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Estímulo

Políticas ambientais têm impacto positivo nas indústrias

Empresários concordam que estimular políticas ambientais na produção de bens industriais traz benefícios não só ao meio ambiente, mas também aos lucros da própria empresa. A vice-presidente de Sustentabilidade do Walmart Brasil, Daniela de Fiori, afirma que as 29 empresas participantes do projeto representam 21% das vendas da rede no país. Os produtos que integram o programa tiveram um aumento de 43% nas vendas.

As práticas ambientalmente corretas também podem gerar economia para as empresas, já que irão gastar menos insumos como combustível, energia e água. Segundo Marcelo Hengeltraub, gerente de negócios da área de limpeza doméstica da 3M, os programas são bons para todos os lados. "Reduzimos o desperdício e consequentemente temos um ganho financeiro", afirma.

O gerente de sustentabilidade da Itambé, Maurício Petenusso, afirma que os ganhos com os projetos não se pode mensurar financeiramente. "Com dois projetos, conseguimos uma economia de R$ 1,5 milhão por ano, descontado o investimento. Isso é produto de uma evolução da gestão para a sustentabilidade. É pensar no produto antes, durante e depois da fabricação", salienta.

Entrevista

Descobrimos uma forma inédita de reciclar aerossóis de aço

Mauro Ramos, presidente nacional da SC Johnson

A empresa SC Johnson, com sede nos Estados Unidos e quatro unidades no Brasil, produz aromatizadores de ambiente. Recentemente ela passou por um processo de mudança em sua linha de produção, buscando a sustentabilidade:

Quanto tempo levou para mudar a linha de produção?

A mudança não foi especificamente na linha de produção. Ela foi feita em toda a cadeia produtiva, desde o fornecimento do insumo, na fórmula do produto, até o consumidor final e o pós-consumo, com um programa piloto de reciclagem. Nós começamos a trabalhar no projeto em julho de 2012 e começamos a implementá-lo no segundo semestre de 2013.

Quais foram as principais mudanças realizadas?

Mudamos os fornecedores – de propelente, fragrâncias, matéria-prima e tampas – e a fórmula do produto, que agora contém 30% menos gás [recurso não renovável] em relação à sua fórmula anterior. Descobrimos uma forma inédita de reciclar aerossóis de aço, separando cada componente de forma segura e controlada, para assim poder reinserir os materiais reutilizáveis na cadeia produtiva.

Quais as melhorias apresentadas?

Um exemplo é que mudamos um fornecedor que ficava a 5 mil quilômetros de distância da fábrica para outro, que está a 2 mil quilômetros. Esta, entre outras mudanças, representou uma redução de 61.340 quilômetros rodados e uma redução total de 3.975 litros no consumo de óleo diesel. Também observamos uma redução total de 7.200 quilos de resíduos sólidos pós-consumo enviados para aterros sanitários.

Programas da indústria e do varejo têm monitorado as cadeias de produção para aumentar a oferta de produtos sustentáveis nas gôndolas dos mercados. Essa é uma tendência que toma conta de diversos ramos empresariais: do molho de tomate aos produtos de higiene pessoal. Algumas conquistas, como a redução de emissão de poluentes e do consumo de água, já fazem parte da realidade de dezenas indústrias no Brasil.

INFOGRÁFICO: Veja exemplos de mudanças na cadeia produtiva

Um exemplo são as mudanças na cadeia de produção de um molho de tomate, que foram realizadas em todas as fases. Os tomates passaram a ser carregados em caminhões com maior capacidade, reduzindo emissões de gás carbônico (CO2) na atmosfera. Na fábrica, melhorias na produção das embalagens reduziram o consumo de material. As caldeiras e os motores foram aprimorados para uma maior eficiência energética. A palha e o sabugo de milho passaram a ser usados como biomassa. Antes era utilizado cavaco de madeira.

Na fase final, os resíduos que iam para aterro passaram a ser enviados para a compostagem. "Não existe outro caminho que não seja o da produção sustentável", afirma o consultor de sustentabilidade da Cargill (empresa responsável pelo molho), Márcio Barela.

Ampliar essas mudanças na cadeia produtiva a outros produtos pode levar a resultados ambientais consideráveis. Uma das experiências do gênero, por exemplo, é o Sustentabilidade de Ponta a Ponta, da rede Walmart, que entrou na semana passada na sua 3.ª edição. Ao todo, o projeto já tem parceria com 29 empresas, resultando em 41 produtos que tiveram a cadeia de produção alterada.

Apenas nesse projeto, as mudanças – que vão do transporte das mercadorias à indústria até a distribuição dos artigos aos mercados – resultaram na não geração de 1,3 mil toneladas de resíduos. Cerca de 4,3 mil toneladas de CO2 deixaram de ser emitidos e 290 mil litros de combustível foram economizados, além de 745 mil metros cúbicos de água que foram poupados, evitando o desperdício.

Consumo

Para o jornalista pós-graduado em gestão ambiental, André Trigueiro, a reformulação da maneira de se produzir vai ao encontro da exigência da população. "Temos um novo perfil de consumidor que quer praticar outra forma de consumo. Ser ecoeficiente é o caminho para o lucro no terceiro milênio", ressalta.

Segundo a pesquisadora do Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea) Eloisa Garcia, as mudanças na cadeia produtiva visando menor impacto no meio ambiente não acontecem "de uma hora para outra". "Exige esforço e pesquisa. Mas as indústrias estão caminhando gradativamente para serem mais sustentáveis."

Não adequação pode significar o fracasso

Para Alberto Adulis, gerente de Conteúdo e Metodologias do Instituto Akatu – organização não governamental que luta pelo consumo consciente –, as indústrias demoraram para perceber a necessidade de alterar a cadeia produtiva visando os cuidados com o meio ambiente. "Agora essas mudanças precisam ser feitas e levam tempo para colocá-las em prática", afirma.

Segundo Adulis, as indústrias que não se preocuparem com a ecoeficiência estarão fadadas ao fracasso. "A sociedade tem cobrado para que as empresas adotem medidas para não prejudicar a natureza. Quem não adotar essas práticas será passado para trás", ressalta.

Ele ainda salienta a necessidade de a própria sociedade rever a cultura do consumismo. "Será que o planeta dará conta de gerar outros recursos? As pessoas precisam analisar se realmente precisam daqueles bens que depois serão jogados novamente no meio ambiente", afirma.

*O repórter viajou para São Paulo a convite do Walmart.

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