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Timelapse, ferramenta do Google Earth, mostra a evolução das cidades entre 1984 e 2016. | /Reprodução
Timelapse, ferramenta do Google Earth, mostra a evolução das cidades entre 1984 e 2016.| Foto: /Reprodução

Com mais de cinco mil imagens de satélite compiladas, o Google lançou uma ferramenta que permite viajar pela história do mundo nas últimas décadas e ver a evolução das cidades em menos de cinco segundos. O Timelapse traz um mapa similar ao do Google Earth, com o mundo visto de cima. Ao clique do botão “play”, ele mostra uma sequência de imagens de 1984 até 2016. Dá para assistir cidades surgiram do nada, rios que mudaram de curso, o avanço do desmatamento na Amazônia e até o derretimento das calotas polares.

Uma primeira versão do projeto foi lançada em 2013, pela revista Time em parceria com a Nasa, com base nos dados do satélite Landset, que também é utilizado pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos. Agora, o Timelapse faz parte do Earth Engine, plataforma do Google para pesquisas espacializadas, e forma incorporadas imagens do programa europeu de observação espacial, o Sentinel-2A.

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Fundada em 1989, a cidade de Palmas, no Tocantins, ainda não existia em 1984, data das primeiras imagens. Pelo Timelapse é possível ver o município surgir. O Rio Tocantins, que aparenta ser um riacho nas primeiras imagens, se transforma em um imenso lago, a partir de 2002. Resultado da construção da Usina de Lajeado, finalizada no ano anterior.

No início dos anos 1980, a Região Metropolitana de Curitiba já abrigava 1.440.626 pessoas. Em três décadas, mais do que dobrou. Em 2010, o Censo já estimava 3.223.836 habitantes. No Timelapse do Google, fica evidente a expansão das fronteiras da cidade, em especial sentido Sul. Dá para assistir ao surgimento da Cidade Industrial de Curitiba (1970), no Sudoeste da cidade.

Idealizada nos anos 1970, a CIC foi um dos principais eixos de desenvolvimento do município, nas últimas três décadas. A cidade de Araucária, fronteiriça com o bairro, também se expande. Conhecida como “cidade-dormitório”, Fazenda Rio Grande surge no extremo Sul. Criado oficialmente em 1990, o município passou de 45 mil habitantes (1996) para 81 mil.

As três milhões de pessoas a mais que São Paulo ganhou, nestas três décadas, parece ter se concentrado em grande parte nas periferias, “já que morar no Centro é caro e uma minora pode pagar”, destaca Hugo Nicolau Barbosa de Gusmão, autor do blog desigualdades espaciais. Na Zona Sul há muita expansão, diz ele, mas um adensamento, com casas mais próximas umas das outas e com a construção de sobrados, em especial em substituição aos terrenos baldios, comuns na cidade de São Paulo há cerca de dez ou vinte anos.

Na Zona Leste, a mais populosa, o adensamento é nítido e passa “a sensação de que tudo ficou mais apertado”. Barbosa destaca que esta região não ganhou grandes obras de transporte público ou de áreas verdes. A verticalização, que cresce a cidade para cima, é mais evidente nas regiões centrais, como nas proximidades da Sé, da Faria Lima e da Paulista.

Desmatamento e geleiras

O próprio Google sugere algumas viagens pelo Timelapse. Um deles é para o estado de Rondônia, no Norte do Brasil. O motivo não é dos mais nobres, De 1984 para cá, é possível ver trechos da floresta Amazônica sumindo, fruto do desmatamento.

Só no estado, forma desmatados 55.455 quilômetros quadrados (5,5 milhões de hectares) de floresta, entre 1988 e 2014, segundo dados do projeto Prodes, do INstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em toda a Amazônia Legal, foram 407.675 quilômetros quadrados (40 mi hectares) desmatados no período. Além de destruir parte do ecossistema da floresta, o desmatamento amazônico é o principal responsável pelas emissões brasileiras de gases do efeito estufa.

Outro destaque é a geleira Shirase, na Antártica, um dos locais do mundo onde o derretimento das calotas polares é mais evidente, segundo estudo dos pesquisadores Eric Rignot, do Instituto de Tecnologia da California, e Stanley Jacobs, da Universidade de Columbia. Isto porque nos locais onde as águas profundas têm acesso direito à fronteira da geleira, como em Shirase, fica mais fácil observar o derretimento em uma análise de curto prazo, por exemplo em um intervalo inferior a um século.

Usos para o Timelapse

Ainda que as imagens da evolução das cidades tenham baixa resolução, possibilitando apenas uma leitura macro das transformações espaciais, as possibilidades de uso do Timelapse em pesquisas é gigantesca, acredita o arquiteto e urbanista Alexandre Pedrozo, assistente técnico do Planejamento Institucional do Ministério Público do Paraná (MP).

É possível investigar os processos de urbanização e também as transformações naturais, como as mudanças de curso hídrico, a expansão das fronteiras agrícolas, industriais e imobiliárias. Informações que para os planejadores urbanos e estudiosos “da produção social do espaço” são fundamentais, explica Pedrozo.

Outra possibilidade é produzir provas para “garantir o direito à posse”, em especial para comunidades tradicionais e para autores de usucapião individual e coletivo. No último caso, é necessário provar um tempo de permanência mínimo de cinco anos no loca. “Também será possível confirmar desmatamento e outros impactos, como novos argumentos para fundamentar ações judiciais ou termos de ajustamento de conduta”, defende o arquiteto.

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