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Ana Laura, filha de Luciana de Lima Novo, nasceu com 635 gramas: já está com mais de um quilo, mas sem previsão de saída da UTI Neonatal | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Ana Laura, filha de Luciana de Lima Novo, nasceu com 635 gramas: já está com mais de um quilo, mas sem previsão de saída da UTI Neonatal| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

A má distribuição dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) neonatais, somada à falta de infraestrutura e de profissionais capacitados, é o principal entrave para a saúde pública destinada a recém-nascidos no país.

Segundo a pesquisa Munic 2014, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada recentemente, apenas 6,6% das 5.560 cidades brasileiras têm vagas de atendimento pela rede pública de saúde – a maioria dessas situadas no Sudeste do país.

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No Paraná, o cenário se repete. Das 22 regionais de Saúde do estado, três não têm nenhum leito de UTI neonatal. Além disso, há uma grande disparidade no número de leitos oferecidos entre as diferentes regionais.

Se na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), por exemplo, há 177 vagas via Sistema Único de Saúde (SUS), no outro extremo do estado, na regional de Foz do Iguaçu, há apenas oito leitos. Depois da RMC, a regional com mais leitos é a de Maringá, com 22.

No Brasil

O Ministério da Saúde informa que o Brasil dispõe de 8.585 leitos de nidade de terapia intensiva neonatal. Destes, 4.410 são leitos do Sistema Único de Saúde (SUS), um aumento de 25,7% em pouco mais de quatro anos e meio, já que em 2010 eram 3.506 leitos que atendiam pelo SUS. O Ministério ressalta que o SUS é descentralizado e, desta forma, quem avalia a necessidade das ações e serviços de saúde são os gestores municipais e estaduais.

Essa situação coloca em risco a vida de bebês que nascem prematuros, com má formação ou doentes. “A impossibilidade de se implantar UTIs neonatais em todos os municípios, principalmente por motivos econômicos, obviamente dificulta o atendimento aos recém-nascidos”, afirma o médico Adauto Dutra Moraes Barbosa, do Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Ele ressalta ainda que os leitos deveriam ser distribuídos de forma regionalizada.

No entanto, dos 381 leitos que atendem a saúde pública no estado, 46% estão localizadas na regional de Curitiba. Das 109 vagas criadas nos últimos cinco anos, a maioria também se concentrou na regional da capital: 68.

A regional de Ponta Grosa, por exemplo, ganhou apenas quatro novos leitos no mesmo período. A de Campo Mourão continua com as mesmas cinco vagas de UTI neonatal que tinha em 2010. A regional de Londrina também continua com as 21 vagas que oferecia cinco anos atrás.

Hospital de Clínicas

Em nota, o Hospital de Clínicas informa que muitos pacientes da Região Metropolitana de Curitiba são encaminhados à capital e a municípios que tenham UTIs neonatais por apresentarem melhores condições de assistência, principalmente nos casos de prematuridade. “Nem todo município necessita ter uma UTI neonatal, mas é imprescindível um sistema de referenciamento de rede de assistência à saúde e política de assistência pré-natal que confira eficiência em se identificar e conduzir adequadamente situações de risco. Infelizmente a normatização de assistência pré-natal ainda é recente no estado”, diz a nota. O HC tem 10 leitos de UTI Neonatal e 10 de risco intermediário. Com a entrada de novos funcionários concursados, que estão sendo chamados, o HC irá abrir mais 5 leitos de UTI Neonatal e 10 de risco intermediário.

Barreiras estruturais

Segundo a superintendente de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Márcia Huçulak, essa distribuição desigual não é proposital.

Ela explica que o governo priorizou abrir novos leitos em locais onde já havia infraestrutura e profissionais capacitados para atuar em UTI neonatal. “Um leito de UTI não se cria do dia para a noite. Buscamos ampliar onde já havia estrutura.”

Ela diz que não basta apenas criar leitos, mas é imprescindível ter equipes capacitadas para atuar na UTI e em procedimentos específicos na saúde de recém-nascido, como os cirúrgicos.

“Não adianta ampliar o número de leitos se não houver uma retaguarda hospitalar que dê suporte ao atendimento. É preciso ter uma equipe especializada para atender os casos específicos dos bebês internados em UTI”, diz.

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Ana Laura nasceu com 685 gramas

Luciana de Lima Novo estava com o pré-natal em dia e tomando todos os cuidados necessários na gestação. Até a pressão arterial começar a sofrer alterações. “Durante meses não tinha sintoma algum”, diz.

Mas em exames foi constatado que a hipertensão começava a influenciar no funcionamento do fígado, estômago e coração. Com menos de seis meses de gestação, a situação de Luciana, de 22 anos, se complicou.

Deu entrada no Hospital de Clínicas, em Curitiba, em situação de pré-eclâmpsia, que pode evoluir para a eclâmpsia e colocar em risco a vida da mãe e do bebê. “Os médicos falaram que teria que interromper a gestação. Controlaram a pressão, esperaram completar 26 semanas e fizeram a cesárea. Diziam que era muito difícil a minha filha sobreviver”, conta.

Agarrada à fé, ela nunca pensou que perderia a filha. Ana Laura nasceu no dia 12 de agosto e foi direto para a UTI neonatal do HC, onde está até hoje. “Ela pesava 685 gramas e agora já está com mais de um quilo e com 37 centímetros. Tenho fé que daqui uns dias ela vai estar comigo em casa”, afirma.

Por enquanto, a segunda casa de Luciana é a UTI neonatal do hospital, onde ela chega perto das 7 horas e só vai embora para casa para dormir, já perto das 22 horas.

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