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Marcos, Maria Leda e o filho Marcos Paulo: ameaça de desmoronamento de morro vizinho é risco constante | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Marcos, Maria Leda e o filho Marcos Paulo: ameaça de desmoronamento de morro vizinho é risco constante| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Ilhota (SC) - Existe a crença popular de que os grilos verdes levam sorte e felicidade ao local onde decidem pousar. Na manhã da última quinta-feira, um deles escolheu a varanda da casa do mecânico Marcos Mar­tendal, que fica no Morro do Baú, área rural da cidade de Ilhota, em Santa Catarina. Foi de repente e logo os dois filhotes de cachorro se interessaram pelo verde que se movimentava. O filho, Marcos Paulo, 10 anos, teve de ser rápido para impedir que os cachorros levassem embora a boa sorte, que andava rara.

Enquanto isso, Maria Leda olhava a saga do filho desacreditada. Já perdeu a esperança há tempo. Não só nas crenças populares, mas também no futuro. "Tinha tudo programado na vida. Depois de um certo tempo, desanda", diz.

Assim que casasse com Marcos, eles esperariam sete anos para ter o primeiro filho. Assim foi. Construiriam uma casa boa. Assim foi. O filho que tanto gosta de futebol teria um campo. Assim foi. Iriam cada vez mais investir na casa e fazer melhorias. Assim não foi.

Mas no dia 23 de novembro de 2008, a região onde moram começou a ser destruída. A chuva provocou o deslizamento de vários morros, que caíram sobre casas e mataram 32 pessoas no Morro do Baú. A casa de Mar­tendal ficou em pé, mas o mesmo não se pode dizer dos morros próximos. Quando vem uma chuva grossa, não se sabe como a terra irá reagir.

O perigo não é imaginário. Pelo contrário, Maria Leda o vê sempre que sai de casa. É o vizinho da direita. Antes de o perigo ir morar por aquelas bandas, lá vivia um casal com sua filha de 11 meses. O local era considerado seguro, mas um morro de longe deslizou sobre a casa e matou a esposa, Marinéia Schwambach, 23 anos, e a filha, Larissa. O corpo da me­­nina foi o único que não teve um sepultamento na região. Até hoje não foi encontrado. No lugar da casa, ficaram destroços, onde se encontra até hoje a cadeirinha nova de Larissa. Seria usada para levar a menina num casamento.

Assim, sempre que chove, os vizinhos saem de casa. Passam o dia na residência, mas à noite vão dormir na casa de parentes. Isso já aconteceu pelo menos umas dez vezes este ano com a família de Maria Leda. É o que estão fazendo atualmente, devido às chuvas dos últimos dias. "Vida de cigano não é vida", diz.

Ela conta que vender o terreno é difícil porque ninguém compra. Também o marido gosta de morar naquela região. E não há economia no colchão que aguente começar tudo do zero. Sem escolha, escrever uma carta pedindo ajuda para um apresentador de televisão é o que está mais perto de ser feito. A carta está pronta desde agosto, mas ainda não foi enviada. No fundo, Maria Leda deve nutrir às últimas gotas de esperança, de que as chuvas serão raras na região. Ai se o grilo verde tivesse esse poder....

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