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Em Curitiba, equipes da prefeitura fazem trabalho de alerta aos moradores sobre os riscos da dengue. | Aniele Nascimento/Arquivo/Gazeta do Povo
Em Curitiba, equipes da prefeitura fazem trabalho de alerta aos moradores sobre os riscos da dengue.| Foto: Aniele Nascimento/Arquivo/Gazeta do Povo

Apesar de mais de 71% dos curitibanos confirmarem temer a dengue, a desinformação quanto a outras doenças que também são transmitiras pelo mosquito Aedes aegypti é bastante grande. Oito em cada dez pessoas desconhecem outras moléstias – como as febres chikungunya e zika – mesmo que casos de ambas tenham sido registrados nos últimos meses no Paraná. O risco de tripla epidemia é justamente a principal preocupação das autoridades de saúde de Curitiba e do estado para a próxima temporada.

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Estudo traça entrada da chikungunya no Brasil

Pesquisadores paraenses do Instituto Evandro Chagas, ligado ao Ministério da Saúde, a da Universidade de Oxford, na Inglaterra, identificaram a origem de duas variedades do vírus que causa a febre chikungunya. O estudo foi publicado em abril na revista BMC Medicine e foi noticiado esta semana pelo site Pesquisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo.

Os cientistas indicam que as cepas do vírus descendem de uma linhagem da Ásia e outra da África e que elas teriam entrado no Brasil pelo Oiapoque, no Amapá, e por Feira de Santana, na Bahia. As conclusões foram tomadas com base em informações genéticas e epidemiológicas. Ao cruzá-las com dados geográficas e temporais, os pesquisadores traçaram as origens e os padrões de dispersão do vírus. A linhagem africana teria começado a se disseminar em Feira de Santana em junho de 2014 — durante a Copa do Mundo —, provavelmente por um brasileiro recém-chegado de Angola, onde a chikungunya é doença endêmica. A linhagem asiática, responsável pela primeira transmissão autóctone — dentro do território — teria acontecido no Oiapoque, em setembro de 2014. Os pesquisadores acreditam que a cepa atualmente em circulação tenha vindo da Guiana Francesa, país que vem registrando um crescimento de casos autóctones desde janeiro de 2014.

Até o fim de 2013, todos os casos detectados nas Américas eram de pacientes infectados no exterior. Nessa época, uma epidemia se instalou na ilha de Saint-Martin, território francês no Caribe, espalhou-se para outras ilhas e chegou à Guiana Francesa. De acordo com o biomédico Marcio Teixeira Nunes, do Centro de Inovações Tecnológicas do Instituto Evandro Chagas e um dos autores do estudo, o vírus alastrou-se pelas Américas muito mais rápido que o vírus da dengue, que levou cerca de uma década para tomar a região.

A chikungunya é uma doença viral transmitida a humanos pelos mesmos mosquitos que transmitem a dengue. Os altos índices de infestação dos mosquitos e a intensa mobilidade humana são fatores alarmantes para a disseminação no Brasil. Este ano, somente até 7 de março, foram registrados 1.049 casos no país, a maioria nos dois estados apontados pelo estudo da Fundação Evandro Chagas como portas de entrada da doença. Como não existe vacina, a única maneira de reduzir o risco é combater os focos do mosquito, eliminando toda a água parada.

Os dados constam de pesquisa realizada pelo instituto Paraná Pesquisas, a pedido da Gazeta do Povo. O levantamento mostra ainda que quase 90% dos entrevistados têm algum familiar ou conhecido que contraiu a dengue. Entre agosto de 2014 e julho deste ano, Curitiba registrou dois casos de dengue autóctone (que se originou no próprio município) e 39 casos importados. Não houve nenhuma morte em decorrência da doença na capital.

“O que mais chama a atenção na pesquisa é que há um receio em relação à dengue, ao mesmo tempo em que as pessoas ainda mantêm um desconhecimento bastante grande. O índice de entrevistados que não conhecem as outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti é grande”, apontou o diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo.

A pesquisa revela também que o curitibano garante estar tomando cuidados para evitar a proliferação do mosquito. Exatos 91% afirmaram adotar alguma medida de prevenção. Entre elas, quase 90% dizem eliminar constantemente pontos de água parada, como forma de combater a doença.

“Além disso, a questão do viajante é um fator importante. Se a pessoa for viajar para um local em que haja incidência da doença, ela deve ficar atenta e tomar alguns cuidados, como usar repelente ou procurar se hospedar em locais com tela”, lembra a coordenadora de combate à dengue em Curitiba, Juliana Martins.

No dia 14 de julho, o Paraná confirmou seu primeiro caso de febre zika. O estado também já havia registrado pacientes com chikungunya. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) está preparando a estratégia para a próxima temporada, de olho na contenção de uma possível tríplice epidemia – dengue, zika e chikungunya.

“Desde o ano passado, estamos recebendo e preparando orientações a respeito do diagnóstico e condução desses casos [de chikungunya e zika]”, disse a chefe de vigilância ambiental da Sesa, Ivana Belmonte. “A população tem que ficar em alerta, porque as causas de todas essas doenças são multifatoriais. Depende muito do deslocamento, tanto que a maioria dos casos são importados”, completou Juliana.

Paraná teve epidemia com 24 mortes em 2014

O Paraná sofreu com uma epidemia de dengue na temporada entre agosto de 2014 e julho deste ano. No período, 24 pessoas morreram depois de terem contraído a doença. O estado registrou mais de 27,5 mil casos autóctones (originários aqui) e mais de 1,6 mil importados. Os números foram bem maiores do que os da temporada passada, em que nove pessoas com dengue morreram no Paraná.

A chefe de vigilância ambiental da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Ivana Belmonte, disse que o aumento do número de casos no estado acompanhou a evolução da doença no Brasil, que viveu uma epidemia de dengue. “Os registros do Paraná foram semelhantes ao que aconteceu no Brasil inteiro”, disse.

De acordo com a Sesa, a maioria dos pacientes que foram a óbito apresentavam um quadro de comorbidade – ou seja, portavam outras doenças, que contribuíram para o agravamento do quadro clínico. “Normalmente, eram pessoas idosas, com outros problemas associados”, confirmou Ivana.

O sucesso das ações de prevenção tanto no estado quanto no município depende da adesão da população às campanhas e ao trabalho dos agentes de saúde. As autoridades lembram que os trabalhos são constantes e que não se pode descuidar, principalmente no inverno. Aquela piscina que fica esquecida nessa época mais fria, por exemplo, pode virar um grande criadouro do mosquito. “Um entrave ao trabalho é a percepção de risco. A pessoa tem a sensação de que ‘comigo não vai acontecer’. Todos têm que ter em mente que se eliminarmos os criadouros vamos ter condições melhores para nossas famílias”, observou Ivana.

Estado e município também pedem que as pessoas estejam abertas ao trabalho dos agentes de saúde que, em épocas de campanha, vistoriam as casas, eliminando possíveis focos do mosquito. “Em Curitiba, não temos muita resistência, mas uma resistência que tiver pode ser determinante para a proliferação”, apontou Juliana Martins, da Secretaria de Saúde da capital.

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