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A despeito dos justos questionamentos sobre os gastos do Brasil para promover a Copa, o Mundial não é uma oportunidade de toda perdida. Pode significar, no campo do simbolismo, um poderoso aliado contra a discriminação racial e étnica – ao menos para aqueles que tenham olhos para ver um pouco mais do que partidas de futebol ou desperdício de dinheiro para erguer estádios. E esse simbolismo não estará em qualquer mensagem oficial da Fifa. Mas sim nos gramados.

Embora seja um campeonato entre países, a Copa representa um forte golpe no nacionalismo extremado. As vitórias de cada seleção, no fundo, serão o triunfo de mais de uma nação. Poucos times – apenas 5 dos 32 – serão 100% nacionais. Todos os demais vão ter ao menos um jogador naturalizado. Aliás, dos 960 atletas pré-selecionados, 106 (11%) não nasceram no país pelo qual disputarão a Copa.

Pode-se questionar os motivos por que alguém escolhe jogar por um selecionado estrangeiro: gratidão pela terra que o acolheu, dinheiro, maior facilidade de disputar uma Copa por uma seleção menos tradicional. Mas a composição multiétnica dos times é um exemplo de como a xenofobia, tão comum em diversas partes do planeta, não tem espaço no mundo da razão. Um técnico de futebol procura levar para o Mundial os melhores jogadores de que dispõe – sejam eles "nativos" ou "forasteiros". Uma seleção é uma escolha racional para atingir um objetivo: vencer. O que vale não é a origem do atleta, mas seu mérito expresso no desempenho em campo.

É isso que fará, por exemplo, que pelos gramados do Brasil sejam vistos negros disputando partidas por seleções como as da Alemanha e Itália. Não é racional, enfim, que uma nação prescinda do talento dos estrangeiros que a escolheram para viver. O futebol já tem essa consciência há muito tempo, por mais que ainda haja episódios de racismo no esporte. Mas o estrangeiro segue sendo visto, em geral, com desconfiança quando tenta se assimilar a outro país. É uma reação irracional na maior parte das vezes.

Mesmo nos cinco países classificados para a Copa que só contarão com atletas "nacionais" – Brasil, Colômbia, Honduras, Rússia e Coreia do Sul – há casos evidentes de times multiétnicos. A seleção brasileira, por exemplo, tem nove negros, nove brancos e cinco mulatos. De certa maneira, é a expressão do que é o país: uma mistura de gente vinda de vários cantos do planeta. O hexa, se vier, não deixará de ter um pé na África e outro na Europa – duas das principais origens nacionais. Seria mais uma conquista da miscigenação.

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