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Os 50 anos do golpe de 1964, completados na semana passada, permitiram uma reflexão sobre os acontecimentos que levaram o Brasil a passar por 21 anos de ditadura. Embora o país viva há quase três décadas sob uma democracia – com todas as suas imperfeições, é claro –, algumas sementes do autoritarismo continuam espalhadas por aí. Geralmente, o solo em que estão lhes é hostil. Mas elas podem germinar dependendo das condições. E o pior é que essa semente existe dentro de cada um de nós. E atende pelo nome de intolerância.

Em 1964, havia radicalismo no ar. À esquerda e à direita, todos desconfiavam de todos e os espaços políticos para o diálogo e para a negociação foram se fechando. O golpe foi uma consequência disso. E a ditadura se estabeleceu porque, além de ser um desejo dos militares e de parte dos políticos, havia uma base social que a sustentava.

Atualmente, o clima é menos beligerante na esfera pública, embora nem sempre os políticos contribuam para a cordialidade – especialmente durante as campanhas eleitorais. O problema é se a semente da intolerância crescer na população – o que criaria uma base social para, num primeiro momento, tentar interditar o debate público; e, numa segunda etapa, buscar a imposição de uma visão de mundo.

Quem expõe opiniões na internet sabe como tem sido difícil estabelecer um diálogo. Logicamente, há quem respeite os argumentos alheios, mesmo discordando deles. Mas existe um grupo – talvez minoritário – que insulta e desqualifica aqueles com os quais tem divergências. Por ora, o radicalismo é um fenômeno essencialmente virtual. Mas pode saltar para o mundo real – em episódios esporádicos, isso já ocorre. É preciso parar de regar essa semente.

Erro do Ipea

Na semana passada, escrevi meu artigo com base na pesquisa do Ipea que indicava que 65% dos brasileiros concordam parcial ou totalmente com a afirmação de que mulheres vestidas com roupas sensuais merecem ser estupradas. Dias depois, o Ipea reconheceu que a informação estava errada. Na verdade, são 26% que pensam dessa maneira. Embora menos grave, os dados não invalidam o argumento de meu texto: há uma parcela expressiva da sociedade que transfere sua responsabilidade para o outro (achando que as mulheres são culpadas pelos estupros) e que não aceita a liberdade alheia (no caso, vestir-se como bem entender). Quem quiser ler o artigo da última quarta-feira pode acessá-lo no link http://bit.ly/1e8xfvj.

Férias

Entro em férias e volto a escrever neste espaço daqui a um mês.

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