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Rua XV de Novembro de 1912. O desvio dos bondes de mulas entre Monsenhor Celso e Marechal Floriano. Tais bondes foram inaugurados em 1887 |
Rua XV de Novembro de 1912. O desvio dos bondes de mulas entre Monsenhor Celso e Marechal Floriano. Tais bondes foram inaugurados em 1887| Foto:
  • A piazada adorava brincar com uma carroça de colonos, ainda em 1950
  • Bonde de mulas na Marechal Floriano, em frente de um tumulto em um botequim
  • Praça Carlos Gomes com Pedro Ivo. Os primeiros bondes elétricos circulando, em 1914
  • Na década de 1930, os fiéis podiam apear dos bondes na porta da Catedral
  • Em 1939, os bondes foram retirados da Avenida Luiz Xavier, substituídos por ônibus
  • De bicicletas, bondes, ônibus e mesmo a pé, o curitibano ia circulando pela cidade

Na semana passada, o assunto mais comentado em relação a Curitiba foi a reunião realizada na Câmara Municipal, onde o presidente da Urbs foi dar explicações sobre a nova tabela de preços do transporte coletivo. O que aconteceu, entretanto, levou os curitibanos mais antigos, como eu, a imaginar que abriu alguma brecha no tempo e ocorreu um ressurgimento de movimento estudantil como era comum na Curitiba de meados do século passado.

O que se viu nas galerias daquela casa legislativa foi algo insólito: estudantes reunidos, portando faixas, reivindicavam uma tabela mais baixa para o transporte nos ônibus. O tumulto se formou e houve agitação suficiente para ser requisitada a guarda municipal para acalmar os ânimos. Aliás, diga-se de passagem, essa deve ter sido a primeira vez que tal unidade mostrou que realmente existe.

No meu tempo de estudante, as greves surgiam e cresciam que nem repolho em roça de polaco. Muitas vezes, a estudantada era usada como massa de manobra por líderes de agremiações políticas, com tendências esquerdistas ou não. Outras tantas vezes, eram promovidas em nome do nacionalismo. Em Curitiba, quando isso acontecia, a bola da vez era sempre a Companhia Força e Luz do Paraná, que daqui não tinha nada pois era uma firma norte-americana.

A Força e Luz explorava o transporte dos bondes, e a linha de ônibus mais rentável era a que fazia a linha Batel-Alto da Rua XV, além do mais lucrativo que era a energia elétrica. A dita companhia não botava um tostão para melhorar o transporte assim como não se preocupava em expandir o serviço de fornecimento de energia. Além de arrecadar, produzia seu próprio dinheiro em forma de passes de bondes, uns bilhetinhos muito sem-vergonhas que eram dados como troco aos passageiros e que, de uma forma ou de outra, acabavam circulando pela cidade como se fossem papel-moeda.

Na década de 1940, os estudantes se revoltaram várias vezes contra a Força e Luz, acontecendo encontros arranca-rabos com a polícia e mesmo com o Exército. Houve casos de apedrejamentos de ônibus e descarrilamento e tombamento de bondes. No início da década de 1950, a cidade vivia às escuras por falta de energia; a classe estudantil reuniu-se na Praça Tiradentes, em uma noite escura, e fez uma romaria à luz de velas até a casa do então governador Bento Munhoz da Rocha Neto, protestando contra aquele blackout promovido todas as noites pela companhia norte-americana.

Muitos vereadores também levantaram suas vozes contra aquela prepotência imperialista. Um deles, lembro bem, era meu amigo, o Irlan Cavet um dos que espinafravam a Força e Luz. O bom e velho Irlan jamais conseguiu se reeleger, ele e outros que foram contra aquele estado de coisas impostas pelo poder do dinheiro arrecadado do povo e usado contra seus representantes. Isto tudo aconteceu nesta Curitiba velha de guerra, cuja Câmara Municipal vai comemorar no final deste mês o seu aniversario de criação, 316 anos.

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