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Paulo Salamuni no biarticulado | Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo
Paulo Salamuni no biarticulado| Foto: Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo

Paulo Salamuni

Nascido em Curitiba, em Paulo Salamuni tem 54 anos. Desde 1991, exerce a função de vereador – ainda que tenha ficado apenas como suplente nas eleições de 1996 e 2008. Em 2013, foi eleito presidente da Câmara para um mandato de dois anos, que se encerrou em janeiro deste ano. Nesta semana, aceitou o convite de Gustavo Fruet para assumir a liderança do prefeito na Câmara. É sua primeira legislatura como um vereador da base – antes disso, foi sempre de oposição. Foi filiado ao PMDB até 2005 e, depois, ingressou no PV.Além de seu mandato como vereador, Salamuni é também ligado ao movimento escoteiro. Presidiu a União Brasileira dos Escoteiros entre 2002 e 2009. Foi, também, presidente do Clube Sírio Libanês do Paraná, entre 2009 e 2011 – todos os seus quatro avós vieram do Líbano. Formado em Direito pela PUC-PR, é procurador municipal desde 1996. É filho de Riad Salamuni, primeiro reitor eleito da UFPR em 1985, e Hôda Salamuni, e tem três irmãos. É solteiro e não tem filhos.

  • O vereador Paulo Salamuni começou sua carreira no movimento estudantil. Foi de uma vez por todas. Tornou-se um político em tempo integral. No Jardim Botânico, onde mora, pode ser visto em conversa na calçada, às voltas com questões paroquianas. Usa carro, mas é passageiro do biarticulado. A bordo do coletivo, exerce sua maior habilidade – a fala intensa, incansável, sobre qualquer assunto. Se preciso for, recorre ao Império Romano para explicar alguma coisa. Dá voltas. Nunca nega o verbo. Ei-lo
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Era o auge da carreira política de Paulo Salamuni. No dia anterior, ele havia sido alçado à presidência da Câmara, depois de passar 21 anos como vereador de oposição – a maior parte do tempo, no exercício do mandato. Seu compromisso para o dia era um almoço com Gustavo Fruet, também recentemente empossado. Era de se imaginar que tal ocasião requisitasse o salão mais nobre de um extravagante – ainda que brega – restaurante de Santa Felicidade, com correligionários, comissionados, jornalistas, fotógrafos, assessores, aspones e beldades desfilando entre uma horda de garçons atordoados, com dezenas de porções de frango à passarinho e risoto equilibradas em seus braços. Uma demonstração incontestável de poder. Os dois preferiram, porém, comer sozinhos uma frugal lasanha na casa de dona Ivete, mãe do prefeito. Nada podia ser menos apropriado para dois políticos.

VÍDEO: Veja vídeo sobre Paulo Salamuni

SLIDESHOW: Veja ensaio fotográfico de Alexandre Mazzo

Ninguém poderia ter um perfil tão oposto ao que se espera de um presidente do Poder Legislativo da capital quanto Salamuni. Ao longo de sua carreira política, nunca demonstrou as qualidades e defeitos necessários para um chefe de poder – a capacidade de articular e desarticular, unir e desunir, erguer o palanque e puxar o tapete, jogar o jogo da política como um Derosso, um Aníbal, um Sarney. Pelo contrário: é famoso pelos discursos exageradamente eloquentes, pelas escolhas políticas pouco pragmáticas, pela defesa arraigada de conceitos distantes da prática do parlamento. Um homem que prefere lasanha ao poder.

Sempre vereador

Isso não significa que Salamuni não seja um político. Aliás, poucas pessoas em Curitiba encarnam o personagem político como ele. Em duas ocasiões, desde que tomou posse como vereador, perdeu as eleições e ficou na suplência. Mesmo assim, circulava pelo Jardim Botânico, bairro onde a família vive há mais de 40 anos, conversando com os moradores, buscando soluções para os problemas paroquiais. Não por acaso se refere a parlamentares que deixaram a Câmara pelo título de "sempre vereador".

