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Padre Agler Cherizier, da Pastoral do Migrante - Regional Sul, viveu o boom da chegada dos migrantes e agora vê o fluxo minguar. | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Padre Agler Cherizier, da Pastoral do Migrante - Regional Sul, viveu o boom da chegada dos migrantes e agora vê o fluxo minguar.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

O haitiano Gregoire Souffrant, de 27 anos, se levanta de madrugada, bem antes de o dia clarear. Com o estômago vazio, pedala apressadamente para chegar antes das quatro horas ao Ceasa de Curitiba, onde trabalha como carregador – ele é um dos 18,7 mil migrantes do Haiti empregados com carteira assinada no Brasil. Apesar do trabalho fixo, os dissabores que enfrenta por aqui o fizeram desistir do “sonho haitiano” no país. O rapaz planeja ir embora.

Veja vídeo sobre a rotina de busca por trabalho dos haitianos em Curitiba

“Eu quero fazer dinheiro para voltar. A vida aqui está muito cara. O haitiano só trabalha, trabalha, mas a situação está cada vez mais difícil. Jesus também sofreu, então eu não reclamo. Mas eu não quero mais isso”, disse.

Há um ano, a Gazeta do Povo acompanha de perto o dia a dia de Souffrant, cuja história está longe de ser uma exceção. Ele faz parte de uma dinâmica recente: a dos haitianos que querem deixar ou que já deixaram o Brasil. Além disso, o fluxo de migrantes que chegam do país caribenho começa a diminuir.

É como se o Brasil e – mais especificamente – o Paraná começassem a deixar de ser uma “terra de sonhos” para os haitianos.

O fenômeno, que já era notado por instituições, começa a ser captado pelas estatísticas. A expedição de vistos em caráter humanitário – principal documento com os quais os haitianos entram regularmente no Brasil – diminuiu drasticamente.

Dificuldades no trabalho fazem haitianos deixar Curitiba

Fluxo de migrantes do Haiti que chegam à região de Curitiba começa a diminuir. Ao mesmo tempo, desemprego e violações sofridas no ambiente de trabalho têm impulsionado haitianos a quererem ir embora para outros estados ou países.

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Fluxo

Em 2014, foram concedidos 1.873 vistos humanitários a migrantes do Haiti. No primeiro semestre deste ano, foram apenas 10, segundo a assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho e Emprego.

Até a metade do ano passado, Curitiba era a quarta cidade que mais recebia haitianos (4,5% dos migrantes do Haiti moravam na capital paranaense). Pinhais e Cascavel também apareciam na lista dos municípios que mais acolhiam. As principais fontes de emprego eram os frigoríficos e a construção civil, aquecida pela Copa do Mundo. Depois do Mundial, o mercado minguou e o trabalho se tornou mais escasso.

Em 2015, nenhum visto humanitário foi pedido por haitianos na capital paranaense. O aspecto econômico tem sido decisivo neste processo. (veja os dados no gráfico)

“O haitiano migra em busca do pão. Então, ele vai onde está o emprego”, observou o padre Agler Cherizier, coordenador da Pastoral do Migrante - Regional Sul. “A gente percebe que os ‘antigos’ migrantes, que já estão aqui há algum tempo, querem ir embora. Os novos ainda chegam, mas depois de duas ou três semanas sem conseguir emprego, se desesperam e também querem partir”, apontou.

Polícia

Outro termômetro que indica o desaquecimento da chegada é o volume de atendimentos registrados pela Polícia Federal (PF) em Curitiba. Em 2014, o departamento recebia uma média de 60 haitianos por dia. Neste ano, o fluxo não chega a 20. “Aparentemente, o Brasil e, certamente, Curitiba, têm sido um local de menos destino dos haitianos”, resume o delegado Renato Lima.

Passagem

O Paraná continua a receber ônibus de haitianos vindos do Acre – como parte de convênio com o Ministério da Justiça. Mas menos de um terço acaba optando por ficar no estado. A maioria desembarca na rodoviária de Curitiba e já tenta um ônibus para São Paulo ou Santa Catarina. O próprio Comitê Estadual de Refugiados e Migrantes, ligado à Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, confirma que o Paraná se tornou mais um estado de passagem e menos de permanência.

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