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 | Paul Mannix/Flickr/Wikimedia Commons
| Foto: Paul Mannix/Flickr/Wikimedia Commons

Nos últimos anos, para alegria geral de quem se amarra em mundos mais pitorescos, os produtores de filmes e documentários “redescobriram” o sul dos Estados Unidos, mais exatamente a natureza, o estilo de vida e as idiossincrasias de estados como Louisiana, Mississippi, Alabama, Geórgia e Flórida. O charme cajun, os rincões de pobreza, o blues, a dor dos séculos de segregação racial e a presença pervasiva dos pântanos que parecem cozinhar o mundo lentamente sob os olhos atentos dos crocodilos.

Um conjunto de beleza que, desconfio, emergiu na esteira do furacão Katrina, que em agosto de 2005 virou aquele mundo de pernas para o ar. Com os muitos programas rodados a partir de então não vieram apenas pedidos de socorro, mas o resgate e a afirmação de aspectos culturais bem diferentes daqueles que normalmente associamos aos primos ricos do norte. A mídia, enfim, parece estar fazendo sua parte, ainda que tendo como fio condutor reality shows um tanto repetitivos sobre noivas brigando por vestidos, guerras de cupcakes, restauro de carros antigos (destes, sou fã de carteirinha) e até produção de armas de fogo.

Na minha cabeça, acabou fixado que o nativo da Louisiana deve falar inglês com sotaque mineiro

Tão interessante quanto assistir aos programas é perceber a solução que as empresas brasileiras de dublagem encontraram para verter os diálogos em língua pátria: quando o sotaque é do sul dos Estados Unidos, elas substituem as falas por outras, com o mais redondo sotaque mineiro possível. Algumas vezes, a gente fica em dúvida quanto à origem do “sotaque de transplantação”, se é mineiro ou, então, caipira desse interiorzão de Brasil. O fato é que, na minha cabeça e por estranho que seja, acabou fixado que o nativo da Louisiana deve falar inglês com sotaque mineiro – seja lá como isso for.

A curiosidade reside em se saber por que os dubladores escolheram esse sotaque e não qualquer outro, dos muitos acentos nordestinos à fala gaúcha e aos “erres de carretilha” dos curitibanos. Seria bacanérrimo assistir a um reality show cajun dublado com sotaque de Florianópolis, por exemplo, mas isso não vai acontecer.

Simplesmente não consigo sugerir uma explicação, a não ser, talvez, aquela que associa o sotaque mineiro/caipira da dublagem a uma empatia, beleza ou familiaridade que, de alguma forma, conecta as metrópoles consumidoras de tevê a cabo a um passado mais singelo, amigável e rural – o que faz sentido, porque os personagens dublados são, normalmente, figuras batutas. Ou isso ou, então, os quadros de dubladores “regionais” das empresas andam meio escassos e os cabras não se mexeram para ampliar o catálogo.

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