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O trabalho começava cedo: elas eram meninas prendadas | Reprodução/ Roseli Boschilia
O trabalho começava cedo: elas eram meninas prendadas| Foto: Reprodução/ Roseli Boschilia

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Leia mais: O assunto é contado em detalhes no livro Entre fitas, bolachas e caixas de fósforo: a mulher no espaço fabril curitibano. De Roseli Boschilia, editora Artes e Textos.

Faz muito tempo

que o público curitibano tem a fama de ser exigente com relação às peças teatrais. Isso ocorre há pelo menos um século. A historiadora Maria Cecília Pilla conta que no jornal Diário da Tarde, de 1905, havia uma matéria que retratava justamente isso. "Nosso público colocava em dúvida se as peças que viriam, de uma certa companhia, seriam melhores ou piores que as outras. E indagava-se se, as que viriam, seriam melhores que as peças que por aqui já se esfacelaram", conta.

  • Fábrica de fitas Venske com operárias na seção de meadas

Lá pelos idos de 1930, em Curi­­tiba, mulheres trabalhavam não para manter a autonomia e sobrevivência, mas como redenção ao casamento. Isso porque, o dinheiro jun­­tado com os dias de suor nas fábricas da cidade ia diretamente para a mão dos pais, que deveriam guardar o valor para comprar o enxoval e pagar o casamento da filha trabalhadeira. Em três fábricas da capital paranaense, uma de fitas (de presente), outra de bolacha e uma terceira de fósforos, a historiadora Roseli Boschilia encontrou documentos e depoimentos que explicam por que mulheres de uma classe social mediana deixavam a casa rumo ao setor fabril.

"A ida delas ao mercado de trabalho não era pelas mesmas razões de hoje. Elas queriam juntar dinheiro para casar e também era uma forma de aperfeiçoar a educação", conta Roseli. Co­­­mo elas ficavam nas fábricas somente até o casamento, isso gerou um grande prejuízo aos empregadores, porque elas começavam a trabalhar com cerca de 14 anos e, no auge da capacidade de produção, após uns dez anos, elas casavam e iam embora. "Uma fábrica chegou ao ponto de instalar máquinas nas casas dessas mulheres para continuarem trabalhando no lar, mas, depois, essa prática foi proibida por uma legislação trabalhista", afirma Roseli.

As imigrantes, em Curi­­­tiba, eram as preferidas dos empregadores porque costumavam ser dóceis e submissas. Além disso, as fábricas, nesta época, não aceitavam pessoas morenas ou negras.

Funcionamento

Das três fábricas pesquisadas por Roseli, a de fósforos é a única que continua em funcionamento. "Vale notar que as funcionárias das fábricas de bolacha e de fitas, que eram menores que a de fósforos, aparecem nas fotos com uma vestimenta muito elegante, o que demonstra que tinham um certo status social. Tanto é que casaram com médicos ou militares do exército", conta a historiadora.

As fábricas – com tantas mulheres bonitas – viraram um verdadeiro ninho de gazelas, onde todos os operários queriam trabalhar para vê-las de perto. Na década de 60, porém, elas começaram a ter acesso ao estudo público e abandonaram o trabalho para fazer licenciatura e outros cursos. Hoje em dia , algumas das entrevistadas por Roseli dizem não se reconhecer no trabalho fabril, porque foi um período que teve pouco significado na vida delas.

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