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Dia desses, um taxista, depois de chorar suas pitangas para mim na corrida, terminou o chororô com aquele lugar-comum de que “pelo menos a gente vive em um país abençoado por não ter terremoto, vulcão, essas coisas”. Eu, quieto até então, tive de discordar. Disse que preferia ter um desastre natural vez ou outra a ter roubalheira e falcatruas todos os dias.

Falei que no Japão a população muitas vezes nem sente os efeitos dos terremotos, que lá têm dia sim e dia não, porque os prédios são todos preparados. Desde 1981, a legislação japonesa exige que toda edificação construída – seja arranha-céu ou um casebre – tenha tecnologia que atenue os impactos dos tremores. Na fundação dos prédios mais altos, é obrigatório uma espécie de mola que não só absorve o impacto, como evita que eles se toquem enquanto o chão treme.

Se aqui prédios caem e pessoas morrem sem a terra tremer um milímetro, já pensou se tremesse?

Nas casas mais simples, construídas antes da legislação, geralmente de madeira, o governo banca parte da reforma para que também suportem os abalos sísmicos. Segundo estimativa da Defesa Civil de lá, em um terremoto de grande proporção, até 23 mil pessoas poderiam perder a vida. Dessas, 16 mil morreriam por incêndios causados principalmente nessas residências de madeira. Como no terremoto de Kobe, em 1995, em que a maioria das 6 mil vítimas fatais faleceu sufocada pelo fogo. Além disso, a queda dessas casas atrapalharia as rotas de fugas da população.

O que faz essa prevenção existir e, principalmente, funcionar lá não é a legislação e a tecnologia. É a consciência de todos de que se tudo isso não for aplicado, pessoas morrerão. Ou seja, o empreiteiro que faz a obra adquire e aplica todos os materiais condizentes de forma plena, sem economizar com matéria-prima de qualidade ruim só para faturar um pouco mais. O poder público fiscaliza e aplica a lei com vigor, sem essa de receber propina e fazer vista grossa para o que houver de errado. E quem adquire os imóveis sabe que tudo isso vai estar embutido no preço final, assim como também sabe que é um preço justo a se pagar por segurança.

Já no Brasil a coisa vai no sentido contrário. Notícias de prédios que se tornam condenados pela má execução na obra ou falta de manutenção são corriqueiras. Pior: volta e meia um cai. Como o Edifício Atlântico, em Guaratuba, no Litoral do Paraná, que há 20 anos vitimou 29 pessoas, cuja obra foi com material inapropriado. Ou os três prédios que desabaram no Centro do Rio de Janeiro, em 2010, com 17 mortes, após ser constatado que em um deles havia obras irregulares que causaram a tragédia em efeito dominó, um caindo sobre o outro.

Depois de citar os exemplos de Guaratuba e do Rio, pensei melhor sobre a colocação do taxista. Ainda bem mesmo que no Brasil não há desastres naturais. Se aqui prédios caem e pessoas morrem sem a terra tremer um milímetro, já pensou se tremesse? Que bênção!

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