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Como metrópole, falta-lhe a consciência plena desse fato. Resulta disso a dificuldade para se capturar um retrato sobre uma realidade tão ampla e dinâmica. A opinião de moradores, nativos ou não, da capital e dos municípios vizinhos, reitera o problema. Os que na região habitam já se dividem entre aqueles que aqui nasceram ou que para cá migraram – suas gerações tecem novas histórias e relacionamentos. Traços provincianos convivem com distintas formas de ver e perceber o que representa viver a e na cidade. É interessante que a identidade das pessoas se referencie nos seus espaços, sinal de que é possível alguma urbanidade nos trópicos. Orgulho local, a paisagem curitibana é fruto tanto de uma grande dose de espontaneidade como de ações planejadas, que sistematicamente a vem modificando. Comparada a outras cidades brasileiras de seu porte e importância, Curitiba apresenta-se mais limpa, segura e promissora em oportunidade de empregos e serviços. Na busca de referências, chega a ser modelo no planejamento dos sistemas de transporte, equipamentos sociais e espaços livres, públicos e privados.

Nos serviços públicos, a educação é melhor avaliada do que o atendimento à saúde. Enquanto o transporte coletivo decai em qualidade e eficiência, um crescente número de veículos particulares congestiona ruas e avenidas. Engarrafamentos, atropelamentos e estresse diário (somados à péssima educação no trânsito) tumultuam motoristas e pedestres. Faltam alternativas integradas, tanto no plano técnico como no político e no comportamental, propiciando novas modalidades para se mover e usufruir a cidade. Criar e melhorar passeios e espaços de convívio social são tarefas urgentes e de todos. Além disso, muitos já temem por andar descontraídos a qualquer hora, em qualquer lugar. A insegurança tornou-se um recorrente aspecto do cotidiano, manifestando-se através da disseminação da violência urbana e do consumo de drogas; percebidos não mais apenas nas periferias, mas também em bairros centrais. Mais realistas e zelosos, os habitantes atuais comparam Curitiba com outras cidades e as de origem. Apesar disso, reafirmam o acerto de terem-na escolhido para viver. Otimistas e descrentes se dividem em relação ao futuro. Não há certeza de solução para os atuais e futuros problemas; com razão, teme-se que o aumento da população e o descontrole sobre a urbanização acelerada ampliem sua escala e intensidade. A miséria daqui também não sorri, e a cada dia se faz mais presente. Mendigos, favelas e poluição são apontados como estorvos cada vez mais palpáveis. Contudo, poluição, inundações, desigualdade e exclusão sócioambiental não comparecem na pesquisa; evidenciando a falta de uma maior consciência sobre o território como um todo e de formas adequadas de ocupá-lo. E, isso que, a industrialização daqui nem se deu aos moldes do que ocorreu em outras metrópoles brasileiras.

Concluindo, o desafio é aprender a conviver na crescente heterogeneidade e complexidade sócioespacial metropolitana. Para isso, tem-se de avançar na participação e na co-responsabilidade entre Estado e Sociedade, em todos os níveis de atuação. Não há outro caminho. As soluções emergirão do debate e do compromisso forjado entre todos em relação a desígnios efetivamente compartilhados e negociados. Cobra-se dos curitibanos, portanto, outra mentalidade e escala de abordagem – a regional e a metropolitana. Afinal, cidadania nunca fez mal a ninguém.

Paulo Chiesa, arquiteto, professor da UFPR e secretário de urbanismo de São José dos Pinhais.

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