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Qual a percepção que tem dos rios de Curitiba? E o que pode ser feito para melhorar a situação?

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Qual o tamanho do estrago que 16 anos de descaso podem causar aos rios de Curitiba? É o que o jornalista Eduardo Fenianos, conhecido como o Urbenauta, decidiu verificar. Em 1997, ele percorreu os rios que circundam a capital paranaense e, nas últimas semanas, refez o trajeto, com a expedição Navegando Curitiba. A conclusão é de que o cenário só piorou de lá para cá. O Urbenauta encontrou mais de 200 pontos de despejo irregular de esgoto e muitos locais em que a água está "morta".

"O que estava marrom na década de 90 agora está preto", resume. E não foi só na cor e no cheiro que a poluição foi percebida. Com o auxílio de um equipamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR), análises feitas na água apresentaram índices extremos de falta de oxigênio e de PH (potencial hidrogeônico), além dos aceitáveis para a existência de vida.

INFOGRÁFICO: Veja como foi a expedição Navegando Curitiba

Restou evidente a diminuição da fauna e da flora. Na expedição anterior, Fenianos encontrou bem mais diversidade de plantas e animais. Lugares em que paisagem era exuberante estão degradados. Em alguns pontos, a equipe levou mais tempo tirando lixo para que o bote pudesse passar do que exatamente navegando.

"Infelizmente, preciso pedir: esqueçam o Rio Belém. Há rios que podem ser salvos. Hoje as nascentes do Passaúna são parecidas com as imagens que vi no Atuba em 1997. Ou seja, é preciso fazer algo pelo Passaúna agora", diz. A equipe plantou sementes e mudas de árvores nativas nas margens com o objetivo de ajudar a recompor a mata ciliar.

Para Fenianos, a culpa pela degradação é compartilhada entre autoridades negligentes e a população que não faz a sua parte para evitar a poluição. "As pessoas precisam entender que rio não é canal de transporte para lixo. E que tudo o que é jogado, mesmo na rua, vai parar lá", diz. Ele vê muita diferença entre discurso e prática. "É muito marketing de ecologia e pouca ação efetiva. Com o dinheiro que já foi gasto em despoluição era para os rios estarem limpos", afirma.

"Cheiro ácido"

O Urbenauta diz acreditar que em vários pontos a tubulação da rede de esgoto se rompeu e os dejetos estão sendo levados diretamente para o rio. "A água é preta, o cheiro é ácido. Naveguei o Tietê e isso aqui não chega nem perto do que encontrei lá", comentou. E ainda acrescenta que a situação de Curitiba é, proporcionalmente, pior que a de São Paulo. "Aqui 100% dos rios estão poluídos. Em São Paulo tem pelo menos um [o rio Capivari] em que ainda é possível beber água", diz.

Aviso aos navegantes

O Urbenauta faz um alerta. Fazer o percurso exige preparo e envolve riscos. Pessoas que não tenham estrutura ou conhecimento não devem se aventurar. Para mais detalhes e fotos, consulte o site www.urbenauta.com.br.

E agora?

As informações coletadas devem se transformar em um relatório que será levado a autoridades, como o Ministério Público e as secretarias do Meio Ambiente. O objetivo é servir de referência para fiscalizações e também para que medidas sejam tomadas para melhorar as condições das águas fluviais de Curitiba. O percurso foi georrefenciado – marcado no GPS – e os dados serão enviados ao Corpo de Bombeiros, para que sejam usados em casos de salvamentos.

Novos limites

O território curitibano é definido pelo curso dos rios – 95% dos limites com outros municípios são traçados pelos leitos d'água, formando o atual mapa, que é datado de 1953. Como muitos rios foram modificados, o tamanho da cidade pode ser diferente das dimensões hoje conhecidas. Os dados recolhidos na expedição serão trabalhados pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e pelo Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

Cadê o rio?

A previsão inicial era de um percurso de 162 quilômetros, mas a expedição terminou com 142 quilômetros percorridos. Nos últimos anos, cerca de 20 quilômetros do Rio Iguaçu "sumiram" – curvas foram retificadas. Também desapareceu a mata ciliar naquele trecho. Foram encontradas outras situações de alterações intencionais em rios. Em um caso, um morador de Curitiba ganhou 500 metros de terreno ao aterrar um trecho do rio e passar a morar, tecnicamente, na cidade vizinha.

Ponto crítico

A expedição quase naufragou, literalmente. O bote virou, no dia 25 de junho, e o Urbenauta caiu na correnteza do Rio Barigui. Ele não se afogou porque foi salvo pelos bombeiros que acompanhavam o percurso. Em todos os anos em que se aventura Brasil afora, essa foi, nas palavras de Fenianos, a situação mais assustadora e perigosa que viveu. Os trabalhos foram interrompidos até que a chuva diminuísse, garantindo a segurança. Imagens e equipamentos foram perdidos no acidente.

Novo parque

Não foi só sujeira que o Urbenauta viu nos leitos e margens dos principais rios de Curitiba. Em pelo menos dois pontos – um no Iguaçu e outro no Barigui, ele identificou potencial turístico. Áreas que poderiam ser navegadas por amantes da natureza. Apesar de ter encontrado menos animais que na expedição anterior, Fenianos viu agora espécies que ainda não havia identificado. E sugere a criação de um parque das nascentes do Atuba. Já existe um semelhante, do Rio Belém.

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