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Monumento Liberazione, em homenagem aos brasileiros, que fica nos arredores do Monte Castelo | Helton Costa/Arquivo pessoal
Monumento Liberazione, em homenagem aos brasileiros, que fica nos arredores do Monte Castelo| Foto: Helton Costa/Arquivo pessoal

Se no Brasil os pracinhas que atravessaram o Oceano Atlântico para combater na Segunda Guerra Mundial não raras vezes caem no esquecimento, a situação é diferente em território italiano. Em pleno país que foi inimigo das tropas brasileiras durante o conflito, pelo menos sete monumentos foram edificados em homenagem aos militares brasileiros que fizeram a “cobra fumar’ no Velho Continente.

O Brasil na guerra

O torpedeamento de navios brasileiros, em 1942, fez a população ir às ruas no Rio para pedir um posicionamento do presidente Getúlio Vargas, que mantinha neutralidade devido às relações comerciais com a Alemanha. Ele declarou guerra em agosto daquele ano. Dos 25 mil brasileiros que foram ao combate, 443 morreram e cerca de 3 mil se feriram. O Paraná contribuiu com 1.542 combatentes – 28 morreram. Além do torpedeamento, houve pressão dos EUA, que queriam uma base no Nordeste. Em troca de apoio, os americanos financiaram a instalação da Siderúrgica de Volta Redonda.

A pesquisadora Carmen Rigoni, que possui mestrado e doutorado com estudos sobre a Força Expedicionária Brasileira (FEB), explica que a partir de 1995 iniciou-se a construção de obras dedicadas aos brasileiros na Itália. “Os monumentos foram instituídos a partir das Comemorações Internacionais, que celebraram o cinquentenário do fim da guerra”, explica. A Segunda Guerra se estendeu de setembro de 1939 a agosto de 1945, com um saldo estimado de 55 milhões de mortos.

Monte Castello

Na opinião de Carmen Rigoni, o monumento Liberazione, situado em frente ao Monte Castello e de projeto original da artista Mary Vieira, é um dos mais imponentes. A obra mede 7 metros de altura e 14 de largura. Um dos arcos brancos, que aponta para a terra, simboliza a morte; o outro aponta para o céu, isto é, “para a transcendência que essas mortes significaram”.

Carmen explica que os monumentos ajudam a preservar a memória histórica coletiva para que a guerra não seja esquecida. “Os monumentos brasileiros construídos na Itália, que homenageiam os soldados da FEB, podem ser vistos e percebidos como os ‘lugares da memória’”, aponta.

Carros

O objetivo inicial dos brasileiros que participarão dos eventos na Itália era embarcar de 20 a 30 jipes da época do conflito para que eles rodassem nas estradas por onde circularam os motoristas da FEB. Os carros chegaram ser embarcados no Porto de Santos, porém tiveram de retornar por causa de problemas na documentação. Os organizadores atribuiram a responsabilidade a uma das patrocinadoras, que não teria cumprido com todas as suas obrigações. “Resolvemos o problema alugando veículos de colecionares de lá”, conta Marcos Renault, presidente da comissão organizadora.

A pesquisadora revela ainda que as homenagens partiram de sujeitos cujos laços de lembrança ainda estão ligados ao conflito e que dele fizeram parte, seja como combatente ou civil. “Essas celebrações estão voltadas no sentido de recordar e não deixar morrer as lembranças que lhes custaram tanta dor e sofrimento, momentos cruciais que marcaram para sempre suas vidas”, destaca.

Crescimento

Na década de 90, ocorreu um crescimento celebrativo em território italiano em relação à guerra. “A Itália vinha de um período conturbado, principalmente nos anos 1970, quando a máfia no sul do país provocou uma série de infortúnios pelo número expressivo de vítimas”, salienta Carmen.

Todos os monumentos brasileiros na Itália pertencem a esse período– exceto o monumento Votivo, de Pistoia, construído nos anos 1960, como extensão do cemitério militar já existente na localidade desde 1944.

Segundo a historiadora, a construção desses monumentos em solo italiano significa que o período de confrontos foi completamente superado. “Essa memória nos fala dos laços de solidariedade, de amizade e fraternidade entre a população italiana e os brasileiros”, afirma Carmen.

  • Monumento Votivo de Pistóia, que foi cemitério da guerra em 1944
  • Monumento Alla Libertá, em Montese, inaugurado em 14 de abril de 1995
  • Monumento Liberazione-, em Gaggio Montano, próximo ao Monte Castello, inaugurado em 21 de junho de 2001
  • Monumento a Max Wolff Filho, em Montese, inaugurado em 12 de abril de 2001
  • Monumento de Livergnano, inaugurado em 14 de abril de 2003
  • Também tem um oratório construído por soldados brasileiros em Stafolli, que era local de acampamento das tropas
  • Monumento de Vergato, inaugurado em 20 de junho de 1998. Na foto mais atual, a cruz foi removida e em seu lugar foi colocada uma cápsula vazia
  • Monumento Brasile, em Gaggio Montano. inaugurado em 11 de abril de 1995

Coluna da Vitória desembarca em solo italiano

Cerca de 200 brasileiros devem desembarcar em território italiano a partir da segunda quinzena de abril. A concentração se deve às comemorações dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, à qual o Brasil tomou parte com o envio de 25 mil soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB), da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Marinha. Quem participará do evento são descendentes de ex-combatentes, três ex-soldados da FEB, estudiosos do tema – entre eles a professora Carmen Rigoni – e pessoas interessadas na história do conflito, além de colecionadores de veículos e viaturas militares. Todos juntos formam a “Coluna Brasileira da Vitória”.

Homenagens

As homenagens aos brasileiros estão programadas para começar no dia 20 de abril na Embaixada Brasileira em Roma, com exposição de material da época e presença de autoridades civis e militares dos dois países. Já no dia 21, começa a passagem do grupo pelas cidades libertadas pelos brasileiros na primeira fase de operações no norte da Itália. Localidades como Camaiore, Massarosa, Lucca, Stafolli e Pistoia estão incluídas no roteiro. “Pistoia tem um significado muito forte para a gente e será muito bonito”, afirma o presidente da Comissão Organizadora e da Associação Brasileira de Preservadores de Viaturas Militares, Marcos Renault.

O cemitério daquela cidade abrigou até 1960 os corpos dos mais de 450 soldados brasileiros mortos em combate. Hoje, os restos mortais dos soldados descansam no “Monumento aos Mortos na Segunda Guerra Mundial”, no Rio de Janeiro, porém, o local onde era o cemitério brasileiro na Itália continua existindo com o nome de “Monumento Votivo”, administrado por Mário Pereira, filho de soldado brasileiro com uma italiana.

Outros pontos de parada incluem Monte Castelo, Porreta Terme, Gaggio Montano, Montese, Fornovo e Parma. O ponto máximo do evento será o encontro entre os brasileiros e a tradicional “Collonna della Libertá”, evento que relembra anualmente a libertação da Itália das mãos fascistas e alemãs. Isso deverá ocorrer em Cavirago, no dia 25 de abril, feriado nacional na Itália.

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