Na última derrota eleitoral, em 2008, parecia estar destinado a assumir de vez o título de "sempre vereador". Alguns anos antes, tinha deixado o PMDB após entrar em rota de colisão com Roberto Requião, um de seus aliados de primeira hora. Na época, o então governador impediu que Fruet se candidatasse a prefeito pelo partido. Filiado ao PV, Salamuni chegou a disputar o Senado em 2006, mas a maior exposição não foi suficiente para que recuperasse os apoios perdidos após a troca de legenda.

Sair do PMDB foi uma decisão difícil: iniciou sua carreira na juventude do partido, nos anos 80, período de efervescência política no país. Como jovem liderança peemedebista, interagiu com algumas das figuras sobre as quais decalcou sua carreira política: Ulysses Guimarães, Teotônio Villela e, principalmente, Pedro Simon – com quem se identifica particularmente por "ser árabe, baixinho e falar pelos cotovelos". Além, claro, dos paranaenses José Richa e Maurício Fruet.

Enquanto o Brasil vivia uma era de otimismo com a transição para a democracia, Salamuni cursava Direito na Universidade Católica – hoje, PUC-PR. Após ser duramente combatido durante a ditadura, o movimento estudantil ressurgia naquela época. Com seus colegas, fundou o Centro Acadêmico Sobral Pinto em 1980, e passou a se dedicar à militância na universidade – em uma época na qual as lideranças políticas estavam realmente próximas da sociedade civil.

Não era só a política estudantil e partidária, porém, que aproximava o jovem Salamuni de figuras como Ulysses, Simon, Richa e Fruet. Seu pai, o geólogo e professor da UFPR Riad Salamuni, foi o primeiro reitor eleito da história da instituição, em 1985. Tal feito exigiu a mobilização política da comunidade universitária. Assim, se aproximou das principais lideranças democráticas da época. E, nesse processo, a sala de estar de sua casa no Jardim Botânico virou mais um ponto de encontro do universo político.

Ali, o choque pacífico entre a política e o dia a dia da faculdade de Direito era inevitável. Conta Salamuni que chegou a atuar como cupido neste meio. Foi lá que sua colega Débora conheceu um deputado federal do PMDB jovem e boa pinta, com aspirações de se tornar senador: Álvaro Dias. Os dois são casados até hoje, e tem dois filhos. Ele próprio, entretanto, continua solteirão. Não sabe dizer o porquê: por um lado, testa a hipótese de que a vida na política, ainda mais a política do seu jeito idiossincrático, dificulta a formação de uma família. Porém, admite também que temia não ser capaz de formar um núcleo familiar tão sólido quanto o que tivera como jovem.

Sólido não significa livre de conflitos, porém. Em 1982, ele botou na cabeça que queria ser vereador. A oportunidade era ótima: o PMDB vivia o auge de sua popularidade, e, como se dizia na época, "até um poste" conseguiria se eleger. O pai, experiente, jogou o balde de água fria: "só saia candidato depois de concluir a universidade. A Câmara é um moedor de carne, você pode acabar com a sua vida se for eleito", disse. Hoje, meio a contragosto, admite: o pai estava certo.

Formado, foi se candidatar somente em 1988. Os tempos eram outros: o candidato peemedebista, Maurício Fruet, foi derrotado por Jaime Lerner. O PMDB perdeu mais de dez vereadores. Como resultado, Salamuni acabou ficando somente com uma distante quinta suplência. Após uma sequência de mortes, eleições e nomeações para o secretariado estadual, acabou se tornando vereador no dia 23 de abril de 1991 – coincidentemente, o Dia Mundial do Escoteiro.

Nem sempre alerta

Antes de ser político, Salamuni é escoteiro. Com orgulho. Seu gabinete é decorado com medalhas, troféus e recordações de suas atividades no escotismo. Foi presidente da União dos Escoteiros do Brasil entre 2002 e 2009 e conheceu o mundo viajando de Jamboree em Jamboree. Sente falta apenas de uma viagem ao Líbano, terra dos seus avós. Reconhece que o momento não é exatamente adequado para uma viagem na região, mas faz uma proposta: pode achar uma solução "salamúnica" para os conflitos entre árabes e israelenses, xiitas e sunitas, sírios e sírios. Nada mais adequado para um atleticano filiado ao Partido Verde.

