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Fontana, a esposa Thereza Cristina, e o retrato de Manoel Ribas | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Fontana, a esposa Thereza Cristina, e o retrato de Manoel Ribas| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Ele foi o político que governou por mais tempo o Paraná. Até o momento não tinha uma biografia que contasse a história dos quatorze anos em que esteve à frente do governo do Paraná, entre 1932 e 1945. Essa lacuna será suprida com a obra Desvendando Manoel Ribas – O homem, a obra, o mito, do advogado, empresário e professor universitário Fernando Fontana, que está sendo lançada neste sábado em Ponta Grossa, na abertura da Exposição Agropecuária e, à noite, na Feira do Livro da cidade. Em Curitiba o lançamento ocorre no dia 17, no Shopping Estação, às 19h30.

Segundo Fontana, o estado do Paraná, “como conhecemos hoje, começou com Manoel Ribas”. O autor explica que foi Ribas quem ligou por meio da Estrada do Cerne o norte do estado à Curitiba e, consequentemente à Paranaguá, reaparelhou o porto, permitindo o escoamento da produção de café, que não precisava mais ser enviado à Santos, e fortalecendo o caixa do estado por meio dos impostos gerados pelos serviços prestados pela administração portuária.

Linha do tempo: Confira a trajetória do homem que mais tempo governou o estado

O livro não tem a pretensão de ser uma obra acadêmica. “Está inserido no contexto do que pode se chamar de história oral”, explica o autor. Fernando Fontana casou com a neta de Manoel Ribas, Theresa Christina Ribas Fontana e obteve dela, do sogro e de outros familiares, muitos dos documentos que deram fundamento à obra. Além de documentos familiares, Fontana se valeu de registros de jornais e documentos oficiais e relatos de conhecidos do ex-governador do estado.

A partir disso, Fontana divide a obra em três partes. A primeira trata do nascimento de Manoel Ribas em 1873, o casamento com Zelinda Cândida da Fonseca, em Castro no ano de 1894, até o momento em que deixa o Paraná para ir trabalhar em Santa Maria, com o cunhado Gustavo Valthier, numa empresa belga do setor ferroviário.

A segunda, apresenta o período compreendido entre 1897 e 1932, em que Ribas viveu em Santa Maria, de sua trajetória na companhia belga, o posterior cargo de diretor da Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul (Cooper) e a eleição para prefeito do município (1928-1932). “Nesse período, Manoel Ribas adquiriu grande conhecimento administrativo. Primeiro empresarial, na companhia belga. Depois político, como prefeito de Santa Maria”.

E a terceira parte do livro relata a carreira de Ribas como o mais longe governador do Paraná, interventor, por determinação de Getúlio Vargas, entre 1932 e 1935 e entre 1937 e 1945, e como governador eleito, entre 1935 e 1937, no período em que vigou a Constituição do Brasil que ficou conhecida como a “Constituição Polaca”. “Cada vez que Getúlio nomeava um interventor ele tinha problema com os grupos políticos dos estados. Quando era governador, Getúlio tinha conhecido Manoel Ribas como prefeito de Santa Maria e viu nele uma solução para administrar o Paraná”, afirma Fontana. O interventor era paranaense, poderia ser mais facilmente aceito, sem, por outro lado, tomar partido das elites políticas locais, que à época se digladiavam no estado.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Fernando Fontana, traça o retrato de um Manoel Ribas intuitivo, que não tinha parentes no governo, muito preocupado com a educação de crianças e jovens e com o desenvolvimento do estado. “Ele era intuitivo, não tinha parentes nem amigos, não era tratado como excelência, para todo o mundo era conhecido como ‘seu Ribas”. Confira trechos da entrevista.

Qual era o perfil político de Manoel Ribas?

