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Na maior invasão de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, foram os sírios os principais acolhidos nas modernas Mesopotâmias. Antes dos sírios, eram assírios os resgatados do fundo dos rios Tigre e Eufrates.

Em 1932, um clamoroso debate acordou os brasileiros, quando chegou ao conhecimento dos donos do poder e dos donos das terras a informação de que o governo de Getúlio Vargas tinha aprovado o assentamento de centenas de famílias assírias no Norte do Paraná. Filhos de uma nação sem Estado, os assírios somavam 20 mil refugiados, protegidos da Grã-Bretanha durante a Primeira Guerra Mundial.

A xenofobia se baseava em teorias científicas e teses raciais para branquear a pele morena da nação

A diáspora dos assírios serviu como exemplo da tão cantada aquarela racial do Brasil. Foi quando a xenofobia mostrou a sua cara no Norte do Paraná. No precioso livro Crônicas da Fronteira, o historiador Rogério Ivano recuperou uma “vergonha” que caiu no esquecimento desta terra de todas as gentes: “A possibilidade da imigração assíria acontece justamente quando eram crescentes o nativismo e a xenofobia de proprietários de terras, da classe média urbana e de muitos administradores e dirigentes políticos. Sentimentos que se firmavam a partir das novas perspectivas sobre raça e nacionalidade que surgiam no país após os anos 1930. Antes dessa década, todo imigrante era branco, desde que não fosse negro ou asiático. A isso correspondia a ideia de que, através da miscigenação, a negritude da sociedade seria paulatinamente neutralizada, como queriam as teorias científicas e as teses raciais”.

No episódio vergonhoso, a xenofobia se baseava em teorias científicas e teses raciais para branquear a pele morena da nação.

Depois da Revolução de 30, nem todo imigrante era “aceitável” na composição da epiderme nacional. Eugenia não era só um conceito acadêmico muito em moda nas cervejarias de Munique. Nos trópicos, era o ideal de “branqueamento”, auxiliando na formação de um povo “sadio, educado, homogêneo e etnicamente integrado”.

Quando a notícia da imigração assíria ganhou as páginas dos jornais, a Liga das Nações e a Inglaterra, fiadores dos deserdados, tornaram-se alvo de artigos eivados de racismo. Os guardiões do ovo da serpente viam na ajuda aos refugiados uma forma de degenerar a raça brasileira. Os obtusos, diante da dificuldade para definir os refugiados como assírios (cristãos) ou iraquianos (islamitas), optaram pelo mais incendiário: “Muçulmanos fanáticos”.

Diante da reação contrária, os planos de ajuda humanitária começaram a ruir. A pressão política, a contrariedade da classe dominante e as reportagens negativas finalmente levaram o governo a repensar sua decisão de abrigar os assírios no Paraná. Em junho de 1934, Getúlio Vargas proibiu a entrada dos assírios no Brasil.

Os apóstolos da eugenia comemoraram: enfim, o Norte do Paraná se viu livre daqueles “muçulmanos fanáticos”.

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