Pela causa, quase fez uma tremenda burrada. No auge dos protestos de junho de 2013, já no cargo de presidente da Câmara, quase deixou a cidade em polvorosa para participar de um encontro escoteiro fora do país. Só não foi porque levou um sonoro pito da jornalista Teresa Urban.

Quando conta essa história, sua voz fica embargada. Jornalista veterana, vítima da ditadura, Teresa se tornou sua principal conselheira depois que ele assumiu a presidência – virou uma espécie de chefe de gabinete voluntária, sendo a primeira e última pessoa que ouvia para cada decisão que tomava. Os dois tinham em comum a irônica solidão de uma existência dedicada à vida pública, cada um à sua moda, e se tornaram amigos próximos.

Dias antes da viagem, Salamuni comunicou Teresa via SMS que deixaria a cidade. A resposta veio minutos depois, de forma ríspida. "Como você vai deixar a cidade com o povo na rua? Perdeu a noção da sua responsabilidade?" Ele percebeu o que estava fazendo e, algumas horas mais tarde, respondeu que a viagem estava cancelada. Ficaria em Curitiba para acompanhar os desdobramentos do protesto. Às 23h, ela respondeu que estava aliviada. Foi a última mensagem. Minutos depois, teve um ataque cardíaco, ao qual não resistiu.

Esse homem não para de falar

Foi através do escotismo que Salamuni teve seu primeiro contato com a vereança. Quando tinha cinco anos, sua mãe, Hôda, o levou, vestido a caráter, à inauguração do Largo Baden Powell – homenagem da cidade ao fundador dos escoteiros. No palanque, o presidente da Câmara fazia um discurso enfadonho, rebuscado. Os minutos passavam como horas, até que o pequeno escoteiro vira para mãe e diz:

- Ai, que saco, esse homem não para de falar!

Não tem como não rir da ironia. Quem conhece a política de Curitiba, sabe que Salamuni fala mais que o homem da cobra. Durante um depoimento da CPI que investigou o ex-presidente da Câmara João Cláudio Derosso, cada um dos membros tinha direito a fazer três perguntas, cada uma de cinco minutos. Quando chegou sua vez de perguntar, Salamuni iniciou a questão lembrando da história da mulher de César, a quem não bastava ser honesta, precisava parecer honesta. Refletindo sobre isso, gastou os cinco minutos. Pediu prorrogação. Continuou o raciocínio por mais um minuto, e estourou o tempo. Pediu mais trinta segundos.

Quando voltava ao raciocínio, foi interrompido. "Pare de falar sobre a mulher de César e faça logo sua pergunta, Salamuni!", reclamou o presidente da CPI, Emerson Prado. Ele ficou indignado. Quem é o presidente para cercear a liberdade de fala de outro vereador? Depois de muito bate-boca, chegou-se à solução "salamúnica": Salamuni poderia usar todos os quinze minutos ao qual tinha direito de uma vez só. Encerrados os quinze minutos, ainda estava falando sobre a história da mulher de César. Acabou não perguntando nada.

Apesar deste e de muitos outros contratempos, a CPI reanimou a carreira política de Salamuni. Em 2011, ele retornou à Câmara, herdando a vaga deixada por Roberto Aciolli, eleito deputado estadual, e a perspectiva era pouco animadora. A bancada de oposição, da qual participava desde os tempos de Lerner, nunca esteve menor, mais desunida e mais esmagada pelo rolo compressor do governo. As denúncias de irregularidades nos contratos de publicidade da Câmara acabaram servindo como um fator de união e deu visibilidade aos poucos vereadores do PV, PT e PMDB no segundo semestre daquele ano.

