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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Os olhos de Erick Schwert Dourada, de 12 anos, expressam a concentração com a qual ele realiza as atividades, com lápis e papel em mãos. A sala de aula, no entanto, não fica em uma escola, mas em um hospital. Em seis anos, o menino enfrenta sua segunda batalha contra a leucemia. Nos períodos de tratamento no Hospital Erasto Gaertner, ele mantém a continuidade na escolarização por meio do Programa Educação Hospitalar, que só neste ano já atendeu mais de 2,2 mil alunos do 1.º ao 5.º ano, em Curitiba. Fascinado por ciências, o rapaz sonha em ser médico pediatra. “Eu gosto de ciências, para entender o funcionamento do corpo humano. Quero ser médico para fazer uma homenagem aos médicos daqui”, disse.

No estado

O governo do estado mantém o Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar (Sareh), com o mesmo obtivo de garantir a escolarização de jovens pacientes, em tratamento em hospitais conveniados. Neste ano, 6,2 mil alunos foram atendidos em 18 hospitais conveniados – localizado em Curitiba, região metropolitana, Ponta Grossa, Londrina, Maringá, Cascavel e Paranaguá. No total, 72 professores atuam no projeto.

A iniciativa é mantida pela prefeitura, por meio de convênio com os hospitais. Hoje, são 16 professores, divididos entre o Pequeno Príncipe, Hospital Clínicas (HC), Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia (APCN) e o próprio Erasto. Além disso, outros dois hospitais têm demanda para aderir ao convênio. O serviço vai muito além do aspecto lúdico, de ocupar o paciente. O objetivo é mesmo que as crianças não tenham perdas escolares no período em que estão internadas.

“A gente tem um compromisso pedagógico. Ou seja, enquanto está internada ou em tratamento, a criança recebe atendimento para que não haja perda significativa na aprendizagem”, apontou Viviane Maito, mestre em educação e coordenadora do programa da prefeitura de Curitiba. “A intenção é de que a criança volte para a escola de origem ‘dez’”, completou a professora Mirta Pacheco.

Por isso, antes de iniciar o atendimento escolar dentro dos hospitais, os professores entram em contato com a escola de origem de cada paciente e recebem indicações do conteúdo que vinha sendo dado em sala de aula. Por isso, as aulas no hospital são personalizadas, de acordo com a demanda de cada estudante.

Mini-escolas levam aulas para jovens pacientes de hospitais

Programa de educação hospitalar garante que crianças internadas ou em tratamento ambulatorial estudem nos hospitais, garantindo continuidade da escolarização e minimizando perdas pedagógicas.

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“Todas as atividades desenvolvidas pelas crianças vão compor um portfólio, que é encaminhado à escola, juntamente com um relatório pedagógico. Cabe à escola fazer a avaliação”, explicou Viviane.

Como funciona

A educação hospitalar atende dois tipos de pacientes: os que estão internados e os que estão passando por acompanhamento ou tratamento ambulatorial. Em alguns casos, as aulas são ministradas no quarto da criança. “Elas tomam banho e já ficam esperando no quarto. Em geral, as crianças gostam muito de ir para a escola. Então, a gente é muito bem recebido. Para a gente, é muito gratificante saber que você está fazendo a diferença pra eles neste momento”, definiu Mirta Pacheco.

Programa é único recurso de pacientes que moram em outras cidades

A vida de Débora Muniz Valério de Freitas, de nove anos, mudou completamente em abril, quando foi diagnosticada com leucemia. Ela teve que se mudar de Guanambi, na Bahia, para o Paraná, a fim de fazer o tratamento. Se não fosse o Programa de Escolarização Hospitalar, a menina fã da personagem Frozen, da Disney, não teria como estudar.

“Eu gosto de todas [as matérias], mas eu prefiro português”, disse a garotinha que quer ser advogada para trabalhar em parceria com a mãe, que é policial.

A iniciativa também tem sido determinante à escolarização de Erick Schwert Dourada. Todas as semanas, o menino tem que viajar de Porto Amazonas, onde mora com a família, até Curitiba, para continuar com o tratamento. Há seis anos, ele frequenta as aulas no Erasto Gaertner, em períodos em que precisa permanecer no hospital. “Eu acho isso muito importante. Além de não deixar as crianças paradas, eles estão sempre aprendendo. Isso é bom”, disse o pai do garoto, Pedro Dourada.

Ambiente

A sala de aula instalada no Erasto Gaertner parece a de uma escola comum: carteiras posicionadas de modo a formar um círculo, livros, um globo terrestre. As crianças dão de ombros à própria doença. Tornam o ambiente leve, entre lições e tarefas. Acabam criando um vínculo com os professores. Quando as ‘tias’ perguntam a Erick se está tudo bem, o menino responde bom humor. “Claro, eu sou bonitão”.

Apesar de gostarem das aulas, o sonho dos jovens pacientes é outro e relacionado à saúde. “Eu quero acabar logo o tratamento e voltar para a Bahia”, disse Débora. “Aqui não tem muito sol”, queixou-se, em seguida. “Meu sonho também é terminar [o tratamento] e voltar pra casa”, acrescentou Érick.

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