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Autocrítica era uma palavra maldita entre os cardeais petistas. Não mais, pelo que se julga da surpreendente humildade com que Dilma Rousseff reconheceu a necessidade de bater três vezes no peito (“Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa”) e confessar os erros cometidos do ponto de vista ético e do uso de verbas públicas: “Eu acredito que o PT precisa passar por uma grande transformação. Primeiro, uma grande transformação em que se reconheça todos os erros que cometeu do ponto de vista da questão ética e da condução de todos os processos de uso de verbas públicas”, disse a presidente afastada.

Se persistir em seus momentos de autocrítica partidária – mesmo sem admitir os próprios fracassos -, Dilma Rousseff também deve reconhecer que um dos maiores erros do reinado petista foi deixar de investir pesado na infraestrutura. Principalmente na infraestrutura do sistema penitenciário de Curitiba, onde as prisões não foram planejadas e nem adaptadas ao alto padrão de seus novos usuários.

Na medida em que as máscaras vão caindo e a Justiça se aproxima dos cardeais de todos os partidos, o que mais se lamenta nos mais diversos corredores palacianos é: “Por que diabos deixamos de botar dinheiro na infraestrutura penitenciária?”.

“Eu queria que Curitiba fosse mais que a masmorra do Brasil”, disse o candidato Rafael Greca, ao comentar o clima sombrio dessas eleições, quando a quase totalidade dos eleitores gostaria de mandar os políticos para uma temporada de autocrítica na nossa Bastilha de Santa Cândida.

Bem diferente do que se imagina, o mais sombrio dos símbolos da Revolução Francesa tinha tudo o que os bem-nascidos hóspedes de Sérgio Moro gostariam de usufruir nas masmorras da Polícia Federal. A tão temida Bastilha era na verdade um castelo bem modesto, com 65 metros de extensão por 27 de largura, muito bem equipado para receber os donos do poder.

Conta o historiador Robert Massie: “A Bastilha foi a mais luxuosa prisão que já existiu. Ali, os encarcerados não enfrentavam desonras. Com raras exceções, seus ocupantes eram aristocratas ou cavalheiros recebidos ou tratados de acordo com suas posições. O rei poderia ordenar que nobres problemáticos fossem levados para lá até eles mudarem de opinião. Pais podiam mandar seus filhos rebeldes à Bastilha por vários meses até eles se acalmarem. Os quartos eram mobiliados, aquecidos e iluminados de acordo com as condições e o gosto dos prisioneiros, que podiam ter um servo e receber visitantes para jantares. Havia competição pelos quartos mais agradáveis: aqueles no topo das torres eram os menos desejáveis, pois eram os mais frios no inverno e mais quentes no verão. Nada era exigido dos presos, que podiam tocar violão, ler poesia, exercitar-se no jardim e planejar o cardápio para seus convidados”.

O mais misterioso encarcerado da Bastilha foi o Homem da Máscara de Ferro, cuja identidade o escritor Alexandre Dumas revelou como irmão gêmeo de Luís XIV. Como a maioria das histórias sobre a Bastilha, grande parte desse romance de capa e espada não passava de imaginação: a famosa máscara de ferro não era de ferro. Era de veludo negro, embora até mesmo o diretor da Bastilha não estivesse sido autorizado a erguê-la. O prisioneiro morreu, ainda desconhecido, em 1703.

Se arrependimento matasse, no Brasil nem mesmo a guilhotina seria necessária. Na medida em que as máscaras vão caindo e a Justiça se aproxima dos cardeais de todos os partidos (só em 2010 a Odebrecht botou R$ 23 milhões em recursos não contabilizados na campanha de José Serra), o que mais se lamenta nos mais diversos corredores palacianos é: “Por que diabos deixamos de botar dinheiro na infraestrutura penitenciária?”.

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