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Rocinha, no Rio. Na cidade olímpica a segregação tem  suas particularidades, mas guarda relação com desigualdades espaciais em outras cidades no Brasil e no mundo. | chs/pa/Christophe Simon/AFP
Rocinha, no Rio. Na cidade olímpica a segregação tem suas particularidades, mas guarda relação com desigualdades espaciais em outras cidades no Brasil e no mundo.| Foto: chs/pa/Christophe Simon/AFP

Para especialistas, há um consenso de que a segregação racial no Rio de Janeiro tem raízes históricas. Remontam pelo menos ao início do século 20, quando a reforma urbana do prefeito Pereira Passos “empurrou” as pessoas pobres, que até então viviam em cortiços no Centro da cidade, para os morros, que à época ficavam às margens da cidade. Muitos eram negros, recém-libertos da escravidão, abolida 20 anos antes. “Ele dizia que o futuro da cidade era que em 100 anos ela seria branca, com uma raça mais ‘pura’” conta Lelette Coutto, coordenadora da Ceppir, órgão de promoção da igualdade racial vinculado à prefeitura do Rio de Janeiro.

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Entre os anos 1950 e 1960, houve o despejo da favela da Catacumba, na Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos metros quadrados mais caros do país. “Ali existia uma comunidade negra. Foram expulsos e jogados para vários conjuntos habitacionais na Cidade de Deus e em Jacarepaguá”, conta o advogado Marcelo Dias, presidente da comissão de Igualdade Racial da OAB-RJ.

Na política pública, a história só começou a mudar em 1988, com a criação do Conselho de Defesa dos Direitos do Negro (Comdedine), conta Lelette Coutto. A Ceppir é de 2009. A coordenadoria age junto a outras esferas do governo municipal, como na criação da lei que instituiu cotas para afrodescendentes no serviço público, na aplicação das leis que instituem o ensino das culturas afro-brasileira e indígena nas escolas, e no acompanhamento a denúncias de racismo. É uma história curta de inclusão contra anos de segregação, resume a coordenadora.

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Apesar dos esforços inclusivos, movimento negro e especialistas avaliam que ações recentes contribuem para aprofundar a desigualdade racial. “O Porto Maravilha é uma região que ficou anos abandonada. Ali moravam negros e pobres preto da favela mais antiga do Brasil. Com as obras foram retirados. O prefeito diz que vai ter apartamentos populares, mas eu duvido. Só o que vemos são prédios ricos, modernos”, denuncia Marcelo Dias, da OAB-RJ.

Além disso, diz ele, há um processo de “gentrificação” nas favelas da Zona Sul. Com a expansão da cidade para Oeste, morros como a Rocinha e o Vidigal deixaram de ser locais afastados. E hoje muitos investidores estrangeiros compram terrenos nestes locais para alugar, construir empreendimentos, segundo Dias. Os antigos moradores se mudam para favelas em expansão na Zona Oeste, a mais de 50 quilômetros do Centro.

Não é só o governo municipal que sofre críticas. João Costa Vargas, professor da Universidade do Texas (EUA) que desde 2007 estuda a ocupação militar nos morros cariocas, diz que o modelo das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) fracassou. Ao invés de trazer segurança às comunidades, trouxe medo. Em alguns locais a violência (que de fato diminuiu no início da operação) já voltou a aumentar. E em outros, em áreas mais nobres, a ocupação militar facilitou a especulação imobiliária, expulsando os antigos moradores, segundo o especialista.

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