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Acabo de descobrir que as forças armadas chinesas trocaram boa parte da camuflagem tradicional de seus equipamentos de guerra por outra, totalmente diferente de tudo o que já foi visto nos quartéis do mundo. Depois de muito pesquisar, há alguns meses os especialistas do Exército Vermelho decidiram substituir os velhos padrões irregulares que simulam paisagens naturais – aquelas manchas em verde, marrom, cinza e amarelo que enxergamos mentalmente ao ouvir a palavra “camuflagem” – por um único padrão, aparentemente simples, composto por quadrados coloridos do tamanho de um ladrilho de banheiro. Com a mudança, que foi apresentada no fim do ano passado, durante as comemorações dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a tropa e a panóplia ficaram com uma estranha cara de foto digital em baixa resolução.

A explicação para a mudança, explicam os “mimetólogos” chineses, reside nos limites visuais da pintura tradicional: manchas grandes funcionam bem a distância, mas ficam com cara de tentativa ruim de arte moderna quando vistas de perto; manchas pequenas, por sua vez, são ótimas para mimetizar um elefante na garagem, mas condenam o paquiderme à total visibilidade quando o bicho é percebido da casa do vizinho.

A tropa e a panóplia ficaram com uma estranha cara de foto digital em baixa resolução

No caso dos quadrados, o fator distância seria driblado graças ao prazer que o cérebro tem de compor figuras geométricas simples para formar outras figuras. De perto ou de longe, desde que pintado nas cores certas, nosso elefante surgiria ao observador como um mero borrão, algo não muito desintegrado do resto do cenário.

Ao examinar as fotos da Parada da Vitória, contudo, fiquei com a incômoda impressão de que os chineses foram além da solução à clássica questão dimensional no contexto da ocultação. Isso porque, quando pintados com o novo padrão de quadrados coloridos, os tanques, lançadores de foguetes, aviões e lanchas também assumem um aspecto de irrealidade, coisa de jogo de fliperama – parecem brinquedos. Nas matérias dos portais de notícias militares, aliás, a camuflagem ganhou o apelido de “padrão Minecraft”, em referência ao célebre jogo de computador que usa blocos para a construção dos cenários.

Os chineses, em síntese, parecem ter notado o potencial de sucesso dissimulatório que mora na transplantação de elementos gráficos do mundo virtual para o real. Em um tempo em que os olhos passam muitas horas por dia examinando telas, alguns pixels a mais, no grande “ecrã” do real, poderiam passar despercebidos... até que fosse tarde demais. Sublime. E sinistro.

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