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O tema de Missão Impossível – série de TV dos anos 60 que virou filme com Tom Cruise em 1996 – foi composto pelo pianista argentino Lalo Schifrin, vencedor de quatro prêmios Grammy Awards e seis vezes indicado ao Oscar de melhor trilha sonora. Mas é o baixo da americana Carol Kaye que deu à música a pegada de suspense que um filme de espionagem exige.

Pouca gente conhece o trabalho da baixista. E quem a vê hoje, aos 80 anos, de cabelos grisalhos, óculos de lentes grossas e meias especiais para ajudar na circulação do sangue nas pernas, provavelmente imaginaria se tratar apenas de uma vovó que passa os dias em casa cuidando dos netos. Mas a palheta de Carol Kaye dedilhou algumas das linhas de baixo mais conhecidas da música pop, em canções de Frank Sinatra, Simon & Gurfunkel, The Mamas & The Papas, Carpenters, Monkees e, principalmente, The Beach Boys, entre outros nomes de peso.

É dela a guitarra do clássico La Bamba. Carol também colaborou com a trilha dos primeiros filmes de Steven Spilberg. E participou dos temas de Bonanza, Kojak, A Família Addams e Mulher-Maravilha.

“Havia muitas mulheres que tocavam jazz aquela época. Mas a maioria das mulheres dos anos 50 tocava só até se casar”

Portanto, se você gosta de rock e/ou trilhas sonoras de filmes e séries de televisão, é muito difícil que o baixo Fender desta senhora não esteja pulsando entre as suas músicas favoritas.

Integrante do lendário grupo The Wrecking Crew (A Turma da Demolição), conjunto que reunia os melhores músicos de estúdio dos EUA dos anos 50 a 70 e cuja história é contada no documentário homônimo, disponível no Netflix, Carol Kaye começou a carreira em clubes de jazz. Foi uma das primeiras a trocar o baixo acústico pelo elétrico em apresentações nos inferninhos de Los Angeles, em muitos dos quais era um elemento estranho não só por ser mulher, mas também por ser branca.

“Havia muitas mulheres que tocavam jazz aquela época. Mas a maioria das mulheres dos anos 50 tocava só até se casar”, revela a baixista no documentário. “Era mais importante ter um ‘senhora’ na frente do nome do que ter uma carreira”, completa.

Em uma sessão de 1957, o baixista que tocaria no disco de Sam Cooke, um dos criadores da soul music, não pôde comparecer no dia da gravação. Chamaram Carol Kaye, que, assim, sem querer, entrou no rentável mundo dos músicos profissionais de estúdio. “Nunca tinha ouvido falar de Cooke. Mas em três horas de trabalho com ele fiz o equivalente a uma semana inteira no meu trabalho normal”, afirma.

Aproveitando a ascensão do rock na juventude americana, Carol fez nos estúdios dinheiro suficiente para criar sozinha os dois filhos, além de adquirir o respeito de todos os músicos com quem tocou e de muitos outros que foram ter aulas com ela.

A ponto de o extremamente detalhista Brian Wilson, líder do Beach Boys que guiou à mão de ferro a produção de Pet Sounds, o mítico disco que fez a transição do rock das músicas inocentes para composições que abordavam frustrações adultas, aceitar a sugestão dela de alterar a principal música do álbum, Good Vibrations.

“Carol era a estrela do show, a melhor baixista do mundo, muito à frente de seu tempo”, elogia no filme Wilson, considerado um dos maiores gênios do rock.

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