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A falta de tempo e de paciência por parte dos médicos e o medo que o paciente tem de questionar são apontados como os principais motivos da deterioração da relação médico-paciente. Por mais preocupado e interessado que esteja em entender o que afeta sua saúde, o paciente se encontra em uma condição de fragilidade que muitas vezes o leva a deixar o consultório cheio de dúvidas. O médico, por sua vez, tem uma rotina cada vez mais agitada. Atendendo muitas vezes em mais de um local, acaba lançando mão de exames complementares como principal base para o diagnóstico. O resultado disso se reflete em um atendimento cada vez mais superficial.

Para o secretário-geral do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Donizetti Giamberardino Filho, a tecnologia é a principal causa do distanciamento entre médico e paciente. Atualmente o médico considerado bom é aquele que pede uma imensa quantidade de exames, e não aquele que conversa com o paciente. "Parte da responsabilidade dessa situação é das operadoras de saúde, que administram essa relação muitas vezes privilegiando a eficiência financeira do médico. O profissional que gasta mais tempo nas consultas é visto como lento e não produtivo", afirma.

Donizetti chama atenção para o fato de a classe médica dar cada vez menos importância à chamada anamnese, o exame clínico do paciente. Hoje em dia, o tempo médio de uma consulta costuma ser de aproximadamente 5 minutos. Por isso, a maioria dos diagnósticos é dada a partir de exames que deveriam apenas complementar as consultas. "Acho muito difícil que um médico consiga fazer um bom atendimento, examinando o paciente, explicando o que ele tem, solicitando algum exame complementar e prescrevendo alguma medicação em menos de 15 minutos", destaca.

De acordo com o médico, a maior parte das queixas que chegam ao conselho não diz respeito a erros médicos graves, mas sim à falta de comunicação nos consultórios. "Se pegarmos toda a história da Medicina, vamos ver que durante grande parte do tempo, o papel do médico não era o de prescrever medicação, mas sim de ouvir o paciente, cuidar dele. Nessa relação a confiança é fundamental", considera.

Para a coordenadora do curso de Medicina da UFPR, Claudette Reggiani, a formação de profissionais voltados não apenas para a técnica, mas também para o lado humano é vista como prioridade na universidade. O oncologista Roberto Bettega, do Hospital Erasto Gaertner, compartilha da mesma opinião. Segundo ele, uma das principais falhas na formação do médico atualmente é no que diz respeito à capacidade de comunicação. Para ele, profissionais das áreas de infectologia e oncologia, que rotineiramente precisam dar diagnósticos de doenças graves, deveriam ter uma formação mais incisiva neste ponto. "Às vezes uma notícia ruim dada de forma inadequada pode causar um trauma no paciente e comprometer todo o tratamento", diz.

Esconder informações do paciente ou da família, no entanto, também não é o melhor caminho. Embora muitos doentes tendam a não questionar sobre o tratamento e seus efeitos colaterais, é papel do médico esclarecer todas as dúvidas. Segundo Bettega, é fundamental que sejam expostos a real condição de saúde do paciente e as alternativas de terapia: "A conversa com a família é essencial, já que muitas vezes os parentes passam alguma informação que o próprio paciente não havia comentado".

Conhecer o paciente e compreender a realidade na qual ele está inserido também tem reflexos positivos no decorrer do tratamento. "O que falta hoje em dia é mais incentivo para que o médico tenha uma visão integral do ser humano, que não trate a doença, mas sim o paciente", resume Donizetti.

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