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Voluntárias do Instituto História Viva visitam a Santa Casa para contar histórias e alegrar os pacientes. | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Voluntárias do Instituto História Viva visitam a Santa Casa para contar histórias e alegrar os pacientes.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Para tudo há um jeito na vida. Até mesmo para se contar uma boa história para quem precisa de um pouco de emoção, atenção e dedicação ao passar por um momento difícil. Foi com esse pensamento que a empreendedora social Roseli Bassi fundou o Instituto História Viva, em 7 de novembro de 2005, em Curitiba. A organização, sem fins lucrativos, treina e forma voluntários para atuar contando histórias para pessoas que estão em situação frágil, como em hospitais.

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Perfil

Não há um perfil ou pré-requisito para ser um voluntário como se poderia supor. Roseli explica que a voluntária mais nova tem 12 anos e a mais idosa tem 83. “Não exigimos nada de quem deseja ser voluntário. Todos os perfis são respeitados. Pode ser uma pessoa mais tímida, mais extrovertida. A única coisa que, caso a pessoa não tenha e vai precisar desenvolver é o hábito da leitura”, explica Roseli.

Serviço

Para quem deseja ser voluntário, é preciso se inscrever através do site do História Viva. São abertas, em média, três turmas de voluntariado por ano. A terceira e última turma está prevista para iniciar no mês de agosto, para atuar em hospitais a partir de outubro. Há uma taxa de R$ 160,00, que inclui a compra do jaleco e o coffe break. Caso a pessoa não consiga arcar com o valor, há possibilidade de bolsa também.

http://www.historiaviva.org.br/

Projetos

Os voluntários formados podem escolher entre três projetos para abraçar após a formatura. Contar histórias a idosos, crianças e adultos internados é apenas um deles. Conheça eles clicando aqui.

14 mil pessoas

São atendidas em média por ano pelos projetos do Instituto História Viva. Mais de 1.500 voluntários já se formaram como voluntários. Hoje, são 250 que ainda exercem o trabalho de voluntariado.

“Coloquei um anúncio na Gazeta do Povo com a frase ‘Seja um voluntário e conte histórias’, vendo se eu conseguia reunir uma meia dúzia de pessoas para o projeto”, lembra Roseli. E, como em toda boa história que se preze, havia uma surpresa no meio do caminho: 120 pessoas atenderam ao chamado. “Acredito que elas compartilhavam do mesmo sonho: transformar ambientes de dor e sofrimento, através da leitura, levando cultura, educação, diversão e entretenimento, mas principalmente, com o objetivo de formar leitores”, diz.

A professora Eliana de Fátima e Silveira Viera, de 47 anos, foi uma das que atendeu ao anúncio de Roseli. Participou do início e hoje ministra um módulo do treinamento. “Li o chamado da Roseli e como já tinha essa vontade e esse encanto pela ficção, aprendi a usar a história até mesmo em sala de aula, para despertar o interesse dos meus alunos para matemática e física. Mas a maior conquista é quando você chega aqui acreditando que vai dar algo pra alguém, mas na verdade você acaba recebendo.”

Foi a partir daí que o Instituto História Viva começou a ganhar forma e a escrever seu próprio roteiro com seus protagonistas, voluntários que dedicam uma parte do seu tempo a aprender como ser um bom contador de histórias. “A ideia do treinamento veio da necessidade do preparo para se lidar com pessoas em situações frágeis. É um preparo, uma orientação, dá uma segurança maior ao voluntário. Ele aprende que precisa ter comprometimento, responsabilidade para abraçar uma causa”, detalha Roseli.

A paixão de Roseli pelas histórias surgiu quando era menina. “Minha mãe era costureira e, enquanto ela trabalhava, eu ficava do lado, brincando com rendas, tecidos, botões, e ouvindo as histórias delas de Minas Gerais.”

