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Quando o médico alemão Robert Avé-Lallemant passou por Curitiba em suas andanças pelo Sul do Brasil, em setembro de 1858, “por um feliz acaso” chegou justamente a tempo de participar do baile do Dia da Independência; da festa religiosa e procissão em louvor à padroeira; e, de camarote, por pouco não assistiu ao eclipse solar de 7 de setembro, pois no momento mais esperado o céu se cobriu de nuvens.

No salão do Liceu abrilhantado por damas nas mais elegantes toilettes, quase todas senhoras casadas, depois da meia-noite foi servida uma bela ceia e o baile seguiu até as 4 horas da madrugada, com a presença do presidente Liberato de Matos, baiano que muito contribuiu para a animação dos festejos.

Naquela Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais viviam 5 mil almas desbravadoras em meio a “toda espécie de desmazelos, cantos sujos e pragas desordenadas”. Com a Estrada da Graciosa em construção e recentemente desmembrada de São Paulo, as ruas não eram calçadas, mas o presidente da província, com seus funcionários, já contava com um quartel-general e um palácio: “Naturalmente é um simples rés-do-chão e tem aparência despretensiosa. Modesto, mas é bonito e asseado”.

Manteiga da Inglaterra, queijos da Holanda, carestia, falsidade, embusteiros e arrogantes são coisas que nunca deixariam de faltar

Notável observador, Avé-Lallemant passou por rocambolescos episódios no percurso entre Joinville e Curitiba, subindo a Serra Dona Francisca. Alguns deles bem estranhos para um alemão: “Em Curitiba, capital de uma província célebre pela sua criação de gado, sempre encontrei manteiga velha e mesmo rançosa, aliás recebida da Inglaterra. O queijo que vi era da Holanda. O leite às vezes é um artigo caro; às vezes não se encontram ovos e mesmo a carne é cara. Além disso, circula muito dinheiro falso e é preciso que em toda a parte a gente se defenda contra embustes”.

Robert Avé-Lallemant ficou aborrecido principalmente com a falta de seriedade de algumas pessoas, em algumas firmas, em certas transações com pessoas gradas, naturalmente: “Vivem muito bem, são arrogantes e pensam que com a insinceridade ainda viverão melhor. Em tal situação, uma certa arrogância afeta todas as condições de vida. Notadamente me parece muito considerável a flutuação de certos partidos políticos. Com a separação da Província do Paraná, não ficou com a velha província-mãe o pecado original de São Paulo, cujo desenfreamento há anos o arrastou a uma insurreição entre personalidades consideradas. Ela continua fermentando no Paraná. A ligeireza com que os curitibanos correm pelo campo em seus corcéis pode-se aplicar frequentemente ao seu procedimento político”.

Crítico e polêmico em suas observações, mesmo assim o viajante via um belo futuro para Curitiba. Além de médico, parecia um futurólogo. Manteiga da Inglaterra, queijos da Holanda, carestia, falsidade, embusteiros e arrogantes, ontem como hoje são coisas que nunca deixariam de faltar na capital do Paraná. Principalmente políticos volúveis e ligeiros.

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