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Incentivo

Anvisa quer ampliar presença dos "sem-marca"

A Anvisa instaurou um procedimento no mês passado para tentar agilizar a entrada de genéricos no mercado. O assunto deve ficar em consulta pública até o final de março.

A proposta da agência é tornar obrigatória a liberação de amostras de remédios de referência para que outros laboratórios possam fazer testes de bioequivalência a fim de produzir os genéricos. O teste de bioequivalência permite saber se o remédio genérico tem o mesmo efeito do de referência. Para registrar um novo genérico e similar, o laboratório precisa fazer a análise. No entanto, necessita do produto de referência para fazer a comparação.

De acordo com a Anvisa, muitos laboratórios encontram dificuldade de conseguir o remédio de referência no mercado. Isso porque muitos não estão à venda e são usados somente por hospitais.

Consumidores

Desconfiança como sintoma psicológico

Embora os genéricos não tenham conquistado a classe médica e por isso causem certa desconfiança entre pacientes, o levantamento realizado no ano passado pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste) mostra que para 83% dos consumidores eles são tão eficazes quanto os medicamentos de referência.

Para a farmacêutica Camila Costa, professora da Universidade Federal do Paraná, a desconfiança dos pacientes em relação aos genéricos pode ser apenas um sintoma psicológico. "Talvez alguns pacientes relatem aos médicos que não há resultados com o genérico porque o psicológico deles influencia", suspeita.

Segundo ela, muitas pessoas, ao comprarem o genérico, pensam que o medicamento não vai surtir efeito por ser mais barato. "Sabemos que o psicológico da pessoa influencia muito. Tem gente que consegue se curar de algumas doenças tomando remédios placebo (substâncias sem eficácia terapêutica, utilizadas em pesquisas científicas)", afirma.

Preço

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos), Odnir Finotti, destaca que, por ser cerca de 50% mais barato, o genérico se tornou a principal opção de tratamento para algumas classes sociais. "Se o médico receitar só o remédio de marca, poucos terão condições financeiras de arcar com o tratamento. A aceitação da população se deve a isso também", aponta.

Essa também é a avaliação do médico de Saúde da Família Marcelo Maravieski. Como a maioria de seus pacientes é oriunda de classes socioeconômicas menos favorecidas, ele conta que nem tem como receitar medicamentos de marca. "O médico precisa ver o paciente como um todo, inclusive a condição financeira. Eu só receito genéricos e não sei porque há essa desconfiança por parte da categoria", afirma.

Diferenças

Para entrar no mercado, um medicamento de referência deve ser aprovado pela Anvisa. A agência exige uma série de testes e resultados de estudos que comprovem sua atuação benéfica, seus riscos e efeitos colaterais. Após a aprovação, a empresa responsável detém a patente do remédio por 20 anos, quando perde a exclusividade.

Neste momento entram os genéricos. Como são iguais aos tradicionais, eles dispensam grandes investimentos em pesquisas e testes para comprovar sua validade, além de gerar menos custos de logística e marketing para atrair os consumidores, já que não há uma marca a ser divulgada.

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Milhares de brasileiros chegam às farmácias todos os dias sem saber se devem ou não adquirir medicamentos genéricos – dúvida muitas vezes motivada pela postura de médicos que relutam em prescever esse tipo de remédio. Apesar de estarem há 13 anos no mercado brasileiro e contarem com o incentivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os genéricos ainda são vistos com receio por profissionais de saúde.

Muitos médicos não recomendam esse tipo de medicamento, o que leva os pacientes a adquirirem remédios de marca, geralmente 50% mais caros. Uma pesquisa realizada no ano passado pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste) apontou que 46% da classe médica tem dúvidas sobre a eficácia dos genéricos, e que 42% não tem o hábito de prescrever esse medicamento.

"Sei que os remédios de alguns laboratórios podem ser mais confiáveis, mas de forma geral esse tipo de medicamento não funciona", avalia o neurologista Abouch Krymchantowski. Ele afirma que o tratamento de enxaqueca em vários de seus pacientes não teve efeito quando realizado com os medicamentos mais baratos. "Qual seria o milagre para o genérico ser tão barato e ter o mesmo efeito de outro muito mais caro? Será que o laboratório aceitaria ter um lucro menor? Não acredito nisso", salienta.

O argumento de quem duvida da eficácia dos genéricos está ligado, geralmente, aos testes pelos quais esses remédios são submetidos. Segundo Abouch, as análises de equivalência realizadas entre os medicamentos de referência e os genéricos ainda estão aquém do ideal. "Os genéricos são testados apenas in vitro e não em vivos. Isso vai dar uma diferença enorme no organismo", considera.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos), Odnir Finotti, rebate as críticas. Ele afirma que qualquer medicamento genérico tem o mesmo efeito do original. "Para chegar ao mercado, todos têm de demonstrar que são equivalentes aos de marca, não apenas no que se refere às concentrações de princípios ativos, mas à extensão e velocidade de absorção no organismo humano", diz.

Quem defende os genéricos acredita que os lobbys das principais indústrias farmacêuticas do país exercem forte interferência para que parte dos médicos seja contrária aos genéricos. "Um dos fatores que podem colaborar para essa desconfiança deve estar ligado a cursos e viagens que empresas fabricantes de medicamentos de marca pagam aos médicos. Embora, na teoria, isso não devesse mudar a opinião do profissional", afirma a farmacêutica e professora da Universidade Federal do Paraná Camila Costa.

Para médicos, qualidade depende do laboratório

De acordo com o farmacêutico Rogério Hoefler, do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos, ligado ao Conselho Federal de Farmácia, na teoria todos os genéricos deveriam ter a mesma eficiência dos originais. Entretanto, a preocupação dos médicos está ligada à qualidade dos laboratórios que produzem os fármacos. "Pode ser que eventualmente existam remédios mal elaborados. Aparelhos eletrônicos de diferentes marcas devem passar por uma bateria de testes antes de serem comercializados e mesmo assim alguns acabam não funcionando. O mesmo pode acontecer com os medicamentos", afirma.

O cardiologista Marcelo Freitas tem avaliação semelhante. "Muitas vezes percebemos que alguns genéricos, dependendo do laboratório, não conseguem controlar a doença da mesma forma que o original ou até como um genérico de outra empresa. Alguns não podem ser considerados eficazes", afirma.

Já a farmacêutica Camila Costa diz que não há provas científicas que atestem que os genéricos não funcionem. "A substância usada pelo de marca e pelo genérico é a mesma. O efeito será o mesmo. Os testes são rigorosos", assegura. Ela ressalta ainda que a eficiência do medicamento depende do controle que a Anvisa exerce sobre os laboratórios.

O presidente da Pró-Genéricos, Odnir Finotti, afirma que todos os medicamentos genéricos têm os mesmos efeitos sobre o organismo. "Há um controle de qualidade que determina que todos são tão eficazes entre si e entre os de referência", afirma. Em nota, a assessoria de imprensa da Anvisa informa que todos os genéricos apresentam os mesmos componentes e a mesma eficácia dos originais.

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