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Estava o Todo-Poderoso acompanhando o desenrolar da Operação Lava Jato quando São Jerônimo anunciou: “Senhor, é o doutor Bento Munhoz da Rocha Netto!” “O quê? A CCPP de novo? Manda entrar!”

Para quem chegou agora, a CCPP (Comissão Celeste Pró-Paraná) é uma ONG (honesta e não viciada nas tetas do governo) criada para defender os interesses paranaenses nas altíssimas esferas do poder celestial, presidida pelo ex-governador Bento Munhoz da Rocha Netto.

São Jerônimo, padroeiro das secretárias, conduziu o presidente da CCPP à presença do Todo-Poderoso: “No que lhes posso ser útil, meus filhos?” O publicitário Sérgio Mercer, diretor de Criação da CCPP, se adiantou: “Senhor, estamos precisando de inspiração divina para redesenhar o Brasão de Armas do Estado do Paraná, de autoria de Alfredo Andersen, conforme desenho que se encontra anexado à Lei 904 de 21 de março de 1910”.

“Só mesmo uma força suprema para conter os ânimos fratricidas no Paraná”

“Comunicação visual não seria um caso para Santa Luzia, a protetora dos olhos?”, sugeriu São Jerônimo. O brilhante ex-deputado Norton Macedo discursou: “Só mesmo uma força suprema para conter os ânimos fratricidas no Paraná, sempre desmerecido na distribuição de recursos e que, nos últimos anos, além de excluído das concessões de rodovias e ferrovias prometidas pelo governo federal, também ficou sem o metrô na capital”.

O Todo-Poderoso balançou a cabeça, em sinal de quem largou suas poucas esperanças na porta do inferno: “No momento, se me pedem soluções para o Brasil, não tenho nada a declarar. Em Brasília, quem tenta separar o joio do trigo fica sem os dedos. A situação está fugindo da minha alçada, grande parte já compete à jurisdição do Inferno!”

“Para resolver essa injustiça que nos parece eterna – insistiu o secretário-geral da CCPP, Belmiro Castor Valverde –, precisamos de uma graça divina para unir os paranaenses.”

“É a maldição do ceifador, Senhor!” – bradou o pintor Miguel Bakun, ele próprio uma das vítimas da invídia. “Queremos retirar aquele personagem apocalíptico do brasão do Paraná!”, reforçou o jornalista Francisco Cunha Pereira Filho: “Infelizmente, Senhor, o estado ainda não saiu do Ciclo do Caranguejo: quando um quer sair do balaio, os outros se unem para puxar o mais ousado pra baixo”.

O Todo-Poderoso desceu do trono divino e pousou seu braço direito sobre os ombros do escritor Wilson Bueno: “A inveja é invenção do demônio! Mesmo assim, de que forma a Graça Divina poderia iluminar os fratricidas?” “Precisamos extirpar o ceifador e a ave de rapina do símbolo do Paraná”, disse Bueno: “Urge redesenhar algo que nos inspire paz no campo, tolerância nas cidades e, sem ressentimentos, justiça acima de tudo”.

O Todo-Poderoso foi até a uma janela aberta com vista para os Campos Gerais, olhou demoradamente para aquele inigualável céu azul de outono e voltou com o sorriso benfazejo: “No lugar da águia, por que não uma corruíra? Não necessariamente a gralha-azul, pode ser uma corruíra nanica do jardim do Dalton Trevisan”.

“E o ceifador? O que desenhamos no lugar dele, Senhor? Um semeador de soja? Ou a Rainha do Pêssego de Araucária?”

“Meus filhos, deixem o ceifador do jeito que está. Nos dias de hoje, serve de alerta. Inspira vigilância e cautela. Só mudem a feição, desenhem o ceifador com a cara do Sergio Moro porque muitas cabeças coroadas ainda vão rolar!”

O Criador deu por encerrada a audiência e foi dar um abraço no músico Ivan Graciano, o filho de Belarmino e Gabriela que acabara de chegar.

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