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Um dos filmes preferidos de Madame Champagnat é O Incrível Exército de Brancaleone, de Mario Monicelli, clássico do cinema italiano em que o atrapalhado cavaleiro Brancaleone comanda, na Idade Média, um exército de mortos de fome. Inspirada em Brancaleone, o sonho de juventude da Madame era convocar as amigas do Colégio Sion para invadir o Restaurante Palácio – então um exclusivo reduto masculino –, tendo à frente o frei Paulo César Botas, de violão em punho, a cantar as canções de Geraldo Vandré.

Agora, jantando com os netos no restaurante Madero, Madame Champagnat convoca pelo iPhone o seu incrível exército de paneleiras: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer: dia 15 tem panelaço!”

Desde o ensaio geral de domingo passado, quando afinaram seus instrumentos durante o discurso de Dilma Rousseff, as paneleiras de Madame Champagnat estão de prontidão. Distribuídas em falanges nos 40 andares de um dos mais altos edifícios do Bigorrilho, elas estão armadas até os dentes com suas chiques Creusets – as francesinhas temperadas nos levantes populares de Paris. Da cobertura ao 20.º andar, as falangistas das caçarolas; do 19.º andar ao 10.º, as falangistas das chaleiras, canecas e grelhas; do 9.º andar ao 2.º, as frigideiras e paelleras; no 1.º andar, as panelas de pressão popular; e, na área de serviço, as marmitas da classe trabalhadora.

“Quem sujou deve limpar, ensinava minha mãe. A Dilma que comece a limpar o que o Lula começou a sujar!”

“Domingo marcharemos unidas, destras e canhotas, pois onde está escrito na Constituição que a mãe de um piá de prédio não tem direito a marchar contra a corrupção no governo? Temos tanto direito de protestar quanto a senadora Gleisi Hoffmann, por sinal nossa companheira por parte da classe média alta.” Desde maio de 1968, quando estudou na França com uma bolsa de estudos da Aliança Francesa, Madame Champagnat conhece bem o ronco das ruas e a sinfonia das Creusets na Praça da Bastilha: “Nunca fui, não sou e nunca serei uma excluída da democracia, como querem os governistas. Em dezembro do mesmo ano, quando saiu o AI-5, escondi muita gente de esquerda aqui na minha cobertura e na cantina da faculdade cheguei a fazer poesias com Luiz Manfredini, o último comunista do Paraná”.

Madame Champagnat é contra o impeachment: “Quando mocinha, conheci o Palácio da Alvorada pelas mãos do nosso Amaury Silva, ex-ministro do Trabalho de Jango Goulart. Quando me deparei com todos aqueles vidros do Oscar Niemeyer, voltei para Curitiba penalizada com a dona Maria Thereza Goulart. A primeira-dama vai limpar todas aquelas vidraças? – perguntei ao meu pai. Por isso sou contra defenestrar a presidente. Quem sujou deve limpar, ensinava minha mãe. A Dilma que comece a limpar o que o Lula começou a sujar!”

Feita sua parte, na semana que vem Madame Champagnat desembarca em Milão. Não perde de jeito nenhum a temporada de aspargos brancos no norte da Itália.

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