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Equipe de negociação de crises da Policia Militar do Paraná. Capitão Cleverson Rodrigues Machado  é o comandante da equipe de negociação em operações de sequestro e rebeliões em presídios | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Equipe de negociação de crises da Policia Militar do Paraná. Capitão Cleverson Rodrigues Machado é o comandante da equipe de negociação em operações de sequestro e rebeliões em presídios| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Rotina não faz parte de um grupo especial da Polícia Militar do Paraná. Os nove policiais da Equipe de Negociação de Crises do Batalhão de Operações Especiais (Bope) nunca sabem quando terão de entrar em ação e nem quando poderão voltar para casa.

“Até meu filho de seis anos já sabe que quando o telefone toca eu tenho que largar tudo para atender uma ocorrência”, relata o capitão Cleverson Machado, comandante da equipe. “Uma vez, cheguei em casa logo depois de uma rebelião de presídio e o telefone tocou. Só deu tempo de tomar banho e ir para outra ocorrência”, completa o tenente Otávio Roncaglio.

INFOGRÁFICO: Saiba qual é a função de cada policial da equipe

De conflitos familiares a ações criminosas, o grupo é treinado para tentar solucionar sem o uso da força ocorrências inesperadas, que podem ocorrer em qualquer local, a qualquer momento. “A gente participa da página mais sombria da vida das pessoas, quando elas têm uma arma apontada para si mesma ou alguém da família. Por isso, temos que ter muita sensibilidade”, enfatiza o capitão Machado.

Entram no quadro de atendimento da Equipe de Negociação ocorrências como assaltos mal-sucedidos, em que as vítimas se tornam reféns, tentativas de suicídio, surtos, rebeliões em presídios e até ações terroristas.

“Nossa função é criar uma ponte de confiança com o agente causador do distúrbio, para que tudo se desenrole sem vítimas fatais”, explica o capitão Machado. “Para isso, a negociação tem que ser baseada na verdade. O causador do distúrbio tem que confiar na gente e a gente nele”, afirma.

Para usar o argumento como arma, os membros da Equipe de Negociação passam por um funil estreito já na seleção. A primeira exigência é de que o candidato tenha no mínimo três anos de PM. Entretanto, a principal barreira é o perfil psicológico: 40% dos policiais que se inscrevem para ingressar no time são reprovados nessa etapa. “Para ser da Negociação o policial tem que ter um grau de resiliência muito alto para aguentar a pressão diante de muito estresse. Ele sofre diversas interferências, mas tem que sempre manter o equilíbrio”, enfatiza Machado.

Outro ponto a ser levado em consideração na importância do equilíbrio mental é a duração das ocorrências. Uma rebelião no presídio de Cascavel há dois anos, por exemplo, durou 72 horas. “Às vezes, a ação parece ser simples e acaba se complicando”, pontua o tenente Roncaglio.

Nas 200 horas/aula de capacitação, os policiais da Equipe de Negociação aprendem técnicas de psicologia direcionada, neurolinguística e manejo de estresse. A partir desse conteúdo, o policial passa a agir conforme o perfil psicológico do causador do distúrbio, que basicamente são divididos em três categorias: criminosos, mentalmente perturbados e terroristas.

“A partir da forma como o causador do distúrbio se comporta a equipe vai estimular a melhor forma de negociar, sendo a nossa principal ferramenta o estímulo verbal”, explica o comandante da equipe. “Com detentos, por exemplo, temos que ter conhecimento do linguajar dele, das condições do lugar onde ele está, entre outras coisas”, completa Machado.

Ocorrências

Desde 2003, quando foi formada, 146 ocorrências foram atendidas pela Equipe de Negociação da PM. A estimativa é de que cerca de 300 pessoas envolvidas diretamente nas ações tenham saído ilesas. Isso fora as ocorrências que foram atendidas por outros policiais sob supervisão dos negociadores. “Muitas vezes a nossa equipe está se deslocando e antes de chegarmos os próprios policiais do local resolvem a situação com o nosso apoio por telefone”, afirma Machado.

Os deslocamentos longos, aliás, são parte do dia a dia dos negociadores. Do Aeroporto do Bacacheri, a equipe se encaminha para qualquer local do estado onde esteja ocorrendo uma crise. “Já aconteceu de eu sair para trabalhar de manhã e só ligar no outro dia para minha esposa dizendo que estava em uma ocorrência no interior”, afirma Roncaglio.

Robson Vilalba/Gazeta do Povo
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