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O delegado-chefe da Polícia Civil, Marcus Vinicius Michelotto, assume que tomou partido nas eleições da associação e do sindicado dos delegados | Walter Alves/ Gazeta do Povo
O delegado-chefe da Polícia Civil, Marcus Vinicius Michelotto, assume que tomou partido nas eleições da associação e do sindicado dos delegados| Foto: Walter Alves/ Gazeta do Povo

Classe policial

Derrotados expõem preocupação

Um dos delegados afetados pela troca de postos é Luiz Aberto Cartaxo. Ele era chefe da Escola da Polícia Civil e foi transferido para a Comissão de Avaliação de Estágio Probatório da corporação. Cartaxo é ex-presidente da Adepol e encabeçava a chapa à reeleição, concorrendo com o grupo indicado pelo delegado-geral, Marcus Vinicius Michelotto. O delegado não considera sua remoção uma retaliação, mas uma troca que ocorreu por "conveniência política". "Não vejo [a transferência] como resultado direto das eleições, mas como interesses do departamento de polícia, levando em consideração a oposição oferecida às chapas que eram apoiadas pelo delegado-geral", disse.

Uma das unidades especializadas mais visadas dentro da corporação – a Delegacia de Homicídios (DH) – também teve alterações. Maritza Haisi, que integrava uma das chapas que concorria ao Sindicato dos Delegados, foi transferida para a Delegacia da Mulher. À frente da DH, ela foi responsável por iniciativas que se tornaram padrão.

Maritza também elaborou o projeto de criação da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O projeto foi aprovado pelo delegado-geral e pelo secretário de Segurança Pública (Sesp), Reinaldo de Almeida César, e aguarda autorização do governador Beto Richa (PSDB) para ser implantado. Os outros transferidos foram os delegados Roberto Nascimento e Cláudio Marques. Os três foram procurados pela Gazeta do Povo, mas não quiseram se manifestar.

Critérios

Para Cartaxo, o critério para as nomeações deveriam ser técnicos e não políticos. Segundo ele, as trocas afetam o planejamento das unidades e quem sente o impacto negativo é a população. "Todo delegado que assume uma delegacia tem sua filosofia de trabalho, seu plano. Leva um tempo para essa readequação", afirma. "Talvez tenhamos serviços com menos qualidade, mas a Polícia Civil vai sobreviver a isso", ironizou.

O delegado José Ricardo Kieppes Noronha vai além e afirma que, com o sindicato e associação atrelados à chefia da Polícia Civil, a categoria fica sem força. Nesse contexto, os delegados perdem seu poder de reivindicar melhores condições de trabalho e lutar por reposições salariais. "Cada categoria tem os representantes que merecem. E eu lamento que isso esteja ocorrendo com a Polícia Civil do Paraná", diz.

Pelo menos três trocas recentes de delegados na Polícia Civil do Paraná não obedeceram a critérios técnicos, como desempenho e produtividade, mas sim a questões políticas. O delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinicius Michelotto, assume a influência das eleições da associação (Adepol) e do sindicato (Sidepol) dos delegados nas mudanças. O motivo está relacionado à oposição dos delegados substituídos às chapas apoiadas por Michelotto. "Apoiei [duas chapas] e quem não apoiou não pode exercer um cargo de confiança comigo", afirma.

Ao todo, quatro transferências ocorreram depois do dia 8 de outubro, quando foram eleitos os delegados Kyioshi Hattanda e Jairo Estorílio – apoiados por Miche­lotto – para a Adepol e Sidepol, respectivamente. Todas as mudanças envolveram titulares de unidades da Polícia Civil que pertenciam a chapas adversárias aos indicados pelo comando da corporação no Paraná.

O delegado aposentado José Ricardo Kieppes Noronha, que era candidato à presidência da Adepol, classifica as transferências como "retaliações". Cinco delegados ouvidos pela Gazeta do Povo revelam que o chefe da Polícia Civil no estado pressionou pessoalmente delegados de todo o Paraná a votarem nas chapas indicadas por ele.

A "campanha" teria ocorrido em viagens oficiais, nas comemorações dos 158 anos da Polícia Civil, entre abril e início de outubro. No site da corporação, há matérias sobre 11 viagens oficiais do delegado-geral a outras regiões do Paraná com esse motivo. Em todas, há menção do nome do delegado Kyioshi Hattanda, então candidato à Adepol e que venceu a eleição.

"Ele [Michelotto] usou toda a máquina da Polícia Civil", afirma Noronha. "Foi uma campanha explícita. E quem apoia alguém sempre quer alguma coisa em troca. Com a associação e o sindicato nas mãos, a chefia da Polícia Civil tem toda a corporação dominada", define o delegado Luiz Antonio Zavataro, que era candidato ao Sidepol. Ele concorreu com a chapa encabeçada por Jairo Estorílio, que seria o candidato defendido por Michelotto.

Intimidações

Além das excursões ao interior, os relatos são de intimidações diretas. "Eu saberia apontar pelo menos outros 15 colegas que foram chamados ao departamento e que receberam orientação pessoal do delegado-geral para deixarmos as chapas que estávamos apoiando", disse um delegado que pediu para não ser identificado. A pressão chegou a ser explicitada durante a campanha por uma carta enviada por Noronha aos colegas, informando que estaria havendo "ameaças de retaliação, estágio probatório, perda de função e até do cargo".

Segundo Noronha, as ameaças teriam surtido efeito. Só na chapa dele, cinco integrantes teriam cedido à pressão e abandonado o grupo antes das eleições. "É compreensível. Tem muitos colegas em início de carreira e que estão à mercê deste tipo de coisa", avalia Noronha.

Confiança

Michelotto assume apoio a colegas

O delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinicius Michelotto, admite abertamente que apoiou os delegados Kiyoshi Hattanda e Jairo Estorílio nas eleições de classe dos delegados. De acordo com Michelotto, não há razão para os policiais se posicionarem contra o atual governo. "Sou delegado de rua e vejo esse governo como o melhor momento da história da Polícia Civil e da segurança do estado. Não posso ter pessoas ligadas a mim que não apoiem este momento."

Segundo Michelotto, a delegada Maritza foi transferida por ajuste técnico. "Ela fica em um local de destaque na polícia, que é a Delegacia da Mulher. A Maritza é da minha turma, minha amiga e não foi retaliada. Isso é uma besteira", se defende.

O delegado ressaltou que seu apoio a Hattanda foi evidente. "Foi uma chapa de apoio ao atual momento da polícia. No Sidepol também. O delegado Jairo Estorílio foi apoio nosso", afirma. Michelotto explica que Hattanda e Estorílio não vão permitir que o governo deixe de atender os interesses da classe.

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