Salamuni teve um papel de destaque na investigação do escândalo. Foi indicado pelo PV para fazer parte da CPI e, junto com o petista Pedro Paulo, apresentou um relatório paralelo que responsabilizava Derosso pelas irregularidades. Foi voto vencido, como era de se esperar, mas sua atuação rendeu prestígio político e votos. Foi reeleito em 2012 com uma votação expressiva e, com o apoio de Fruet, virou presidente da Câmara depois de passar 21 anos como um vereador de oposição, sem nunca ter sentado na Mesa Diretora.

Muitos vereadores votaram a contragosto, para não se desgastar com o prefeito. "Se o Salamuni virar presidente, ele não vai deixar a gente tirar nem Xerox na impressora da Câmara", confidenciava um dos parlamentares mais experientes, às vésperas da votação. Como presidente, deu sequência a uma agenda de moralização da Câmara já iniciada na gestão de João do Suco: cortou cargos, instituiu o ponto eletrônico, aumentou a transparência na internet, entre outras coisas. Sua predisposição para o diálogo também deixou a Câmara mais aberta para os outros vereadores do que era anos antes. Não que estas aberturas fossem livres de problemas: a instalação da ouvidoria municipal, prevista para 2013, está quase dois anos atrasada, em grande parte, pela insistência em ouvir todas as partes, o tempo todo.

Além disso, teve a honra de assumir a prefeitura de Curitiba por quatro dias, o que lhe rendeu uma situação no mínimo curiosa. No carro oficial, reparou que passava por uma rua esburacada, e comentou com o motorista: "preciso anotar o nome dessa rua aí para avisar para o prefeito". Ao perceber a expressão do motorista, lembrou: "peraí, o prefeito sou eu!"

Seu período como presidente, porém, não o tornou popular dentro da Câmara. Os servidores se revoltaram contra o ponto eletrônico. Junto com parte dos vereadores, também entraram na Justiça contra a Câmara por sua insistência em não pagar a correção da URV, medida que causaria um rombo de R$ 120 milhões aos cofres do município – decisão de primeira instância deu ganho de causa à Câmara. No fim do seu mandato, o apoio ao prefeito era quase irrelevante: o que contava eram as bancadas de apoio e oposição a Salamuni.

Sendo assim, eleger um sucessor foi mais difícil que eleger a si próprio. Durante o processo eleitoral, teve de tudo: seus opositores chegaram ao extremo de rasgar um documento e tirar um computador da tomada para evitar o registro formal do bloco de Aílton Araújo, um de seus braços direitos na administração da Câmara. No dia da votação, a confusão era tanta que o PSDC constava como inscrito nos dois blocos que iriam participar da disputa – e isso era suficiente para definir o resultado. Caberia ao presidente decidir qual das inscrições era válida.

Durante toda sua trajetória, Salamuni sempre foi adepto das decisões "salamúnicas". Antes de tomar qualquer decisão, ouve todas as partes envolvidas e, acima de tudo, busca o conselho das pessoas que mais admira. Mas Teresa e Riad já não estavam mais lá para dar um pouco de luz. Com uma canetada, ele decidiu que o PSDC era parte do seu bloco. Assim, garantiu a eleição do sucessor.

Conduzindo mr. Fruet

Voltamos a 1991. Salamuni já começa sua carreira de vereador estorvando. Quando foi fazer seu juramento, aproveitou que era Dia Mundial do Escoteiro e, sempre alerta, fez a saudação. Na sequência, emendou um discurso sobre as qualidades do escotismo na formação dos cidadãos. Os vereadores ficaram irados: como esse sujeitinho chega aqui e, sem nem tomar posse direito, já emenda um discurso desse tamanho?

No mesmo dia, saiu da Câmara acompanhado de Jorge Samek. Os dois passaram na frente de uma loja de motos e, meio que de supetão, Salamuni resolveu comprar uma Honda recém-lançada, aconselhado pelo colega. Acabou desenvolvendo um hábito: para espairecer, dá umas voltas de moto pela cidade. Não é algo para o dia a dia. Para ir à Câmara, geralmente vai de carro, mas volta e meia prefere pegar um ônibus. Enxerga isso como uma oportunidade de exercer sua função de vereador, ouvir e sentir na pele as reclamações do povão.

