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Cada época produz seus próprios monstros. Eles são projeções personalizadas dos medos, muitas vezes inconscientes, das sociedades humanas. Frankenstein evoca o temor do século 19 de que a ciência, ao manipular a vida, criasse aberrações. Os japoneses do pós-guerra, ainda traumatizados pelos efeitos das explosões atômicas de Hiroshima e Nagasaki, inventaram o Godzilla – um animal que se torna gigantesco após ser submetido à radiação nuclear. Vampiros e lobisomens são clássicos. Atravessam os séculos no imaginário popular. Sempre haverá pessoas sedutoras que buscam sugar a força vital de suas vítimas. E o homem, ainda que a civilização avance, guarda dentro de si sua natureza bestial, esperando o momento de ser solta.

O monstro da moda hoje é o zumbi – seja em séries televisivas, filmes ou mesmo em divertidas caminhadas como a Zombie Walk do carnaval curitibano. Mas o que estaria por trás desse fascínio? Enfim, os mortos-vivos ajudam a promover a catarse de qual medo?

Na ficção, os zumbis costumam ser apresentados como humanos infectados por algum agente patogênico que se espalha rapidamente pelo planeta. Num mundo cada vez mais globalizado e hipocondríaco, o risco de uma pandemia global é suficiente para aterrorizar. Há poucos anos, por exemplo, a epidemia de gripe suína quase produziu uma histeria coletiva.

A estética zumbi – corpos dilacerados, ensanguentados, deformados – também parece projetar o medo da violência. Agressões físicas, assassinatos e acidentes de trânsito são tristes realidades do cotidiano, cujas consequências estão estampadas na cara dos mortos-vivos. Assim, eles alertam sobre a fragilidade do homem. É possível ainda pensar que os zumbis sejam sintoma da falta de fé e esperança no que vem depois da morte. Afinal, se erguem dos túmulos para uma semivida inconsciente, pior do que a anterior.

Mas talvez os zumbis sejam mesmo símbolo do mal-estar da sociedade contemporânea. Eles são criaturas vivas, mas com morte cerebral e sem consciência. E alimentam-se de humanos saudáveis. Há um paralelo com o mundo atual, que costuma colocar uns contra os outros numa lógica feroz de competição pela sobrevivência, ao qual muitos aderem sem refletir. Isso torna a todos um pouco monstruosos e põe em risco a própria ideia de civilização e humanidade – tal qual na distopia de uma Terra tomada pelos mortos-vivos.

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