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Questão muito pertinente e bastante desafiadora vinda de uma professora de Português. A escola deve priorizar a leitura ou a escrita? O aluno que concluiu o ensino médio deve ser bom na escrita ou bom na leitura?

Nesta coluna, procuro marcar uma posição geral. Numa próxima, tentarei fundamentar com autores da área.

Creio ser contraproducente operarmos com base em uma simples exclusão: ou leitura ou escrita e ponto final. É verdade que, se somarmos quantas páginas alguns de nós lemos por dia (por mês, durante a vida...), não é difícil concluir que somos mais leitores que escritores. Mas essa medida empírica, posto que correta quanto à quantificação de nossas leituras, traduz um número bastante óbvio: qualquer um lê mais do que escreve.

O problema não está em priorizar uma das duas atividades, mas fazê-las acontecer de verdade no espaço escolar. Mas isso raramente acontece. Vou dar um exemplo.

É bem comum a leitura de um editorial acabar num resumo. Está errado ensinar resumo? É claro que não. Porém, o editorial é um gênero discursivo que difere bastante de uma notícia, de uma resenha, de uma crônica. É a visão oficial do jornal sobre determinados assuntos: aborto, eutanásia, financiamento público de campanha, movimentos sociais. É escrito numa linguagem bem padronizada – basta lermos alguns dos principais jornais do país para comprovar. Tudo isso (ou parte disso) se perde quando o texto entra na sala de aula. Todo o contexto concreto em que um editorial faz sentido, que se realiza como gênero de verdade, é retirado e o aluno tem acesso apenas a uma forma.

Eis um dos principais equívocos da escola: operar com a repetição de modelos destituídos da vida real, da tensão dialógica que permeia todas as nossas atividades linguageiras.

Treina-se muito para uma modalidade olímpica inexistente.

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