Na realidade, a moto uma forma de passar alguns minutos no anonimato: após tantos anos na política, é difícil ter um momento de privacidade. Não importa onde você esteja, sempre vai aparecer alguém pedindo ajuda com um buraco na rua, uma lâmpada queimada, uma rua que sempre alaga. "E eles tem toda a razão! Não foram eles que vieram pedir para eu ser vereador, sou eu quem peço voto", reflete.

Esses passeios geralmente são rápidos. A rotina de vereador exige tempo. Não são só as sessões, que ele sempre frequentou religiosamente, ou os atendimentos no gabinete. Tem também as inevitáveis ocasiões sociais. Ele conta que, certa vez, foi convidado para quatro casamentos no mesmo dia, na mesma igreja. No final do quarto, viu que o casamento seguinte era de um colega de faculdade com quem não falava há anos. Acabou ficando por lá mesmo.

Apesar da sensação de anonimato, a moto não consegue tirar de Salamuni seus tiques de homem público. Segundo ele, já virou piada entre seus irmãos o fato de que, mesmo irreconhecível atrás de um capacete, dá tchau para os transeuntes toda vez que para em um semáforo.

23 anos depois, ele ainda tem a mesma moto, que cuida com zelo absoluto. É até difícil acreditar que ela seja tão velha. Além dela, possui também um Tempra – que, para começo de conversa, é um Tempra, modelo que deixou de ser produzido em 1999. Ele tem um carinho especial por esse carro: gosta de listar seus passageiros ilustres, que vão de Marina Silva a Requião, passando por Fernando Gabeira e Elias Abrahão – outro peemedebista que gosta de citar como um modelo para sua formação política.

A bordo desse mesmo Tempra, em janeiro de 2013, ele conduzia Fruet de volta para a prefeitura, após a lasanha de Dona Ivete. Além de velho, ainda que bem conservado, o carro não possui insulfilm. Então, a cada semáforo que paravam, os motoristas ao lado olhavam para o carro e ficavam estupefatos: "é o prefeito de Curitiba e o presidente da Câmara dando uma volta de Tempra?"

Depois da vacilação, os motoristas acenavam, buzinavam. Era aquela lua de mel entre os eleitores da cidade e seu prefeito eleito, que, assim como tudo na política, logo passa. Os dois acenavam e buzinavam de volta. "Só espero que os aplausos do início não se transformem nas vaias do final", divaga Salamuni, ao relembrar o episódio após dois longos anos de poder. Faz algum sentido. Após aqueles dias de glória, os dois teriam de enfrentar as realidades da administração público: orçamentos, egos, projetos, críticas, decisões difíceis quase que diárias. Era só o começo do caminho mais difícil que os dois iriam trilhar.

– Imagina o sujeito no carro ao lado, "a cidade de Curitiba está sendo conduzida por aqueles dois cidadãos ali no Tempra!" – comentava Salamuni, aos risos, durante o trajeto.

– Eu só não sei como é que deixaram a gente chegar até aqui! – respondia Fruet, às gargalhadas.

Ao chegar na sede da prefeitura, ele dirigiu até o estacionamento reservado a Fruet e seu secretariado. Nisso, "metade da Guarda Municipal" – nas suas contas sempre exageradas – corria em direção ao carro, já aos berros: "vocês não podem estacionar aqui, essas vagas são das autoridades". E constataram, estupefatos, que o Tempra estava cheio de autoridade.

A outra face de Paulo Salamuni

A outra face do político é solitária e vigilante. Quando tem tempo livre, o vereador, que está no cargo há mais de vinte anos, gosta de ver de perto as ruas e as pessoas da cidade. Salamuni costuma passear com a moto que o acompanha desde o primeiro mandato.

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