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Ela tem 27 anos, é formada em Engenharia Civil, fez sapateado por 15 anos, fotografa profissionalmente, mas é mais conhecida por ser a vocalista do Copacabana Club, a banda curitibana mais visível em âmbito nacional. Camila, na realidade, está à frente de um conjunto que irradia alto astral, em meio a batidas sedutoras e melodias contagiantes. Quando requisitada, também discoteca em casas noturnas. Bebe apenas uma xícara de café por dia.

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As 24 horas diárias parecem insuficientes para Camila Cornelsen. Mas, apesar das urgências e impulsos, a curitibana de 27 anos faz questão de dormir oito horas todo dia. Até porque precisa estar com a voz descansada para dar conta de uma de suas principais atividades. Camila é a vocalista do Copacabana Club, o conjunto musical de Curi­­tiba com mais visibilidade e repercussão em tempos recentes.

No momento, o quinteto faz os ajustes das 13 canções que devem dar corpo ao primeiro álbum, a ser lançado em 2011 no Brasil e no exterior. A produção terá a assinatura de Dudu Marote, responsável por sucessos de outras bandas, como Skank e Pato Fu. Por enquanto, a estratégia é manter silêncio a respeito dessa empreitada que pode tornar o Copacabana Club mais conhecido.

Não falar tudo é uma característica de Camila. Ela pode ser definida como uma pessoa reservada. Quem a vê dançando à frente dos Copas, talvez até venha a pensar que é uma baladeira, pela desenvoltura que ela tem diante de uma plateia. Mas que nada. Um de seus programas prediletos é cinema, em salas de exibição ou em casa. Em seu quarto, há um projetor que viabiliza sessões exclusivas. Ela diz que confere um novo filme a cada dia, exibido na parede.

No entanto, defini-la como cantora e cinéfila ainda não a traduz completamente. A fotografia é ou­­tra paixão. Filha do fotógrafo Ito Cornelsen, Camila faz dos cliques uma fonte de renda e prazer, pois, se fica sem escrever com a luz, começa a sentir que o chão está ruindo ou, pelo menos, que algo es­­tá fora de ordem.

Sentada em uma cadeira no Lucca Café, na Alameda Presidente Taunay, no Batel, Camila chamava a atenção dos transeuntes na última segunda-feira (11), quando conversou, durante cinco horas, com o repórter da Gazeta do Povo. O poeta e dramaturgo Alexandre França reparou que ela está com o cabelo diferente. A obervação fez com que ela comentasse um outro projeto.

Camila, agora loira, esteve anteriormente ruiva, e atualmentepesquisando a respeito de quem tem os cabelos com a cor próxima da tonalidade do fogo. O objetivo é publicar um livro que já tem título: True Ruivos. A cantora conta que teve acesso a um levantamento que aponta que 4% dos humanos são ruivos. "O assunto me fascina", diz, antes de sorver um gole de água com gás.

Bastam 20, no máximo 30 mi­­nutos de conversa para o interlocutor se dar conta de que os horizontes de Camila são amplos, e parecem, em alguma medida, não ter fim.

Amanhã tem revolution

Em 2005, o mundo parecia um labirinto sem saída para Camila. Ela havia se formado em Enge­­nharia Civil. O avô, Ayrton Cor­­nel­­sen, o Lolô, um sujeito que bo­­lou algumas das mais elogiadas edificações aqui e em outros pontos do planeta, soltava rojões e contava para quem estivesse por perto que a neta de ouro iria seguir os seus passos. Mas a neta de Lolô pegou outra estrada. Mais especificamente, a BR-116.

Durante nove meses, fez um pouco de tudo em São Paulo. Esteve em um programa de pós-graduação e foi garçonete em uma boate. Por pouco, não foi contratada pela IBM. Voltou para Curitiba. E decidiu ficar por aqui.

O clima curitibano, incluindo garoa e dias quentes, fez bem para ela, que nem viu o tempo passar. E, como se tudo estivesse escrito, Camila se viu em pleno mês de junho de 2007, a partir de quando tudo iria começar a ficar bem diferente. O cenário: o James Bar, na Avenida Vicente Machado. Lá, uns amigos dançavam e sonhavam em fazer uma banda para colocar muita gente dançando. Alec (guitarra), Lulli (guitarra), Tile (baixo) e Clau­­dinha (bateria) marcaram um en­­saio. Convidaram Camila, que ficou feliz e ao mesmo tempo apreensiva: ela não sabia o que iria fazer naquele encontro musical.

