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Produtores rurais com equipamento de proteção recolhem o BHC em Assaí, no Norte do estado | Divulgação/Emater
Produtores rurais com equipamento de proteção recolhem o BHC em Assaí, no Norte do estado| Foto: Divulgação/Emater

Entenda o caso:

Saiba mais sobre o composto químico BHC, cuja história remete ao século 19:

• O Hexaclorobenzeno ou Benzene Hexachloride, em inglês, de sigla BHC, é um composto químico criado em 1825. Durante a Segunda Guerra, foi muito usado para matar piolhos e pulgas. No Brasil, o produto foi aplicado para combater o bicho barbeiro, responsável pela doença de Chagas.

• Na lavoura, mata uma série de insetos. Mas era mais usado no cultivo do café, para acabar com os besouros negros. Chamado de pó de broca, foi distribuído gratuitamente pelo governo federal, que importou o produto dos Estados Unidos. O agrotóxico era aplicado sem nenhuma proteção e muitas vezes a pessoa ficava totalmente coberta pelo pó branco.

• Descobriu-se, porém, que o composto é cancerígeno e vai se acumulando na gordura interna e no fígado de homens e animais. Estudos indicam que os resíduos químicos podem não se decompor no solo, contaminando também as fontes de água. A intoxicação pelo composto provoca dores de cabeça, náuseas, vertigens, transpiração fria e convulsão.

• O BHC foi proibido no Brasil em 1985, depois que uma série de países no mundo, vários anos antes, baniram seu uso. Hoje integra a lista de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs).

• O produto não se decompõe no solo e contamina as águas subterrâneas. No homem e em outros mamíferos, o acúmulo do princípio ativo se dá no fígado e é altamente cancerígeno.

• Por concentrar boa parte da plantação de café no auge do ciclo, a estimativa de orgãos ambientais é de que uma porção considerável do produto armazenado esteja no Paraná.

  • Ivanir Pauly, técnico da Emater, entrega a certidão de recebimento a proprietários
  • Em Contenda, BHC é carregado para transporte até São Paulo, onde será incinerado

Mais de 1 milhão de quilos de um agrotóxico proibido, perigoso para a saúde humana e para o meio ambiente e que estava armazenado em mais de 2 mil propriedades rurais do Paraná, foi coletado e destruído. A quantidade recolhida é bem maior que a estimativa, que apontava a existência de 665 mil quilos do produto conhecido como BHC estocados, muitas vezes inadequadamente, desde 1985, quando foi banido.

O programa de recolhimento adotado pelo Paraná é considerado pioneiro – já está sendo copiado por São Paulo e deve ser "exportado" para outros países. A iniciativa começou a ser executada em 2009, a partir da criação de uma lei e do cadastramento de agricultores que declararam ter produtos proibidos. A etapa do recolhimento demorou e só foi concluída em maio de 2013. No meio do processo de coleta, os organizadores souberam de casos de proprietários rurais que não se cadastraram e decidiram dar uma nova chance. O prazo para a autodeclaração começou em fevereiro de 2013 e termina no dia 15 de agosto.

Nessa nova fase, 65 agricultores afirmaram ter mais 275 mil quilos de agrotóxicos – que devem começar a ser recolhidos até o final do ano. Depois da data-limite para o cadastramento, quem mantiver agrotóxicos proibidos na propriedade está sujeito à autuação por fiscais. Além de multa, o agricultor pode responder a processo por crime ambiental, se for considerado que houve má fé. Quem não aproveitar a oportunidade da estrutura pública oferecida para facilitar a coleta, ainda terá de arcar com os gastos para dar destinação correta ao produto.

Quem se cadastra, recebe equipamentos de segurança para fazer o acondicionamento do agrotóxico e licença ambiental para transportá-lo até um ponto de coleta. Quando a quantidade é superior a dois mil quilos, uma empresa especializada vai buscar o produto na propriedade, conta o engenheiro agrônomo Udo Bublitz, responsável pelo programa no Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). O agrotóxico é levado para usinas autorizadas, em São Paulo, e incinerado. As cinzas inertes são depositadas num aterro químico. O investimento até agora foi de R$ 9 milhões.

Rui Müller, coordenador estadual do programa de recolhimento, destaca que o BHC é cancerígeno e altamente persistente na natureza. Ele conta que várias análises apontaram a presença do produto em leito de rios. Do total de 1,2 milhão de quilos recolhidos, 85% eram de BHC e o restante de outros agrotóxicos proibidos.

O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev) auxilia no programa e paga a metade das despesas. Para João Cesar Rando, diretor-presidente da Inpev, a união de forças entre poder público e iniciativa privada é um diferencial do programa. Ele destaca, ainda, que atualmente existem produtos alternativos menos danosos e mais eficientes para uso agrícola.

Três décadas entre proibição e recolhimento

Quase três décadas se passaram entre a proibição e o recolhimento do BHC. A demora causou danos. Muitas fazendas foram vendidas com veneno enterrado. Funcionários responsáveis por armazenar o produto – e que sabiam onde estava guardado – não mais trabalham nas propriedades. Apenas agricultores conscientes e precavidos puderam se adequar à lei sem causar riscos ao ambiente e à população.

Entre os agricultores que conseguiram se livrar do BHC está Sérgio Otaguiri, diretor da Cooperativa Integrada em Londrina. "Isso tudo é do tempo que o meu pai tocava a fazenda", comenta sobre os aproximadamente 120 quilos de agrotóxico que tinha guardado em uma tulha. "Para nós foi um alívio porque não tinha o que fazer", diz. Ele soube de histórias de produtores que, com medo de serem autuados pela posse do produto, enterraram o agrotóxico.

Para o agricultor londrinense Ernesto Bremer, o pro­blema era o agrotóxico Pa­ra­tion, também proibido. Ele vendeu o sítio e "herdou" o produto. Foi informado pela Emater que deveria levar os três tambores lacrados a um armazém. "Foi um alívio", resume. Até uma senhora, que tinha uns poucos quilos para combater pulgas e cupins num apartamento em Curitiba, ligou para a Emater para pedir a remoção do produto.

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