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Cândido Miranda e um dos livros que deixa por aí, à mercê de quem os encontrar: “Não há felicidade igual” | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Cândido Miranda e um dos livros que deixa por aí, à mercê de quem os encontrar: “Não há felicidade igual”| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Retrato em 3x4

Cândido Miranda atua profissionalmente como laboratorista. Também é escritor e soma cinco livros de contos e crônicas publicados. Há quase 10 anos, "esquece" alguns livros pelo Centro de Curitiba para que as obras possam fazer parte do dia a dia de outras pessoas.

"Em Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, vivia um jovem muito simples. Aos 10 anos de idade ele escreveu um poema, no qual retratava sua infância, a família, a mãe cega e os cinco irmãos. O poema lhe serviu como uma janela para olhar, como um navio para navegar em outra dimensão. Escrever era na verdade uma fuga das dificuldades pela qual passava – na escola, na sala de aula. O menino era eu. E foi assim que comecei a me interessar pela literatura.

Me impressionava ver minha avó Angelina lendo as revistas antigas que guardava, e os livros e a Bíblia que abria todos os dias. Era uma mulher cheia de sabedoria. Mas foi na escola, e não com a avó, que percebi ter o dom da escrita. Quando a professora pedia três linhas, eu escrevia três páginas. Entendi que o talento para escrever podia estar dentro de mim.

Depois disso, tive maus momentos. As dificuldades chegaram quando papai vendeu os caminhões, o sítio, a casa onde morávamos. Foi arrasador. Passamos a viver em uma casa muito velha. Não tinha pia, nem banheiro. Tudo no improviso. A água para cozinhar e tomar banho vinha emprestada da vizinha, dona Fernanda.Ainda garoto eu vendia laranja, banana, puxava compra para madame. Fui marmiteiro da Klabin, auxiliar da construção civil. Lojista. Tive carteira assinada aos 14 anos. Todo dinheiro que ganhava colocava nas mãos de mamãe, que deu rumo certo aos seus seis filhos.

A essa altura, eu já escrevia poemas, poesias, acrósticos e algumas histórias. Sempre levava meus escritos para outras pessoas lerem. Ia à rádio local e sempre cordialmente me diziam: "Filho, teus textos não são para o meu programa". Tentei também o jornal local, sem sucesso. Tudo o que eu escrevia foi ficando em uma gaveta.

Casei tive dois filhos, fiquei viúvo, casei de novo e tive mais um filho. Quando vim para a capital surgiu a oportunidade de contar minhas histórias em uma rádio. Em seguida, resolvi transformar a papelada velha e amarelada em livros. E me perguntei por que não democratizar o que produzia.

Um dia, na Boca Maldita, fingi que tinha esquecido alguns livros de minha autoria em cima do banco. Foi divertido ver de longe a expressão de alegria de quem encontrava um exemplar. Ainda hoje, continuo "pregando essa peça", principalmente na época do Natal. É maravilhoso ver alguém lendo o que a gente criou.

Aos 55 anos – 20 deles passados em Curitiba – posso testemunhar a importância da leitura em minha vida. Lendo podemos ir ao espaço. Ao fundo do mar. Aos mais áridos desertos. Podemos percorrer lugares aos quais nunca fomos. Viajar em outras vidas. Ao ler, rimos e choramos... A leitura enriquece, nos faz viajar em sensações, emoções. Tive dificuldades na vida, mas hoje me sinto realizado. Posso dizer que sou leitor e escritor."

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