Preparação para ser voluntário é feita em etapas

Tornar-se um voluntário do História Viva exige comprometimento e dedicação. A instrução vem através de diversos módulos do treinamento ministrado pelo instituto. O treinamento se divide em etapas, a começar pela conscientização sobre ser voluntário, com vídeos e palestras sobre como funciona a contação de histórias para pessoas internadas em hospitais. Tem ainda a contextualização do trabalho voluntário no Brasil e suas responsabilidades, capacitação técnica, oficina de valores humanos, integração e desinibição, como abordar e contar histórias a uma pessoa estranha.

Há ainda técnicas de ouvir e contar enredos, jornada do herói e toda uma pedagogia e bibliografia específica. Os voluntários também aprendem sobre ambientação hospitalar, cuidados de higiene, e respeito às regras e equipe do hospital. Ao final do treinamento, eles apresentam uma banca de contação de história para veteranos e apresentação um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

“É um plano de ação em que eles provam para a gente como eles se veem como voluntário daqui a seis meses, um ano e cinco anos. Uma visão de futuro para que eles possam projetar uma visão mais comprometida com o trabalho de voluntariado”, diz Roseli. Após a formatura, há um período de estágio no qual o voluntário doa o seu tempo visitando e contando histórias a crianças, adultos e idosos internados em hospitais.

Alegria e esperança

O grupo veterano de contadores de histórias se prepara mais uma vez para entrar em cena. Assim como diz a empreendedora social Roseli Bassi, há pessoas de todos os tipos na equipe: desde as mais extrovertidas, vestidas de forma colorida e exuberante, até mais tímidas, que apenas acompanham ou fazem a leitura de um livro para os pacientes internados na Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Quando a turma passava pelos corredores, olhares curiosos se espichavam para fora das portas. Os acompanhantes saiam para “especular” quem seriam aquelas pessoas – tão diferentes e destoantes do ambiente cinza e pesado de um hospital.

Na primeira enfermaria, as mulheres dominavam o ambiente. Assim que os voluntários entram, elas começam a se ajeitar nas camas. Ao saberem que haveria fotos para a Gazeta do Povo, corre daqui e corre de lá: elas ajeitam o cabelo e abrem um largo sorriso ao saberem que vão ouvir histórias e, de quebra, poderão aparecer no jornal.

A voluntária Maria Luiza Stasiak participa há três anos do grupo que conta histórias na Santa Casa. Ela diz que há um cuidado especial na escolha dos enredos: eles precisam ser sempre alegres e deixar uma mensagem para reflexão e levar motivação, esperança e alegria para os pacientes. Piadas, para descontrair e preparar o ambiente, também são permitidas.

Ao final das primeiras frases da história escolhida para o dia, a expressão dos pacientes transformou-se da água para o vinho. O ambiente de tensão ficou para trás – pelo menos por alguns minutos. Elas riram, se divertiram, e pararam de pensar no que tanto as atormentava. “É como se a gente estivesse lá embaixo, sem esperança, sem vontade de lutar, e elas trouxessem a gente de volta”, disse a empregada doméstica Lourdes da Luz Ferreira resumindo um sentimento compartilhado pelas demais pacientes da enfermaria.

O geriatra da Santa Casa de Curitiba e professor da PUCPR, Jose Mario Tupina Machado, explica que os pacientes em regime de internamento hospitalar estão, em diferentes graus, fragilizados física e emocionalmente. “Ações que se somam as condutas terapêuticas clássicas realizadas pelos profissionais de saúde fazem com que os pacientes se sintam valorizados enquanto pessoas e contribuem para a reabilitação e cura”, explica.

“A visita dos contadores de história estimula a dimensão psicoafetiva, intelecual, espiritual e tantas outras, que muitas vezes são pouco lembradas e exploradas durante um tratamento intra-hospitalar. Intervenções como esta são bem-vindas, pois impactam positivamente na recuperação do bem-estar dos pacientes.”

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