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Quilombolas comemoraram, ontem, a portaria do Incra | Mariana Rudek
Quilombolas comemoraram, ontem, a portaria do Incra| Foto: Mariana Rudek

Cooperação

Antes contestadora, cooperativa passou a ajudar a delimitar a área

A contestação judicial do reconhecimento das terras quilombolas da Invernada Paiol de Telha foi movida pela Cooperativa Agrária sob a alegação de que o Decreto 4887/03, que trata da titulação de territórios quilombolas, era inconstitucional. O julgamento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em 19 de dezembro de 2013, decidiu pela constitucionalidade do Decreto.

Sobre a atual colaboração da Agrária, o presidente da cooperativa, Jorge Karl, diz que a cooperação é resultado de um diálogo com o Incra e sua continuidade está sendo benéfica para ambas as partes, pois o tamanho da área foi delimitada em comum acordo.

Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário, Laudemir Müller, essa negociação é um exemplo importante para as demais lutas por reconhecimento de territórios tradicionais no Brasil. Porém, além de devolver as terras às comunidades, é preciso investir para que elas se desenvolvam.

O Instituto Nacional de Co­lo­nização e Reforma Agrária (Incra) assinou ontem a por­taria de reconhecimento do território da comunidade quilombola Invernada Paiol de Telha – Fundão, em Reserva do Iguaçu, a cerca de 100 km de Guarapuava, no Centro-Sul do Paraná. A comunidade é a primeira do estado a chegar a essa fase de titulação. A portaria reconhece e oficializa os limites do território quilombola, que terá 1,5 mil hectares.

As próximas etapas são a assinatura do decreto presidencial e a vistoria e avaliação das propriedades, hoje ocupadas pela Cooperativa Agrária e por produtores cooperados. Após a avaliação, serão ajuizadas ações de desapropriação e indenização, com a devolução do território aos quilombolas. Das 300 famílias que viviam no território desde 1860, apenas 30 resistem. Com a venda das terras para a Cooperativa Agrária, na década de 1970, elas se dispersaram em quatro núcleos: Pinhão, Guarapuava, Assentamento e Barranco.

Ana Maria Santos da Cruz, moradora do núcleo Assen­tamento e liderança da comunidade, conta que a resistência e luta pela terra herdada dura mais de 40 anos e o processo de titulação da área tramita desde 2005 no Incra. "Nós do Paiol de Telha sabíamos que éramos ‘herdeiros do Fundão’, ‘herdeiros de Dona Bambina’, mas não sabíamos o significado da palavra quilombola. Esse reconhecimento e a reconquista das nossas terras é o início da retomada do Paiol de Telhas, é o início do nosso território."

De acordo com Carlos Má­rio Guedes de Guedes, presidente do Incra, o desfecho é um exemplo de cooperação pacífica entre a Cooperativa Agrária e a comunidade quilombola. "A assinatura dessa portaria é fruto de um relatório técnico de identificação elaborado em 2009 e que teve questionamento judicial. O laudo antropológico identificou uma área originária de aproximadamente três mil hectares, e nós estamos delimitando para a regularização fundiária cerca de 1,5 mil hectares, espaço acordado entre as partes, que nos possibilita iniciar o processo de regularização fundiária da comunidade Paiol de Telha", explica.

A área demarcada compreende terrenos de coopera­dos ou da própria cooperativa, ocupados por pequenos e médios produtores de cereais: cevada, trigo e aveia no inverno; soja e milho no verão. Presidente da Cooperativa Agrária, Jorge Karl diz que o processo vai ocorrer no tempo determinado pelo Incra. "Após a avaliação dos preços das propriedades, das contestações, se for o caso, e das respectivas indenizações, será feita a transição dos imóveis para a comunidade, mas sempre numa linha de diálogo, de respeito e de colaboração mútua."

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