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Depois de ter diagnosticado nível elevado de estresse, Udo Decker resolveu mudar de vida e hoje se sente bem melhor | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Depois de ter diagnosticado nível elevado de estresse, Udo Decker resolveu mudar de vida e hoje se sente bem melhor| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Controle depende de nova visão

Se o estresse está relacionado à forma como se encara os acontecimentos, mudar essa percepção é a principal maneira de controlá-lo. Segundo os especialistas, pessoas muito emotivas tendem a sofrer mais com acontecimentos que para outras têm repercussão muito menor.

A maneira como se interpreta uma situação determina a forma como as emoções são canalizadas. Enquanto algumas pessoas, ao se depararem com situações estressantes, esbravejam, gritam e extravasam toda a raiva, outras simplesmente guardam os sentimentos para si. Ambas as reações são prejudiciais.

Assim como trabalhar para mudar a percepção e evitar a fonte do estresse, a dedicação de um tempo para algo que seja prazeroso também contribui para a saúde. Os exercícios físicos, por exemplo, têm um papel fundamental nesse processo, por liberarem endorfinas, substâncias que proporcionam a sensação de bem-estar. Técnicas de relaxamento, que trabalham a respiração aprofundada, e alimentação balanceada complementam o tratamento.

Cabelos brancos, rugas, aparência abatida. Não é raro encontrar pessoas que sofrem uma forte carga de estresse e parecem envelhecer o equivalente a vários anos em poucos meses. Além de trazer uma série de conseqüências negativas para o organismo, como aumentar o risco de enfarte em até três vezes, o estresse crônico é capaz de acelerar o processo de envelhecimento.

Os mecanismos fisiológicos envolvidos nesse processo ainda não foram totalmente desvendados pela ciência, mas já se sabe que o estado psicológico tem efeitos marcantes sobre a longevidade das células. Ou seja, o nível de estresse e a forma de encarar os problemas são capazes de causar conseqüências permanentes na capacidade de reprodução celular.

De acordo com a psicóloga Roseli Ferreira da Lage, pesquisadora do Centro Psicológico de Controle do Estresse, as alterações emocionais têm implicações nas funções fisiológicas do organismo. "O estresse causa um dano no DNA das células, há uma perda em determinadas estruturas e a célula vai perdendo a capacidade de se reproduzir", explica. Segundo o coordenador do Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Luís Roberto Ramos, algumas pesquisas sugerem a relação entre o estresse e o processo de oxidação celular. "A secreção de alguns hormônios como o cortizol e a adrenalina, que na verdade é um neurotransmissor, acelera o metabolismo celular e aumenta o desgaste das células", explica.

Embora já se tenha algum conhecimento sobre os mecanismos envolvidos, os cientistas ainda não sabem explicar porque algumas pessoas respondem de forma diferente a esse desgaste. "O estresse não tem a ver apenas com a grandeza e o impacto do acontecimento, mas com o jeito como a pessoa percebe a situação. Um mesmo evento pode ser altamente estressante para uma pessoa e para a outra não", explica Roseli. Para a pesquisadora, trata-se de uma percepção individual que tem muito mais a ver com a experiência de vida de cada um do que com a magnitude do evento.

Estímulo contínuo

Em condições normais, o estresse funciona como um impulso para que o corpo reaja frente a situações do dia-a-dia. É como um combustível que estimula o organismo. O problema começa quando o estímulo se torna contínuo. "Uma pessoa estressada fica 24 horas sob a ação de hormônios e neurotransmissores que deveriam ser secretados apenas em situações estressantes. Isso traz conseqüências para o organismo, pois desequilibra determinadas funções fisiológicas", explica Roseli.

De acordo com o psicólogo Marco Aurélio Hernandes, a ativação constante das áreas de luta e fuga do sistema nervoso simpático acelera o metabolismo como um todo, desequilibrando o sistema imune e abrindo a porta para a ocorrência de outras doenças. "O estresse crônico traz junto o aumento da pressão arterial, eleva o risco de diabete", exemplifica. Além disso, alguns estudos sugerem que altos níveis de cortizol no cérebro também predispõem à ocorrência de depressão.

Se por um lado o estresse acelera o processo de envelhecimento, de outro o envelhecimento também favorece a ocorrência do estresse. "O corpo mais frágil, a ocorrência de doenças crônicas e as perdas comuns a essa fase da vida favorecem o aparecimento do estresse", explica Roseli. Segundo ela, é importante que ao envelhecer as pessoas aprendam a valorizar as coisas boas, e não focar apenas nas perdas. "É preciso saber aproveitar as mudanças da vida. Se a aposentadoria permite que não se tenha mais horários, aproveite isso para fazer o que gosta, cuidar de si próprio e procurar atividades prazerosas", aconselha.

Mudança de hábitos

Aos 52 anos, Udo Decker percebeu que tinha chegado ao limite. Trabalhando cerca de 10 horas por dia em dois empregos, ele se via estressado e preocupado com os projetos profissionais e os problemas pessoais. "Não dormia direito, emagreci, tinha dor no estômago e a pressão estava altíssima", relata.

Udo foi diagnosticado com um nível de estresse elevado, o que o levou a tomar uma decisão radical. Abandonou os dois empregos e mudou-se para o litoral de Santa Catarina, onde agora trabalha como representante comercial. "Faço meus horários, tenho mais tempo para mim, tenho feito caminhadas, hoje me sinto bem melhor", conta. Além de desacelerar o ritmo de vida, Udo passou por sessões de terapia que o ajudaram a mudar a forma de encarar os problemas. "Aprendi a não me culpar, a focar no que realmente importa, rever valores e priorizar a saúde", diz.

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