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A cada quatro horas uma pessoa é assassinada no Paraná. Foram 1.848 homicídios entre janeiro e setembro deste ano no estado, segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública . Curitiba registrou um aumento 15% neste período se comparado a janeiro a setembro de 2013. Embora assustadores, os dados não são novidade, mas os motivos desses crimes, quase sempre relacionados ao tráfico e ao uso de drogas, têm elementos muito mais profundos que não são explicados apenas pela ineficiência policial.

INFOGRÁFICO: confira uma análise em diagrama sobre os fatores que influenciam na criminalidade

Violência é consequência de múltiplos fatores. Por isso, a reportagem preparou um gráfico para mostrar a necessidade de tanto o estado quanto a sociedade civil estarem integrados para criar um ambiente seguro e propício ao desenvolvimento.

O diagrama abaixo foi feito pelo ex-coordenador de pesquisas da Secretaria Nacional de Segurança Pública, pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, Marcelo Ottoni. O diretor de assuntos institucionais da Associação de Defesa dos Direitos Policiais Militares Ativos e Inativos (Amai), coronel Marcos Wosny Borba, também colaborou.

A partir do desenho é possível ver os obstáculos à segurança pública por meio de sete teorias (raízes) criminológicas e parte das diversas variáveis que as compõem.

Análise

"Quanto mais alto o posto do policial, mais ele esquece dessas questões"

O doutor em Sociologia e pesquisador sobre Segurança Pública da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, Marcelo Ottoni, coloca em xeque a atuação dos gestores da área atualmente. Na avaliação dele, os policiais que estão na ponta, nas ruas, têm mais consciência da necessidade de ações integradas com todos os setores da sociedade do que os administradores que ocupam altos cargos na área.

"Quanto mais alto o posto do policial, mais ele esquece dessas questões", afirmou. O motivo, segundo ele, é que, ao mostrar o problema de forma ampla, o gestor corre o risco de perder recurso e poder. Como a segurança pública é consequência de uma série de fatores não policiais, como educação precária e falta de emprego, um administrador público assume a responsabilidade sozinho. Assim, a prioridade permanece na sua área, com mais recursos.

Repensar cultura

Na opinião de Ottoni, é preciso também repensar a cultura da sociedade moderna e iniciar uma reforma sobre como trazer mais dignidade para a população. "Por exemplo, Bolsa Família dá dinheiro, mas produz dignidade?", refletiu.

Ele prefere não entrar no mérito sobre o programa, mas exemplifica a necessidade de incluir novos processos. "Tem de qualificar, produzir oportunidades, envolver ações que mudem valores. Distribuir dinheiro não é solução [nesse sentido]", comentou.

De acordo com o pesquisador, ter um exemplo é fundamental. Se a família não tem tido condições de assumir o processo ético e moral das crianças, a escola deveria assumir. "Mas isso não acontece. Por isso, é preciso mudar. Tudo isso influencia lá na ponta [segurança pública]", explicou.

O sociólogo ressalta ainda que o papel das pessoas dentro da sociedade precisa ser reformulado. Ele acredita que a população tem de ser mais atuante. "Tenho feito pesquisas com presos e um deles me perguntou: ‘sabe por que as paredes do presídio são altas? Para a sociedade nos esquecer’". Para Ottoni, polícia deveria ser o último agente. Caso, família, escola, sociedade não dessem conta, os policiais estariam ali para conter o problema.

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