Ele foi um político por necessidade. Foi interventor por determinação de Getúlio Vargas. Mas quando houve eleição em 1935, por ocasião da Constituição Polaca, dos 20 interventores que concorreram, Manoel Ribas foi um dos nove eleitos. Não se considerava um político. Tanto não gostava da política tradicional que quando um genro foi eleito vereador, disse a ele. ‘Não entre na política, você vai ter de mudar seu comportamento’. E o genro renunciou. Ele suportava alianças para atingir os interesses do planejamento do futuro do estado, mas não era de fazer conchavos.

Qual foi a principal marca da gestão dele?

A primeira marca foi a integração do norte do Paraná com a capital. Antes dele o norte dependia totalmente de São Paulo. Fez 770 quilômetros de estradas. Ligou o norte do estado, pela Estrada do Cerne, à Curitiba, para que o café pudesse ser exportado pelo Porto de Paranaguá e não mais pelo de Santos. Com a escoação da produção por Paranaguá organizou as finanças do estado, recolhendo impostos decorrentes dessa atividade econômica. Fez também uma reforma do Porto para dar conta do fluxo de produtos exportados. Na área da educação, criou 13 ou 14 escolas rurais, criou grupos escolares pelo Paraná todo, além de 62 núcleos de treinamento do magistério, onde professores recebiam treinamento uma vez por ano. O estado como conhecemos hoje começou com Manoel Ribas.

Que lições podemos tirar do exemplo de Manoel Ribas para os dias de hoje?

O Celso Nascimento escreveu uma frase interessante dia desses. Ele disse que Manoel Ribas foi um governador incomparável. É verdade. Ele tinha uma enorme capacidade de trabalho e de antever as coisas que o estado precisava. O Plano Agache, por exemplo, foi feito no governo dele. Mas é difícil comparar o tempo em que Manoel Ribas viveu com os dias atuais. Naquele tempo construir escolas era um marco; hoje é uma obrigação. Os governos de agora têm um instrumental muito maior. Dá para dizer que ele era muito intuitivo. Não empregou parentes no governo e não tinha amigos no Paraná. Não se considerava uma “excelência”. Para todo o mundo era “Seu Ribas”. Não concedia prebendas ou benefícios, era muito preocupado com a educação de crianças e jovens e tentou mudar a vida dos pobres com a criação de empregos.

Confira a trajetória do homem que mais tempo governou o estado

1873 – Em 8 de março nasce Manoel Ribas, filho do Comendador Augusto Lustoza de Andrade Ribas e de Maria Conceição Branco de Carvalho, em Ponta Grossa.

1894 – Em 21 de janeiro casa com Zelinda Cândida da Fonseca, em Castro.

1897- Com o declínio econômico dos Campos Gerais, Manoel Ribas e sua esposa, vão morar em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Gustavo Valthier, cunhado de Ribas, havia convidado o futuro interventor e governador do Paraná para trabalhar na “Capital Ferroviária” gaúcha, junto com ele, a serviço de uma empresa belga no ramo de ferrovias.

1913 – Em 26 de outubro de 1913, é criada em Santa Maria a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul (Cooper), proposta por Manoel Ribas. Ele passa a ser o diretor comercial da cooperativa, que tinha o objetivo de fornecer produtos domésticos aos associados, fundar e manter instituições de ensino de artes e ofícios, além de construir farmácias e outros estabelecimentos de saúde para prestar serviços aos cooperados.

1928 – É eleito prefeito de Santa Maria e tem como foco de gestão realizar melhorias nas áreas de saneamento, educação e rodovias. Na época, Getúlio Vargas era o governador do Rio Grande do Sul.

1932 – Em 28 de janeiro, Manoel Ribas toma posse como governador interventor do Paraná, por determinação do presidente Getúlio Vargas.

1935 – É eleito governador pelo Congresso Legislativo (antigo nome da Assembleia Legislativa), para o período de 1935 a 1937.

1937 – Com o surgimento da ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas, permanece governando o estado como interventor até 1945.

1945 – Já com a saúde fragilizada, Manoel Ribas é exonerado em 3 de dezembro.

1946 – Em 28 de janeiro morre Manoel Ribas.

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