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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Urbanismo

Plano Agache previa prédios neoclássicos

O historiador Denisson de Oliveira começa a entrevista com a pergunta: por que Curitiba não colocou em prática o que previa o Plano Agache? Trata-se, pois, de uma provocação. Ele lembra que o Centro Cívico deveria ter, segundo o francês Agache, construções de influência neoclássica e barroca. A questão é que no meio do caminho veio o modernismo e o projeto original foi, em grande parte, abandonado. "O problema é que não se alterou somente o estilo arquitetônico, mas outras boas ideias", afirma Denisson.

Não era para existir uma rua no Centro Cívico, até porque ali deveria ser um espaço de manifestações populares. Estava prevista também a existência de um parlatório onde o governador discursaria para a população. "Era a ideia de democracia. Infelizmente a concepção do que seria a cidade se perdeu com o passar dos anos", diz. O único quesito do Plano Agache que foi respeitado foi um zoneamento urbano que dava funções aos espaços da cidade. Curitiba criou, a partir disso, o Rebouças como a área industrial, o Bacacheri como área militar, o Politécnico como setor universitário e assim por diante. "E isso só foi respeitado até os anos 60", aponta.

Denisson lamenta que Curitiba tenha hoje prédios colados um ao lado do outro, visto que no plano de Agache as quadras deveriam ter até três prédios com no máximo dez andares, de modo que nenhum deles fizesse sombra ao vizinho.

Biblioteca

Leia mais sobre o assunto nos livros da editora UFPR, intitulados Curitiba e o mito da cidade modelo e Urbanização e industrialização no Paraná.

Educação

Escola para a alfabetização dos presos

Preocupado com a regeneração dos presos da cadeia de Curitiba, que ficava entre o Largo da Matriz e do Mercado, o chefe de polícia e juiz Luiz Barreto Correa de Menezes resolveu instalar a primeira escola primária para presos da cidade, em 1879, porque acreditava que o lugar deveria reencaminhar as pessoas para uma vida normal, e não profissionalizá-las ao crime. Quem conta esse episódio é o historiador Val­­ter Martins, que pesquisou o assunto e publicou um artigo intitulado A escola do sol quadrado.

A capacidade da cadeia era para 60 presos. Depois da reforma no local, uma das celas virou sala de aula. "O chefe desejava instalar na cadeia um caminho para o trabalho, com oficinas; e outro para a educação, para que os presos não vivessem na ignorância", afirma o historiador. A iniciativa foi inédita no Paraná, mas já existia em outras províncias. E, apesar de o analfabetismo ser visto como atraso intelectual, as mulheres não tiveram direito de acesso à escola na cadeia.

Não é de se estranhar que um viajante inglês, do início do século 19, ao avistar Curitiba, tenha dito que ela se parecia a um acampamento prestes a levantar. Era tão provinciana e sem infraestrutura que as casas, todas brancas pintadas com cal, se assemelhavam ao longe a barracas. Da vila empobrecida à cidade que ganhou o título de modelo, há histórias que não devem ser esquecidas.

Dessa Curitiba colonial, é de se imaginar o que aconteceu quando apareceu no céu o primeiro objeto mais leve que o ar, chamado de dirigível ou balão. "O discurso era, na época, de que se tratava de um ato de coragem inconcebível, até porque, o mais alto que as pessoas iam era ao topo de uma montanha. Foi revolucionário para o modo de pensar da população provinciana", afirma o historiador Vidal Antonio de Azevedo Costa. Pelas habilidades do aeronauta mexicano Theodulo Ceballos, um saltimbanco que percorria a América Latina, a população viu o primeiro balão subindo, em 1876, com direito a acrobacias de Ceballos no ar. "Os textos de jornais da época são verdadeiros hinos de louvor a essa coragem inaudita. É um encantamento com a capacidade do homem de alcançar o infinito", explica Vidal.

O segundo que apareceu, já no início do século 20, ganhou fama e ao mesmo tempo repúdio. Primeiro porque ficou enroscado no lanternim da catedral, uma verdadeira vergonha para a população que não acreditava no que via; segundo porque o que a acrobata Maria Aida fazia não era mais novidade e os curitibanos, que não se sentiam tão provincianos assim, passaram a ser exigentes com esses tipos de espetáculo. "O discurso muda. Os jornais falam ironicamente que uma boa aeronauta não poderia colocar a culpa no tempo ruim. A população se considera digna de algo melhor", conta Vidal. O reencantamento aos dirigíveis foi inevitável, porém, no dia em que o Zeppelin Hinderburg passou rapidamente pelo céu de Curitiba. Com 245 metros de comprimento (apenas 24 metros menor que o navio Titanic), ele conseguiu seduzir a população outra vez, que ficou paralisada diante do que via. "O dirigível passou rapidamente por Curitiba, em 30 minutos, até porque, deste tamanho, não tinha onde pousar. Mas a admiração foi extrema, o que não tardou para que notícias falsas fossem criadas a respeito", diz Vidal. Um senhor teria dado um depoimento de como o Zeppelin teria pousado no aeroporto do Bacacheri (o que seria impossível), assim como muitas fotos foram montadas com o Zeppelin no céu, em lugares por onde ele não passou. Uma das mais famosas é do Hinderburg sobrevoando o prédio Garcez.

Cavalaria

Voltando um século, ainda no período imperial, entre os anos de 1765 e 1777, Curitiba registra outro dado histórico curioso: cria sua primeira companhia de cavalaria, já que o rei de Portugal, D. Afonso VI, não dispunha – e não tinha interesse – em gastar dinheiro com isso no Brasil. "É a origem do que hoje chamamos de milícia armada. Para defender o território português dos ataques de ingleses e holandeses, o rei de Portugal convoca moradores a cuidar da segurança", afirma o pesquisador Edson Moisés Pagani. Esses homens – verdadeiros súditos fiéis ao rei – se armaram e compraram cavalos por conta própria, por isso tinham de ter cacife financeiro. "Nem todo mundo, neste período, poderia ter cavalo e espada e aqueles que tinham eram considerados nobres. Então, além de serem bem vistos pelo rei, eram prestigiados pela sociedade", diz Pagani. A companhia de cavalaria criada em Curitiba nunca participou de um combate, por isso teve outro papel: ajudou a expandir as delimitações geográficas da cidade, porque esses cavaleiros viraram verdadeiros exploradores dos "sertões", nesse caso, dos Campos Gerais.

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