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São poucas as chances de o surfista paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte, de 42 anos, escapar do fuzilamento na Indonésia. Ele está isolado à espera da execução, que poderá ocorrer a partir da noite desta terça-feira (28), junto com outros sete estrangeiros condenados à morte por tráfico de drogas. O advogado dele tentaria reverter a situação com mais um recurso apresentado na segunda-feira (27) . Mas o governo indonésio já rejeitou nove pedidos de clemência feitos pelo governo brasileiro desde 2005 e há um mês ignorou dois laudos médicos atestando que Gularte sofre de esquizofrenia, doença que o livraria da execução.

Delírios

O advogado Ricky Gunawan assumiu o caso de Rodrigo Gularte em março e disse à imprensa brasileira que no domingo (26) ele rejeitou fazer seus três últimos pedidos. Alternando lucidez com delírios, teria dito acreditar que sua execução não será realizada porque “houve uma conferência internacional de procuradores e a pena de morte foi abolida”.

Veja a lista dos outros sete estrangeiros que foram avisados de que serão fuzilados na Indonésia

Myuran Sukumaran, australiano, 34 anos: Líder de uma rede de traficantes chamada “Os nove de Bali”, foi preso em 2005 durante uma entrega de heroína da ilha de Bali para a Austrália.

Andrew Chan, australiano, 31 anos: Também era integrante da “Os nove de Bali”. Preso em 2005, foi ordenado pastor em fevereiro.

Mary Jane Veloso, filipina, 30 anos: Empregada doméstica presa em 2009 com 2,6 kg de heroína. Mãe solteira, alega ter sido enganada.

Sylvester Obiekwe Nwolise, nigeriano, 49 anos: Preso em 2002 com 1,18 kg de heroína.

Okwudili Oyatanze, nigeriano, 45 anos: Preso em 2002 e condenado por tráfico de heroína.

Raheem Agbaje Salami, nigeriano, 42 anos: Preso em 1998 com 5 kg de heroína no aeroporto de Surubaya.

Martin Anderson, nigeriano, 50 anos: condenado em 2003 por tráfico de drogas.

Representante do Ministério das Relações Exteriores, Leonardo Carvalho Monteiro estava com Gularte quando ele foi informado da execução no sábado (25), no presídio da Ilha de Cilacap. Pelas leis indonésias, o condenado deve ser avisado com 72 horas de antecedência e, transcorrido esse prazo, pode ser executado a qualquer momento. Portanto, embora a data e o horário não tenham sido divulgados, Gularte poderá ser fuzilado ainda nesta terça-feira (28). O governo brasileiro disse que manterá os esforços diplomáticos para evitar o fuzilamento.

Apesar das chances cada vez mais reduzidas, a família ainda tem esperança de livrar Gularte da pena de morte. “Vamos lutar até o fim”, disse a prima dele, Lisiane Gularte de Carvalho. A mãe do condenado, Clarice Muxfeldt, não está em condições de viajar para a Indonésia. Ela mora em Matinhos, litoral do Paraná, onde está sob medicação e amparada por familiares. Outra prima de Goularte, Angelita Muxfeldt, está na Indonésia e o tem visitado na prisão de Nusakambangan, a 400 km da capital Jacarta, onde ele é mantido preso e as sentenças de morte costumam ser cumpridas.

A família se apega às leis do país. Pelo Código Penal da Indonésia, pessoas com doenças mentais não podem ser responsabilizadas por seus atos. O recurso desta segunda-feira (27) seria para reforçar a condição de esquizofrênico. No ano passado, a embaixada brasileira requereu a internação de Goularte num hospital psiquiátrico baseada em um diagnóstico de psicose paranoica. O governo indonésio encomendou sua própria avaliação médica e no laudo o psiquiatra H. Soewadi recomendou a internação. “Infelizmente os laudos nem foram considerados”, diz Lisiane.

Rodrigo Gularte foi preso em 2004 ao tentar entrar na Indonésia com 6 quilos de cocaína em pranchas de surfe e condenado à morte em 2005. Em janeiro, o carioca Marco Archer Cardoso Moreira foi fuzilado após ser condenado à morte por tráfico de drogas. O presidente indonésio Joko Widodo rejeitou o pedido de clemência da presidente Dilma Roussef em favor de Archer. O fuzilamento gerou uma crise diplomática entre o país asiático e o Brasil.

Do surf às drogas, uma guinada para o tráfico

Filho de uma família de classe média alta, Rodrigo Muxfeldt Gularte nasceu em Foz do Iguaçu (PR) em 31 de maio de 1972. O pai, o médico gaúcho Rubens Borges Gularte, hoje vive na pequena cidade de Imbuia, no Vale do Itajaí (SC). A mãe, Clarisse Muxfeldt, é herdeira de uma família de produtores de soja.

Aos 9 anos, Rodrigo se mudou com a família para Curitiba, onde adorava andar de skate na Praça da Ucrânia, no Bigorrilho. Estudou na Escola Nossa Senhora de Sion e no Positivo. Passou parte da infância e da adolescência entre a casa de praia dos pais no litoral do Paraná e a fazenda da família no Paraguai. Preferia a Praia Brava, em Caiobá, onde aprendeu a surfar ainda pequeno.

A rotina de Rodrigo começou aos 13 anos, com os primeiros contatos com maconha, e pioraram com o divórcio dos pais. Aos 16 anos foi submetido ao primeiro tratamento contra a dependência química.

Logo que completou 18 anos ganhou um carro da mãe e provocou um acidente de trânsito em Curitiba quando estaria sob efeito de álcool. Nessa época fez novo tratamento por uso de drogas. Depois desse episódio, fez uma viagem com amigos pela América Latina. Mais tarde, conheceu os Estados Unidos e a Europa.

Duas vezes tentou abrir um negócio próprio com ajuda da mãe, sem sucesso. Primeiro uma creperia em Curitiba, depois um restaurante em Florianópolis (SC), onde morou por cinco anos até ser preso na Indonésia. Tentou três cursos superiores, não concluiu nenhum. O último deles, Letras na Universidade Federal de Santa Catarina, o fez se fixar em Florianópolis.

Surfista, alto e boa pinta, na capital catarinense se envolveu com a professora Maria do Rocio Pereira, 13 anos mais velha, e com ela teve um filho. Jimmy Haniel Pereira Gularte hoje com 21 anos, é autista. À imprensa catarinense, Maria afirmou que logo após o nascimento Rodrigo disse não ter condições de assumi-lo. Depois da prisão, não tiveram mais contato.

A família reconhece que Rodrigo errou no caso da cocaína nas pranchas de surf, mas diz que ele nunca foi um traficante, antes um jovem cooptado pelo tráfico que fez a viagem para sustentar o próprio vício. (MK)

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