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Espaço localizado na rua Padre João Manuel, nos Jardins | Fabio Arantes/Prefeitura de São Paulo
Espaço localizado na rua Padre João Manuel, nos Jardins| Foto: Fabio Arantes/Prefeitura de São Paulo

Quase dois anos após a regulamentação dos parklets em São Paulo, os bairros nobres da capital paulista ainda são os mais favorecidos com a criação do novos espaços públicos, que funcionam, na prática, como minipraças. O mapa oficial mostra que a região da Avenida Paulista e os bairros de Pinheiros, Vila Madalena, Jardins e Itaim-Bibi são os que concentram o maior número de equipamentos. Na contramão, bairros da periferia receberam só três unidades, pagas pela prefeitura.

Cada parklet deve ter 10 metros de largura e oferecer bancos, paraciclos, lixeiras, guarda-sol e floreiras. O objetivo é atrair o pedestre para um descanso rápido, servir de ponto de encontro, local para fazer um lanche ou até uma reunião de negócios. Com estruturas móveis e temporárias, ocupam duas vagas de estacionamento para carros, em uma extensão da calçada.

Moradores vão aos parklets para ler, comer e descansar

Criados no estado americano da Califórnia e introduzidos no Brasil pelo Instituto Mobilidade Verde, os parklets são frequentados mais de uma vez na semana por pessoas que trabalham na vizinhança e querem descansar. É o que mostram pesquisas feitas pela ONG em São Paulo.

No espaço localizado no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua Padre João Manuel, o primeiro instalado na América Latina, a maioria dos usuários tem entre 19 e 40 anos de idade e aproveita o espaço para descansar. Outros usos relatados foram ler, comer, beber e encontrar amigos. Em média, estima-se que ao menos 300 pessoas passem pelo parklet por dia.

Para o presidente da ONG, Lincoln Paiva, o número de estruturas já instaladas e de pedidos protocolados na Prefeitura comprovam que a cidade carece de mais espaços públicos e a população os aprova. “Os parklets conversam com as pessoas, ajudam a urbanizar a cidade por meio da ocupação. É disso que precisamos em São Paulo”, diz.

A instalação das minipraças, segundo Paiva, é importante em bairros nobres, uma vez que os cafés disponíveis no centro expandido para as pessoas se sentarem são caros e nada convidativos para a classe mais baixa. “Do mesmo modo é importante observarmos o resultado dessas estruturas na periferia. Quanto mais opções para todos, melhor.”

O equipamento da Avenida Paulista, que é mantido pela administradora do Edifício Barão de Itatiaya, foi aberto em abril de 2014, com a presença do prefeito Fernando Haddad (PT). De lá para cá, parte de sua estrutura já foi trocada em função de atos de vandalismo. O espaço atual está sempre cheio de turistas, pessoas que trabalham na região e moradores da área.

Para a comerciante Dolores Peixoto, de 41 anos, o espaço é bastante convidativo para o descanso e tem outros benefícios. “É ótimo ter essa opção na cidade. Isso sem falar que tiramos duas vagas de carro das ruas. Viu como não faz falta?”

Desde abril de 2014, quando o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), regulamentou os parklets na cidade, a iniciativa privada viabilizou todos os 55 espaços existentes hoje na cidade, com exceção das três estruturas municipais instaladas em Itaquera, São Miguel Paulista e Sapopemba, bairros da periferia. De acordo com a secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, o número de “parklets privados” pode dobrar nos próximos meses, uma vez que 69 pedidos de instalação estão em processo de aprovação.

Custo

Unidades mais básicas custam, em média, R$ 30 mil e “funcionam” por até três anos - prazo que pode ser renovado em novo convênio. Já as mais elaboradas saem por até R$ 80 mil. Com patrocinadores de peso, como Ambev, Heineken, Brahma e Even, as minipraças existentes hoje ocupam, normalmente, a frente de restaurantes, bares e lojas de vias movimentadas, como a Rua dos Pinheiros, em Pinheiros, e a Alameda Lorena, nos Jardins.

Quem patrocina também é responsável pela manutenção do espaço e dos “extras” oferecidos. No parklet instalado na frente da padaria artesanal Pão, na Rua Bela Cintra, na região da Paulista, os usuários podem recarregar o celular em tomadas abastecidas com energia solar, levar para casa ervas cultivadas em uma horta montada no local e ainda dar água a seus cachorros.

