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 | Pedro Serapio/Gazeta do Povo
| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

Ao ser acusado pelos “meninos de Curitiba” de “comandante máximo” da corrupção e presidente da “propinocracia”, Luiz Inácio Lula da Silva convocou a imprensa para fazer um discurso de uma hora e oito minutos. A certa altura da falação, Lula saiu em defesa da classe política com a seguinte frase: “Eu, de vez em quando, falo que as pessoas achincalham muito a política. Mas a profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para a rua encarar o povo, e pedir voto. O concursado não. Se forma na universidade, faz um concurso e está com emprego garantido o resto da vida. O político não. Ele é chamado de ladrão, é chamado de filho da mãe, é chamado de filho do pai, é chamado de tudo, mas ele tá lá, encarando, pedindo outra vez o seu emprego”.

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Com o faro fino em relação à política paranaense, Jamil Snege só escorregou quanto ao futuro político de Rafael Greca

O poeta, escritor e publicitário Jamil Snege, no seu mais lembrado poema – Senhor –, pedia ao Todo-Poderoso especial indulgência ao chegar a hora de partir:

“Não ouças qualquer / juízo que eu faça sobre / meu semelhante. / Amordaça-me. / Corta minha língua. / A pessoa que acusei / de furtar minhas luvas / não tinha mãos”

Pouco antes de nos deixar esses versos, sem nenhuma mordaça Jamil escreveu irreverentes versos para o músico e compositor Gerson Bientinez, um rap endereçado àqueles que hoje acusamos de nos furtar as luvas, os dedos e os anéis. A parceria entre o músico e o poeta nasceu em 1991, quando eram vizinhos na Rua Desembargador Isaías Bevilaqua. Gerson morava no n.º 59, ao lado da Beta Publicidade, do próprio Jamil. Povo bobo ficou todo esse tempo na gaveta por causa de certas pendengas jurídicas já resolvidas e agora nas mãos generosas do filho Daniel Snege.

POVO BOBO!

Porque o povo é bobo / você mostra a cara lambida, / o dente de ouro, a promessa / embutida no sorriso fingido / – ganha estourado.

Porque o povo é bobo / você fala pão, escola, saúde / e vai pra Suíça, rouba, / falsifica – e tá eleito de novo.

Porque o povo é bobo / você compra terno de casimira, / perfume francês, ouro, dólar, / apartamento em Miami – e pá / só dá você na urna.

Porque o povo é bobo / você afaga a chaga dele, / abraça o povo velho no comício, / ergue no colo o povo novo, / beija o povo bobo – o mais votado em todo estado.

Porque o povo é bobo / você faz conchavo, trai o partido, / se compõe com o inimigo, livra com o crápula – e enrola o povo que de bobo ainda vota.

Mas um dia o povo bobo, / olho torto, / caco cheio, aperreado, / despejado, desnutrido, escabreado, / pega e invoca com tua cara lambida, / pega e arranca teu dente de ouro, / pega e enfia uma faca na barriga / – eta povão besta – / lá vai você pra dentro da URNA.

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Além de poeta e escritor, Jamil Snege foi um dos mais requisitados publicitários de sua época. Com o faro fino em relação à política paranaense, numa longa entrevista ao jornalista Aroldo Murá ele só escorregou quanto ao futuro político de Rafael Greca, então um expedito vereador. Segundo Jamil, Rafael Valdomiro Greca de Macedo nunca chegaria a prefeito por ter nascido num berço esplêndido de tradicional família.

Não seria difícil dizer o que hoje Jamil Snege escreveria acerca de Lula e Greca, dois especialistas em regurgitar sandices. Quanto aos cinco sentidos de Rafael, Jamil nunca iria imaginar que o ex-prefeito – com todos os sintomas de quem poderia sucumbir pela boca – fosse se deixar trair pelo nariz.

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