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Londres vai seguir os passos de Nova York e transformar seus telefones públicos em torres de internet. O LinkUK deve ser uma espécie de oásis eletrônico no meio da cidade: além de acessar internet gratuita em alta velocidade, a pessoa vai poder recarregar seu aparelho, fazer chamadas gratuitas e ter acesso a serviços, como o mapa da região. Os primeiros cem quiosques vão ser instalados no bairro de Camden, já em 2017. O objetivo é chegar a 750 nos próximos anos, na região central de Londres e em outras grandes cidades britânicas, segundo a operadora telefônica BT.

A tecnologia vai ter custo zero para o usuário e para o contribuinte. Quem paga a conta é a publicidade, por meio de uma parceria com a agência de propaganda Primesight. Além de explorar anúncios nos displays eletrônicos do LinkUK, a empresa vai ter direito a utilizar os quase 17,5 mil telefônicos públicos tradicionais da BT ao redor do Reino Unido.

Cartão-postal

Boa notícia para os turistas. As cabines telefônicas vermelhas - cartão postal tradicional londrino - não vão ser eliminadas pelo LinkUK. De um total de 6.783 telefones públicos da cidade, as vermelhas são apenas 602 (são oito mil em todo o Reino Unido). A operadora BT têm como política preservar as casinhas vermelhas. Em alguns locais o telefone foi mantido. Em outros, o espaço foi transformado em minibibliotecas, pequenas galerias e até em um pub temporário.

O projeto é uma parceria com a Intersection, que é controlada pela Sidewalk Labs (divisão de cidades da Alphabet, do grupo do Google). Em janeiro deste ano, a empresa começou a substituir os telefones públicos de Nova York por estações de internet, o LinkNY. A experiência adquirida nos EUA deve ser exportada para o outro lado do Atlântico, como as táticas para evitar o acesso a conteúdo pornográfico (o serviço norte-americano tinha um browser, que dava acesso a qualquer site na internet, no começo; a opção depois foi retirada, o que também espantou usuários que ficavam horas a fio nos quiosques, navegando na web).

“Nós estamos evoluindo as cabines telefônicas para torná-las relevantes para o século 21 ao oferecer internet ultrarrápida e um punhado de serviços digitais e informação totalmente de graça”, disse o entusiasmado CEO da divisão de Vendas da BT, Gerry McQuade, em comunicado oficial. Um dos objetivos é reduzir a poluição urbana. O LinkUK ocupa menos espaço (são dois displays digitais com menos de 1,40 m de altura) e vai ser instalado em número menor do que o de orelhões a serem substituídos.

Mas a grande sacada do Link - tanto nos EUA, como na Inglaterra - é a coleta de dados. Enquanto aproveita o acesso gratuito à internet, o usuário gera informações que são agregadas à rede e podem ser aproveitadas tanto pelo poder público quanto pela iniciativa privada. Uma possibilidade é direcionar os anúncios exibidos para o perfil de pedestre que circula pelo local, ou criar um “horário nobre” para a propaganda (quando mais gente passa por ali).

Para o poder público, os dados geram uma pesquisa de origem e destino - que é fundamental para planejar a mobilidade urbana - praticamente em tempo real. Além dos dados coletados pelos usuários, os quiosques vão contar com sensores para captar informações em tempo real sobre o ambiente local, como poluição sonora e do ar, temperatura e condições de tráfego.

Não por acaso a Sidewalk Labs, que deu origem ao Link, é também a criadora do “Flow”. Que, por sua vez, é um software que quer dominar os dados sobre trânsito, reunindo em um só lugar informações produzidas pelos usuários (pelo Google Maps e Waze, por exemplo) e aquelas coletadas por “braços físicos”, como quiosques e totens. O Departamento de Transporte dos Estados Unidos também participa do desenvolvimento do Flow.

Privacidade

A coleta de dados (ainda) não é motivo para alarde, para o professor Leandro Escobar, coordenador da especialização em Big Data da Universidade Positivo. Se por um lado é fundamental que um marco regulatório garanta o direito do usuário à privacidade, por outro é importante que as informações sejam compartilhadas com o poder público, e mesmo com a iniciativa privada.

Um desafio é encontrar um modelo de negócios para as empresas de telecomunicações, em uma realidade em que os usuários cada vez ligam menos e usam mais a internet. “Essas empresas precisam de dinheiro para continuar existindo. Se elas não forem sustentáveis, a gente não vai ter pacote de dados”. E uma alternativa é esta união com a publicidade, para explorar estes dados comercialmente.

“Hoje já é possível fazer um mapa de calor sobre os posts de um assunto, por exemplo, dentro de um shopping center [e direcionar os assuntos para esse público]. Ao substituir o telefone público por um totem de wi-fi, você leva isso para a rua, e vira um ativo de altíssimo valor para as empresas e, em especial, para o publicitário”, explica Escobar.

Por outro lado, ele defende que o usuário não seja ingênuo. É importante que as pessoas entendam que, ao aceitar determinadas condições de uso, elas se dispõe a ter seus dados observados. É o que acontece quando o usuário autoriza um App qualquer a ter acesso a seus dados do Facebook, por exemplo.

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