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Não sou muito dado a assistir a programas de ciência. Prefiro mil vezes os de história, cheios de escaramuças, armaduras, políticos perversos, santos beberrões e rainhas dadas a truques com navalhas. Fáceis e sanguinolentos. Nos últimos tempos, confesso, me rendi ainda aos programas de carros e motos, em especial aos que se dedicam a transformar sucatas de celeiro em carros de um milhão de dólares. Digestivos e narcotizantes, em especial quando você para e pensa nos nossos carros e na tonelada de impostos, seguros e burocracia que encaramos para mantê-los, assim pobrinhos, na garagem.

Voltando aos programas de ciência: eles normalmente me deixam embasbacado. Quando tratam de Física Quântica, então, me transformam em um simplório. Outra noite, por exemplo, vi um trecho de um documentário sobre as possibilidades futuras de colonização de outros planetas. Na primeira cena, surgiam sacerdotes maias (sempre eles) apontando para estrelas. Legal.

Os programas de ciência normalmente me deixam embasbacado. Quando tratam de Física Quântica, então, me transformam em um simplório

Levantei para resgatar um pedaço de pizza na geladeira e, nesse meio tempo, a história já se havia desenrolado para além de Einstein. Àquela altura, os cientistas já estavam fazendo planos para a criação de “buracos de verme” e veleiros capazes de dobrar o espaço-tempo e surfar na marola quântica até chegar do outro lado de um universo que não tem fim. Magia pura.

O apresentador do programa, o físico Michio Kaku – gênio criador da “Teoria das Cordas” (outro mistério) –, apresenta as ideias com sorriso verdadeiro e certeza serena, e ainda conta piadas legais. Há, segundo ele, uma espécie de matemática sagrada, oceânica e não linear, que seria a melhor demonstração da existência de algo semelhante ao que entendemos por Deus. Gostaria de ser físico para me apaixonar da mesma maneira.

No último bloco do programa, após falar sobre as titânicas distâncias a serem vencidas para a colonização de planetas semelhantes aos nossos, Kaku observa que, de repente, o melhor caminho seria enviar nanonaves capazes de transformar matéria alienígena em DNA, misturar tudo e jogar no mar para ver que bicho emerge de lá. Na frase final, ao mesmo tempo risonho e misterioso, o físico nos convida a refletir sobre se nós mesmos não somos filhos de um processo semelhante, brotos de sementes siderais plantadas por civilizações superiores. A própria teoria do antigo astronauta, em síntese. E eu, pizza mordida na mão, reflito por um instante na grandeza das coisas. E volto para o canal de carros, onde passa um programa sobre a transformação de um Ford Modelo A em uma máquina infernal. Ufa!

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