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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Tem um livro que faz um sucesso impressionante entre quem o lê. O título é Sapiens e o autor se chama Yuval Noah Harari. Faz sucesso porque explica tudo. Tudo mesmo. A partir das adaptações que o ser humano precisou fazer para sobreviver e prosperar sobre a Terra, o historiador vai dando sentido aos nossos comportamentos. Tem raciocínios questionáveis, mas a maior parte é muito convincente.

O livro traz um capítulo sobre o dinheiro intitulado “O credo capitalista”. A palavra credo é usada para enfatizar um aspecto fantástico da moeda, que é seu valor simbólico. A nota de R$ 100 é só um pedaço de papel, mas nós acreditamos no que ela representa. Por isso não a tratamos como um pedaço de papel, mas como algo que tem um poder especial. Se o dinheiro é fruto de um pensamento mágico que todos concordamos em adotar, o capitalismo é sua religião.

A equipe que investiga as provas coletadas pela Lava Jato deve ficar boquiaberta

Como em toda religião, há os que exageram; os que deliram e se entregam à adoração permanente, os que mergulham na fantasia e se afastam do que havia de saudável. Penso nisso lendo reportagens sobre políticos, empresários e gestores, sobre os chamados “agentes públicos” que, quando identificam uma chance de embolsar dinheiro que não é deles, perdem as estribeiras, abandonam qualquer resquício de moral, arriscam a reputação por alguns punhados de dólares.

Arriscam a reputação por um relógio caro comprado em Praga, pedalinhos em forma de cisne, vestidos de festa, joias extravagantes, lanchas que de tão grandes não entram na marina, chácaras.

A equipe que investiga as provas coletadas pela Lava Jato deve ficar boquiaberta com as tolices, inutilidades e extravagâncias que o dinheiro sujo compra.

Para entender como se pode fazer tantos absurdos, trair tão covardemente a confiança dos eleitores, deixar-se corromper por empresários incompetentes que se sustentam fazendo negócios escusos, sujar o nome... Para entender como essa degeneração toma corpo, é preciso ver o corrupto cercado por todos os lados por pessoas também propensas à corrupção: aduladores, medíocres que sabem que são medíocres, invejosos, gananciosos, desesperados. Essa turma faz tudo parecer tão normal, não critica, não reprova. Como hienas, espera sua hora de comer os restos da presa, que o predador abandonou. Nesse ambiente, o sujeito que está lá, lidando com os nossos recursos, os recursos públicos, passa a agir como uma besta selvagem, que precisa ter aquela chácara, precisa realizar seus mínimos desejos, precisa mimar os filhos e a esposa (que fingem não ver nada errado).

Aquele que ocupa o cargo público, seja no Legislativo, no Executivo ou no Judiciário, e não se contém se transforma em uma criancinha mimada, que é alimentada até explodir, até que seus restos se espalhem em praça pública, diante de uma população chocada e enojada.

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