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Crianças de 8 e 9 anos mostram falhas no piso da sala de aula a repórter Anna Simas: elas querem melhorias na estrutura da escola | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Crianças de 8 e 9 anos mostram falhas no piso da sala de aula a repórter Anna Simas: elas querem melhorias na estrutura da escola| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Estudantes da Escola Mu­­nicipal Presidente Tan­­credo Neves, em Quatro Barras, deram uma lição de cidadania na semana em que se comemora o dia nacional da Educação. Depois de lerem em sala de aula uma reportagem sobre como a estrutura precária das escolas afeta o ensino, os alunos mandaram 22 cartas à Gazeta do Povo contando quais são os problemas que enfrentam.

VÍDEO: Crianças mandam carta pedindo ajuda para escola

A reportagem foi até o local conversar com as crianças, na faixa de 8 e 9 anos, e conhecer a estrutura da escola, situada na área rural do município. Lá estudam 173 alunos, da pré-escola ao 5.º ano, divididos em sete turmas. Embora o espaço seja grande, com um quintal imenso, a estrutura é bem simples e acanhada. Há muito improviso. A turma da pré-escola divide a sala com o depósito, onde são guardados todos os materiais – escolares e de limpeza. Não há biblioteca e, por isso, os livros ficam empilhados no meio do corredor.

Dentro das salas, os problemas são evidentes, influenciando nas atividades cotidianas e representando riscos de acidentes. Há carteiras empilhadas e o assoalho está cheio de buracos. Fácil de tropeçar. As janelas não abrem direito. As crianças reclamam que é abafado e que o calor dá sono. Há infiltrações nas paredes e fios desencapados no ventilador, que nem sempre funciona.

Precário

Mas a principal reclamação é a falta de parquinho e cancha coberta. Existe apenas uma quadra, sem estrutura para a prática esportiva, como cesta de basquete e rede de futebol. Em dias de frio e chuva, as crianças não podem sair da sala, nem para o intervalo nem para aulas de Educação Física. Outro problema é o material escolar. As crianças comentam que o lápis-de-cor é de qualidade ruim e que os cadernos são pequenos e insuficientes para o ano todo. Sem contar que no 5.º ano não tem livro para todos os alunos, impedindo a exigência de tarefa em casa.

O prefeito de Quatro Bar­­ras, Loreno Tolardo, diz conhecer os problemas da escola, mas aguarda recursos do Plano de Ações Articuladas do Ministério da Edu­­ca­­ção (MEC) para iniciar o processo de licitação para as reformas necessárias. "A Tan­­cre­­do Neves é a única escola que ainda não tem quadra coberta. Acredito que deve receber neste ano." Quanto à falta de livros, ele explica que o MEC ainda não enviou todos e que eles devem chegar em um próximo lote.

Pedidos

Veja trechos de cartas enviadas ao jornal por alunos da Escola Municipal Presidente Tancredo Neves:

"O que está faltando nessa escola: janelas novas, as portas ficam rangendo, tem que pintar as paredes, e ter armários novos, falta quadra coberta e grama sintética e parquinho."

Guilherme José da Luz Drapala

"Eu gostaria de chamar o prefeito na minha escola para conversar e falar para ele arrumar a minha escola."

Santiago *

"Anna Simas, aqui na minha escola falta: pintura, chão bom, biblioteca, cancha coberta, um laboratório de ciências e um parque."

Luna Fernanda Umbelino Teixeira

"Percebi que na minha escola faltam laboratórios de ciências, quadra coberta. Gostaria que você viesse à nossa escola para que o prefeito não gaste mais o dinheiro à toa."

Vanderlei *

"Anna, se você puder vir até aqui será bom, mas, se não puder, tudo bem. Eu tenho mais um truque na manga (...), vou denunciar o prefeito e a prefeitura, há há há."

Felipe S. Modanese

* Não colocaram o sobrenome nas cartas

Digitação dos relatos levou mais de 30 dias

Para que as 22 cartas chegassem à redação da Gazeta do Povo um longo caminho foi percorrido. Algo que corriqueiramente leva cinco minutos, para os alunos da Escola Municipal Presidente Tancredo Neves durou pouco mais de um mês.

Primeiro as crianças redigiram os textos à mão e depois a professora Bárbara Eliza Pereira, dona da ideia, fez as devidas correções. Depois começou o processo de digitação que, por causa dos poucos computadores que a escola tem, foi bem lento. Dos oito que funcionam, apenas quatro têm acesso à internet, que nem sempre pega, já que a região é afastada. Por isso, a cada dia, uma pequena parte da turma ia ao laboratório para digitar. "Eles tiveram que criar um e-mail pessoal e depois digitar tudo que estava no papel. Demoraram muito para isso, pois usam um dedinho só", conta Bárbara.

Ela entrou em contato com a seção Coluna do Leitor e explicou que mandaria cartas feitas por 22 crianças pequenas. Algumas delas foram mandadas dos e-mails dos próprios alunos, outras a professora reuniu e enviou.

Opinião

"Experiência gratificante"

Anna Simas, repórter do Núcleo de Educação da Gazeta do Povo

Quando entrei na sala do 4.º ano, fui bombardeada de perguntas. As crianças queriam saber o que eu tinha achado da escola, o que vi em outras – e se elas eram muito diferentes – e quando eu conversaria com o prefeito sobre os problemas. Todas pareciam entender que uma estrutura precária afeta diretamente a educação.

A experiência foi única. É emocionante ver a dedicação e a preocupação da professora em fazer com que aqueles alunos, tão pequenos ainda, entendam que já são cidadãos com direito de reclamar e exigir aquilo que é deles: uma educação de qualidade.

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Vida e Cidadania | 1:49

Os alunos da Escola Municipal Presidente Tancredo Neves, de Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba, enviaram cartas à Gazeta do Povo com pedidos de ajuda para resolver os problemas da escola.

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