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São Paulo – Ao quebrar ontem o silêncio desde a morte dos pais, Andreas von Richthofen não titubeou em apresentar a irmã, Suzane Von Richthofen, como uma garota calculista, que o chantageou emocionalmente para ter direito à herança da família e que tentou manipulá-lo mesmo de dentro da cadeia. Ele não afirmou que a irmã foi a principal culpada no assassinato cruel de seus pais Manfred e Marisia von Richthofen, mas deu indícios nesse sentido.

Firme num depoimento de mais de três horas, Andreas disse que não acredita no arrependimento da irmã, não crê que ela seria capaz de abrir mão dos bens dos Richthofen em seu favor e num desabafo espontâneo foi ainda mais direto: "Se ela me amasse, não teria feito tudo aquilo (morte dos pais)".

Depois de pedir para que a irmã e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos deixassem o plenário para que então pudesse depor na condição de informante, Andreas afirmou que, embora tenha fumado maconha pela primeira vez, aos 14 anos, na companhia de Cristian – um dos réus –, volta e meia ele fazia uso da droga ao lado da irmã, inclusive na tarde de 31 de outubro de 2002, horas antes de os seus pais serem assassinados num plano arquitetado por Suzane.

Andreas não escondeu que chegou ao Fórum da Barra Funda, onde ocorre o julgamento, com o firme propósito de desmontar a defesa da irmã, que apontou o ex-namorado Daniel Cravinhos como o mentor do crime. Agora com 18 anos, Andreas, com cabelos desalinhados sobre o ombro e barba por fazer, está distante da imagem do pré-adolescente da época do crime.

A cada minuto, ele dava a entender que Suzane teria se aproveitado de sua pouca maturidade para tentar manipulá-lo. Nesse instante, lembrou do bilhete que escreveu para a irmã na época em que ela estava presa. Nele, Andreas diz que estava com saudades de Suzane, que era contra a proibição de um tio para visitá-la e que não concordava sequer com a ação que a excluía da divisão de bens. Segundo ele, Suzane queria receber pensão de sete salários mínimos.

Convocado pela Promotoria Criminal, Andreas descreveu as tentativas de Suzane de impedir o bom andamento do processo que o tornará herdeiro único do patrimônio de R$ 2 milhões da família Richthofen. Segundo ele, numa manobra jurídica, Suzane conseguiu que a perícia tivesse que fotografar todos os bens da família, de televisores a talhares, por exemplo. "Ela fez tudo isso só para o inventário não andar."

Andreas rasgou elogios à educação dada pelos pais. Disse que Manfred era um pai "mão aberta", enquanto Marísia era rígida quanto à disciplina. Segundo ele, os pais pouco discutiam e uma única vez ele presenciou Suzane tomando um tapa do pai depois de uma briga.

Irritado com as ironias do advogado de Suzane, Andreas reagiu no mesmo tom às indagações da defesa. Indagado sobre uma arma que havia sido escondida dentro de um urso de pelúcia, Andreas explicou que guardou e enterrou o revólver no quintal de casa a pedido de Suzane, já presa. O tio dele descobriu a arma e entregou aos promotores. Indagado sobre quem contou ao tio a respeito da localização da arma, disparou: "Um passarinho verde."

O clima ficou tenso quando Andreas foi pressionado pelo advogado Mauro Nacif a explicar porque Suzane teria interesse em ficar com a herança. "Para pagar os senhores", respondeu o garoto, arrancando risos da platéia. De novo interrogado sobre a conduta do pai, Andreas disparou: "Meu pai era muito mais digno do que muita gente que está aqui."

Sobre a noite do crime, o garoto confirmou que Suzane e Daniel o deixaram num cybercafé, onde ficou por volta de quatro horas. Ao ser pego pelos dois, não percebeu nada de estranho no trajeto entre o cyber e sua casa. Ao entrar, ele disse ter percebido que algumas coisas haviam sido reviradas e que Suzane disse que ligaria para Daniel e em seguida para a polícia. "O Daniel foi o primeiro a chegar em casa, antes mesmo da polícia."

Andreas também desmentiu a tese de que ele e Suzane teriam sido molestados pelo pai, Manfred, quando eram pequenos. "Isso é uma mentira."

O advogado Mauro Nacif, que defende Suzane von Richthofen, disse que o fato de Andreas ter dito que não confiava na irmã, durante seu depoimento, foi ruim. Segundo ele, as palavras de Andreas contra a irmã atrapalham em "8%" a defesa, mas ele vai contornar.

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