos pelo lixo, acabavam voando a baixa altura nas imediações da área de pousos e decolagens e os problemas de colisão eram frequentes. Ao fechar o lixão, os casos diminuíram consideravelmente."

Falcões

Outras medidas, das mais simples às mais complexas, também vêm sendo usadas, como equipamentos na cabeceira das pistas que emitem som de predadores para afugentar os animais e de sistemas de gases que incomodam os olhos dos pássaros, além de cães adestrados e falcões treinados para caçar os pássaros e não prejudicar o fluxo de voos.

Para Henriqson, a prevenção também passa pela qualificação dos processos de gestão de risco nas empresas e aeroportos e o investimento no preparo dos pilotos e dos comissários de bordo para lidar com essas situações. Hoje, são feitos treinamentos anuais com as companhias aéreas para alertar sobre os problemas e, em alguns casos, oferecidas aulas em simuladores para situações de emergência.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]