“É um espaço confortável. A cidade precisa de mais alternativas como essa. A gente ainda explora muito mal os espaços públicos”, afirmou o publicitário Marcelo Zampini, de 38 anos, que usa diariamente o parklet. Na última quinta-feira (21), ele e o colega Daniel Kamagusuku, de 33 anos, tomavam café no local.

Para o gerente da padaria, Caio Reis, de 27 anos, a estrutura valorizou o comércio. “Foi muito bom para os clientes, que agora podem esperar sentados, mas a ordem aqui é não servir direto lá. Quem quer café tem de pedir no caixa”, afirma, referindo-se à regra que veta a privatização do espaço público.

Perto dali, na Rua Oscar Freire, o turista Lavoisier Monney, de 37 anos, elogiava os cinco parklets montados na via. “Faz 20 anos que me mudei daqui dos Jardins para Mato Grosso do Sul. Naquela época, não tinha nada parecido. É uma ideia muito boa essa. Os espaços são convidativos e democráticos. Estaria de pé esperando minha mulher sair da loja se não fossem esses bancos”, disse, ao lado de outras sete pessoas, entre idosos, adultos e crianças.

Formatos

Os parklets de São Paulo não têm projeto padronizado. Como eles contribuem para a qualificação da paisagem urbana e do percurso de quem caminha na cidade, o indicado, segundo o arquiteto Guilherme Ortenblad, é que tenham formas e usos distintos.

“É interessante que o mobiliário básico permita o conforto e o convívio dos usuários, usando bancos com encosto, por exemplo. É possível explorar outros layouts, como mesas coletivas, espreguiçadeiras, bebedouros, palcos para manifestações artísticas e até biblioteca colaborativa”, diz o criador do grupo Zoom Arquitetura, responsável pela criação de 45 dos 55 parklets já existentes na capital. A biblioteca funciona em uma das estruturas montadas na Rua Mateus Grou, em Pinheiros. Os usuários podem aproveitar a leitura no local ou mesmo levar livros e revistas para casa.

É o que faz a estagiária Isabella Mendonça, de 21 anos. “É muito bacana essa possibilidade de sair um pouco do trabalho, ver uma revista. A cidade toda deveria ter essa opção”, afirma.

A prefeitura de São Paulo afirma que pretende levar um parklet para cada uma das 32 subprefeituras. A instalação das estruturas está prevista para ser finalizada em setembro deste ano.

Padre faz abaixo-assinado contra parklet em Itaquera

A prefeitura de São Paulo nem bem começou a instalar os parklets municipais - cada subprefeitura da cidade receberá um - e parte da população já contesta os locais escolhidos. Em Itaquera, zona leste da capital paulista, a minipraça montada na frente do Largo da Matriz levou o padre Paulo Sérgio Bezerra, responsável pela Paróquia Nossa Senhora do Carmo, a elaborar um abaixo-assinado, pedindo sua remoção. O pároco argumenta que não foi consultado a respeito da instalação e os bancos permanecem vazios durante o dia.

“O largo não é um lugar de passagem. Há movimento grande de pedestres na rua de baixo, onde tem comércio. O conceito do parklet é bom, mas sem planejamento e diálogo com a comunidade não funciona”, diz o metalúrgico Ernesto Gonçalves, de 27 anos, frequentador da igreja. A subprefeitura de Itaquera informou que realizará um estudo para analisar a permanência da estrutura no local.

No bairro da Casa Verde, zona norte da cidade, a prefeitura resolveu instalar a minipraça na frente de duas escolas municipais, em via de mão dupla, com característica residencial. Os moradores temem que o parklet passe a ser ponto de encontro dos jovens no período noturno, o que atrapalharia o sossego. Além disso, o espaço pode provocar acidentes, pois está no meio da rua, sem proteção de carros estacionados nas laterais.

Na quarta-feira, a reportagem presenciou vários veículos, incluindo ônibus, avançando na pista contrária para ultrapassar o novo equipamento. “Isso aqui é muito perigoso. Ninguém aqui da rua está contente”, disse um morador que não quis se identificar. Segundo a prefeitura, a via foi escolhida por causa da creche e também porque recebe às sextas-feiras um ônibus-biblioteca para empréstimos de livros.

Quem trabalha em São Miguel Paulista, bairro da zona leste da cidade, está satisfeito com o espaço inaugurado na Rua José Otoni, na frente do calçadão comercial. “Achei legal instalar bancos para a gente sentar e descansar. Só espero que cuidem da manutenção”, disse a auxiliar de limpeza Izabel Cristina, de 48 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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