Nascia, então, meio sem planejamento, e sobretudo sem qualquer pretensão, o Copacabana Club. O que era apenas brincadeira, começou a ficar sério. O quinteto foi convidado para ser a atração de uma festa de fim de ano. O repertório autoral, todo com letras em inglês, foi elaborado ao sabor do prazer de cada ensaio. Na estreia, Camila desceu do palco para dançar com o público, o que é uma de suas marcas registradas, até hoje. "Não foi premeditado, mas funcionou. Afinal, gosto de dançar e apenas expresso isso durante as apresentações do Copa", conta.

Camila, fã de Alfred Hitchcock, fotógrafa, engenheira e vocalista, também é bailarina. Estudou sapateado durante 15 anos. E, aos que supõem que são en­­cenadas as coreografias cheias de bossa feitas durante as performances do Copacabana Club, ela esclarece: "Apenas entro na música, e deixo o meu corpo seguir o ritmo."

O mundo começou a girar rapidamente em 2008. O grupo gravou o EP King of the Night, com quatro faixas, liberado na internet. Muita gente gostou do som dos Copas, mas foi uma reportagem do jornalista Thiago Ney, publicada no jornal Folha de S.Paulo, que abriu muitas portas para o quinteto. "A banda parece ter um talento nato para construir melodias perfeitas, aliando guitarras de garagem e sintetizadores new wave. Dá para ouvir as excelentes 'Just Do It' e 'Come Back' na internet. Pop-rock do melhor feito no Brasil", escreveu Ney, instigando o público a ouvir o Co­­pa­­ca­­bana Club.

Depois da matéria na Folha, a banda subiu em palcos paulistanos, mas um grande trunfo viria de um projeto patrocinado pela Levi's. De prático, eles conseguiram produzir o videoclipe para a canção "Just Do It", que estreou e foi veiculado durante meses na MTV Brasil e ainda foi utilizado pelo canal Fox como uma vinheta repetida continuamente nos países da América Latina.

O moinho que é o mundo

Nos oito, nove shows que os Copas realizam todos os meses, "Just Do It" é a canção ainda hoje, três anos depois do início de tudo, que faz toda plateia chacoalhar. A letra, de Camila, fala da possibilidade de se reinventar a partir de impulsos genuínos. Esse texto, simples mas visceral, tem muito a ver com a trajetória da banda. Se o Copacabana Club surgiu de um encontro de amigos, em um segundo momento eles assumiram uma postura profissional.

Entre março e abril deste ano, passaram 23 dias, o tempo do visto de trabalho, nos Estados Unidos. Foram oito shows em quatro cidades: Austin, Nova York, Boston e Filadelfia. O Copacabana Club, já com Rafael Martins (guitarra) no lugar de Lulli, foi atração do South by Southwest, tradicional festival realizado no Texas. No dia 23 de abril, a banda fez o show de abertura para a apresentação do astro norte-americano Moby, no Credicard Hall, em São Paulo.

Camila foi de bicicleta para a entrevista, e conta que costuma pedalar para manter a silhueta em forma. A possibilidade de circular sobre duas rodas não motorizadas é um dos prazeres que encontra no cotidiano de Curitiba. A brisa e o mar do Rio de Janeiro e o cheiro de óleo diesel dos engarrafamentos de São Paulo não a seduzem. Ela e os outros Copas querem mesmo é viver por aqui.

Os motivos?

"Todos", diz Camila. Durante a entrevista, ela reparou que o dramaturgo e ator Diego Fortes circulava pelas dependências do Lucca Café. "É o ator daquela peça, não é?", perguntou Camila, referindo-se a Os Invisíveis, montagem em cartaz no Teatro Novelas Curitibanas, na qual Fortes atua e assina o texto. "Os Invisíveis fala dos que ficam em segundo plano, sejam empregados ou mortos. É uma ótima montagem", diz Camila, completando que a cena cultural curitibana é, em sua avaliação, uma das mais instigantes do Brasil.

Do jazz de Hélio Brandão ao folk da banda Rosie and Me, ela poderia passar a tarde citando artistas curitibanos que admira. Mas Camila, apesar de loquaz, e de clareza no discurso, não fala muito sobre si mesma. A queda na temperatura da útitma semana fez com que cobrisse, com uma jaqueta, as muitas tatuagens que tem pelo corpo, que magnetizaram olhares na apresentação da banda na edição 2009 do Festival Lupaluna 2009, maratona de shows promovida pelo grupo RPC.

Camila conta que funciona melhor nas madrugadas, fato que a ajuda durante as incursões que faz como DJ em casas noturnas de todo o Brasil. Mas, mesmo assim, com tanta informação, é quase impossível tentar decifrar essa artista múltipla. Talvez a letra de "Just Do It", na qual ela fala do poder permanente de transformação do ser humano, dê pistas sobre essa curitibana que segue, continuamente, se reinventando, entre falas e muito silêncio.

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