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 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Cinquenta anos depois, olhando a cidade do escritório da família, no alto de um prédio na Rua Visconde do Rio Branco, o engenheiro civil, administrador e ex-prefeito de Curitiba Ivo Arzua Pereira, 85 anos, conversou com a reportagem da Gazeta do Povo sobre a capital paranaense e, principalmente, sobre seu planejamento. Ele foi o catalizador das ideias que revisaram o Plano Agache de 1943 e deram origem ao que pode ser considerado o segundo Plano Diretor da cidade, instituído durante sua gestão pela lei 2.828/1966.

Embora elogie a estrutura viária e de transportes que a cidade desenvolveu, Arzua critica o rumo que tomou o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), criado no seu governo, por não ter procurado a população para discutir as intervenções, em um diálogo aberto e democrático. Aponta também à falta de atenção ao saneamento e à correta drenagem de solo como prioridades.

Como foi a reforma urbana que deu origem ao Plano Diretor de 1966 e à criação do Ippuc?

Na disputa à prefeitura, como eu era funcionário aposentado do Estado, não tinha dinheiro para campanha. Fui de casa em casa, de rua em rua, anotando sempre as queixas e as aspirações do povo. Com isso eu montei o meu plano e quando assumi o apresentei na Câmara Municipal como a renovação urbana de Curitiba. O Plano Diretor de Curitiba surgiu disto, da conversa com o povo.

O que marcou o processo e inovou, de alguma forma, o planejamento da cidade?

O nosso planejamento urbano teve três características. A primeira foi a democrática. Afinal, o plano foi escrito a partir das aspirações do povo e por uma empresa escolhida com concorrência pública. Foi ela quem elaborou o Plano Preliminar de Urbanismo. Para torná-lo realidade criamos o Mês do Urbanismo e fizemos o seminário Curitiba do Amanhã, onde ouvimos várias or­ganiza­ções comunitárias, públicas e privadas. A segunda característica é que o plano foi pensado de forma integrada, por não prever só a questão viária e do transporte, mas a atenção à saúde, à habitação e outros temas, com a criação das companhias Urbs e Cohab Curi­tiba. Terceira característica: foi um plano vivo, porque o Ippuc foi criado para acompanhar a realização dele e modernizá-lo de acordo com a evolução social, política e econômica.

Na sua opinião, o Ippuc seguiu com o rumo traçado?

Ser o melhor administrador não significa ser propriamente o melhor, mas escolher os melhores. Na época, os melhores foram aproveitados no recém-criado Ippuc. O Instituto deveria ser um órgão essencialmente comunitário. As mudanças que houvesse no futuro deveriam ser precedidas de reuniões públicas como aquelas que foram feitas na criação do órgão. O Ippuc foi criado para isso, não para a promoção de um indivíduo, mas isso, infelizmente, não foi feito.

Mas o seu plano foi executado?

Em parte foi, mas não exatamente como pensado. Você olha para a cidade e percebe paredões de concreto. Isso não é humano. No plano (de 1966), nós prevíamos ao longo das (vias) estruturais edifícios de, no máximo, 12 pavimentos, mas rodeados de ajardinamento.

Olhando a cidade hoje, o que deu deu certo e que deu errado?

O que eu acho que deu certo foi a criação da Ippuc, embora não esteja atuando como deveria. O planejamento viário e de transportes também segue o que estava no plano, mas a parte de saneamento e de drenagem do solo deixa a desejar. Também acho o que falta dar continuidade a esse trabalho pensando de forma regional, por bacia hidrográfica, já que o rio não segue as fronteiras municipais. Também faltam creches, postos de saúde, o básico. Falta esse tipo de preocupação com a qualidade de vida, enquanto há uma atenção com o "embelezamento" da cidade.

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